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28/09/2019 - 15:00 - 16:30
AL3 - GT Ampliando Linguagens - Inéditos Viáveis no Enfrentamento de Iniquidades e Violencias

31104 - COREOGRAFIAS DE UM CORPO-QUE-TRABALHA-NA-MARÉ
THAIS MARA DIAS GOMES - UFBA, MONICA ANGELIM GOMES DE LIMA - UFBA


COREOGRAFIAS DE UM CORPO-QUE-TRABALHA-NA-MARÉ
Thais Mara Dias Gomes, UFBA
Monica Angelim Gomes de Lima, UFBA
A experiência na imersão de campo em comunidades pesqueiras da Bahia e Pernambuco, além das vivências corporais com pescadoras artesanais do Norte ao Sul do Brasil, já duram 12 anos. Um trabalho etnográfico que contrariou fronteiras geográficas, sem negar as particularidades regionais e locais. O presente trabalho resgata narrativas textuais e visuais do banco de dados produzidos ao longo desse tempo, privilegiando as fotografias realizadas há 5 anos. A autora se propõe a compreender, a partir da leitura imagética, o trabalho de pescadoras artesanais, os movimentos performados e sua interface com a saúde e o cuidado. Em cena, as pescadoras e a própria autora numa perspectiva compreensiva, buscando o que nem sempre é dizível e visível nas relações sociais. A construção de corpo adquirida nesse estudo retoma as sociedades tradicionais e comunitárias, onde a existência de cada um flui na presteza ao grupo, ao cosmo, à natureza. O corpo não se distingue da pessoa, não separando o homem do seu corpo nem da trama comunitária e cósmica em que ele está inserido (LE BRETON, 2007; BOURDIEU, 2006). Optou-se pela perspectiva fenomenológico-compreensiva e hermenêutica (RICOUER, 2000) como referencial metodológico, pois ao longo desse campo foi privilegiada a interação e auto-observação para produção das imagens. A fotografia é mobilizada como uma forma narrativa e, conforme relata Achutti (1997, p. 14), seu uso como narrativa imagética é “capaz de preservar o dado e convergir para o leitor uma informação cultural a respeito do grupo estudado”. São utilizadas 10 imagens para narra um processo de trabalho que contempla em geral 7 etapas. Os caminhos que conduzem às entranhas do trabalho na maré expressaram-se cotidianamente no corpo da pescadora/marisqueira os dias de intenso labor. Mas, também transparecem prazer, identidade, pertencimento (GEERTZ, 2002; HALL, 2005). Há um domínio sobre seu processo de trabalho, pressionadas pela contingência da vulnerabilidade social. Um dia o trabalho pode iniciar-se às 7 horas da manhã e findar-se 12 horas depois, noutro a saída é feita com o dia ainda escuro só retornando ao fim da tarde. Em meio a essa jornada de trabalho permeiam outras, pois a elas cabem o cuidar dos filhos e companheiros, os afazeres domésticos e o preparo da alimentação. Na construção da identidade da pescadora (HALL, 2005) transparece a expressão de independência e autonomia do trabalhador da maré. Para realização desse trabalho basta-lhe seu corpo e a projeção dele realizada por instrumentos de baixo ou nenhum custo como uma colher ou faca para retirada do marisco e um balde para o transporte. Ao assumir esse fenômeno, percebo mais do que sensações e memórias, há um ‘todo’ significado e fundamentado pelas experiências na maré. As coreografias performadas pelo corpo-que-trabalha-na-maré expressam saberes milenares, passados gerações após gerações através dos ensinamentos orais e experiências corporais. Por outro lado, esse trabalho também é expresso nas adversidades do campo, e corporificados nas posturas, marcas e expressões que revelam as condições extremas de esforço e jornada de trabalho exaustiva; sujeito a intempéries e acidentes na maré é percebido pelo corpo com dores e odores. Compreender o trabalho para transformá-lo (GUERIN et al, 2005) faz-se necessário a medida que as intervenções de de prevenção e promoção nas comunidade sejam condizentes com o habitus de vida e trabalho. A imposição de práticas como pausas, alongamentos, exercícios não garantem a adoção destas práticas pela comunidade, pois a maré não segue a lógica da ginástica laboral em uma empresa. As negociações de ações de promoção e prevenção são articuladas em campo, em conjunto com elas, estabelecendo limites e possibilidades à sua realização. (Re) afirmar-se que tais práticas surgem através dos próprios movimentos performados e extrapolam o olhar sistemático do saber biomédico para compreender o corpo em sua dimensão subjetiva e cultural, garantindo que dele emerjam formas de saúde e cuidado.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

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