28/09/2019 - 15:00 - 16:30 AL3 - GT Ampliando Linguagens - Inéditos Viáveis no Enfrentamento de Iniquidades e Violencias |
31268 - O PODER DA LINGUAGEM AUDIOVISUAL NA VERBALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: A EXPERIÊNCIA DE UM COLETIVO DE MULHERES NA BAHIA CAROLINE CASTANHO DUARTE - UFSB E COLETIVO PARTO SEGURO, JOANA MONCAU - COLETIVO PARTO SEGURO, PATRICIA SANTOS DE AZEVEDO - COLETIVO PARTO SEGURO
A expressão ‘violência obstétrica’ diz respeito, principalmente, à violação de direitos das mulheres na atenção à saúde durante a gravidez, trabalho de parto, aborto, parto e puerpério. O movimento social de mulheres, que inclui pesquisadores e profissionais de saúde, atua em defesa da humanização do parto e nascimento incentivando a implementação das boas práticas, da multiprofissionalidade e das evidências científicas nos serviços de saúde, em prol da autonomia da mulher. Mesmo com ampla produção social, política, legal e acadêmica produzida para enfrentar esta problemática nas últimas décadas, mulheres ainda têm convivido com as dores, os medos e os traumas desta realidade. Apesar do registro de ouvidorias junto aos órgãos de controle ter aumentado nos últimos anos, muitas mulheres ainda sofrem em silêncio, por encontrarem dificuldades em reconhecer e expressar a violência vivenciada. Um dos caminhos utilizados pelo movimento social para enfrentar a invisibilidade deste problema, especialmente a partir dos anos 2010, tem sido a publicação de depoimentos nas plataformas digitais, especialmente na linguagem audiovisual, sendo hoje encontrados diversos vídeos com relatos de mulheres na internet. Caminho semelhante foi seguido pelo Coletivo Parto Seguro, um grupo de mulheres que reside na região de Porto Seguro-Bahia, porém, com uma diferença substancial nesta estratégia: o Coletivo resolveu evitar a internet e investir presencialmente nos espaços locorregionais de participação e controle social do SUS. Assim, produziu um vídeo com depoimentos de mulheres da comunidade para servir de ferramenta de diálogo e participação social no Fórum Perinatal Regional da Rede Cegonha, visando sensibilizar gestores e profissionais de saúde. O vídeo foi produzido pelo Coletivo, sem envolver trocas monetárias, a partir dos áudios enviados por mulheres para a rede social do Coletivo, de maneira esclarecida e informada. Com o objetivo de ampliar a capacidade e o efeito da atuação política das representantes do Coletivo nos espaços de participação social, foram selecionados trechos de três depoimentos para, em poucos minutos, transmitir a voz, os sentimentos e as percepções das mulheres. Sem revelar a imagem das depoentes e garantindo total anonimato, o vídeo aposta na simplicidade para destacar, com trilha sonora e fundo neutro, as palavras-chave de cada depoimento. Os relatos referem-se a atendimentos que aconteceram em um Hospital Público da região entre os anos de 2016 e 2018. O vídeo tem duração de 3 minutos e 28 segundos, foi produzido em agosto de 2018 e, para fins deste trabalho, encontra-se no endereço eletrônico desde maio de 2019. A utilização das redes sociais em âmbito local e a captação de depoimentos de áudio possibilitou o registro e a apresentação de parte dos casos que já vinham sendo acolhidos pelo Coletivo desde 2017. Dessa maneira, além de acolher as mulheres de sua própria comunidade, o Coletivo conseguiu integrar a voz destas mulheres aos canais de participação social da política de saúde, vencendo assim parte dos limites da representação política. O vídeo tem sido utilizado pelo Coletivo em âmbitos institucionais, tendo sido apresentado e debatido em, no mínimo, quatro oportunidades: na segunda reunião do Fórum Perinatal Regional e no Seminário de Educação Permanente para profissionais de saúde da região, ambos em setembro de 2018; e em duas atividades de formação com estudantes de graduação da Universidade Federal do Sul da Bahia-UFSB, contemplando estudantes de Saúde e de Direito, ambas realizadas em março de 2019. Com a projeção do vídeo foi possível alcançar maior empatia e compreensão da problemática por parte dos gestores, profissionais e estudantes em formação. Esta ação facilitou a escuta para as demandas do Coletivo, especialmente por tratarem da realidade local e recente. Entretanto, vale ressaltar, nestas mesmas oportunidades, que foram manifestadas, também, ainda que por parte de um número reduzido de gestores e trabalhadores, opiniões divergentes que, de maneira geral, demonstraram desconfiança sobre a veracidade ou completude dos relatos das mulheres que afirmam ter sofrido violência obstétrica. As opiniões demonstraram ainda, insatisfação com a postura das mulheres que reclamam mesmo quando, segundo eles, recebem o melhor atendimento que as condições de trabalho permitem. A proposta neste Congresso consiste em apresentar o vídeo e algumas fotografias em slides para ilustrar a experiência relatada.
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