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28/09/2019 - 15:00 - 16:30
AL3 - GT Ampliando Linguagens - Inéditos Viáveis no Enfrentamento de Iniquidades e Violencias

29947 - A VISITA DA VACINA
NATÁLIA FAZZZIONI - UFRJ; FIOCRUZ


As fotos dessa exposição registram um dia na rotina de profissionais de saúde durante uma campanha de vacinação, no final de maio de 2017. Às vésperas do término da campanha de vacinação contra a gripe promovida pelo Ministério da Saúde, agentes comunitários de saúde e enfermeiros saem para vacinar os usuários que não podem chegar até a unidade básica de saúde. São, principalmente, idosos “domiciliados” ou “acamados”. No caso registrado nessas imagens, o local para onde os profissionais de saúde se dirigem, encontra-se no centro do Complexo do Alemão, conjunto de favelas na zona norte da Cidade do Rio de Janeiro, mais especificamente nas áreas conhecidas como Areal e Morro do Alemão.

O cotidiano no Complexo do Alemão é profundamente marcado pelo conflito armado entre policiais e traficantes, o que impede ou dificulta a realização de várias atividades da unidade de saúde, sobretudo aquelas desenvolvidas no território. A vacinação da gripe, no entanto, é encarada pelos profissionais como uma tarefa inadiável em suas rotinas,, independentemente da situação de violência. Ao longo do caminho entre as casas, a equipe é sempre confrontada por pessoas que perguntam se seu “remédio já chegou” ou se sua “equipe já recebeu um médico para atendê-los”. O ano de 2017 foi também desastroso na gestão pública, marcado pela falta de medicamentos e atrasos salariais.

Não é somente isso, no entanto, que estas imagens procuram mostrar. Busca-se evidenciar, através delas, a vida, transcorrendo em uma manhã de terça-feira no Complexo do Alemão. Nelas, vemos uma família acordando para a vacina que será aplicada na avó já com a saúde bastante debilitada, um galo canta do alto de uma laje, um marido se preocupa com a vacina da mulher adoentada, uma senhora é pega de surpresa usando toca de banho ao ser recebida pela equipe, meninos brincam na rua, os profissionais tiram uma “selfie” para registrar a visita, ganham um cafezinho de graça do dono da padaria e seguem até a última casa registrada para vacinação, já quase na hora do almoço.

A visita para vacinação torna-se assim um acontecimento que desvela elementos importantes do atual cenário da atenção básica à saúde em áreas de favela no Rio de Janeiro. A soma entre um serviço público de saúde sucateado e uma população vivendo em um cotidiano de extrema violência não poderia gerar resultados mais trágicos por um lado e histórias de vida marcadas por tanta resistência e resiliência, por outro. Ela nos revela ainda um encontro entre a “biopolítica” do estado de bem-estar social, fazendo viver os pacientes vacinados, à vida banalmente matável desta população, alvo do conflito armado e da violência urbana em diversos níveis, apontando para a existência de algo ainda mais perverso do que o deixar morrer, um verdadeiro “mundo de morte”, nos termos propostos por Achile Mbembe (2016), onde a “necropolítica” é a norma e a vida está dominada por seu poder.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

Campus I - Lot. Cidade Universitaria, João Pessoa - PB, 58051-900