28/09/2019 - 15:00 - 16:30 AL2 - GT Ampliando Linguagens - Diversidade de Olhares na Produção do Conhecimento em Saúde |
30896 - OS PROCESSOS DE MEDICALIZAÇÃO: UM OLHAR PARA AS FORÇAS MOTRIZES MARCIA MICHIE MINAKAWA - FSP USP, PAULO FRAZÃO - FSP USP
Introdução
O tema medicalização emerge como objeto de estudo no campo da sociologia da saúde, a partir da década de 70, nas vozes de Ivan Illich, Irving Zola, Peter Corand e Michel Foucalt; as quais, indicaram a crescente influência da medicina em campos que até então não lhe pertenciam, isto é, sobre os processos sociais que levam a que certos problemas sejam definidos a partir da linguagem médica, resultando em uma crescente influência da medicina em campos que até então não lhe pertenciam.
Objetivo
Nas últimas décadas, o fenômeno da medicalização vem sendo objeto de reflexão em diversas pesquisas, da infância ao envelhecimento, nos usos de psicotrópicos à assistência ao trabalho de parto, entre outros. Essa configuração levou alguns estudiosos da primeira década do século XXI, a se preocupar com o uso impreciso e vago do conceito de medicalização na produção científica. O termo perdeu coerência e rigor por se distanciar do conceito inicial, esvaziando de significado e potência; e o propósito foi recuperar as forças motrizes, isto é, os principais entes que segundo as contribuições dos autores primários são responsáveis por impulsionar os processos de medicalização, e cotejar com as intensas transformações nos planos político, econômico e cultural do mundo contemporâneo.
Metodologia
Realizou-se um exercício hermenêutico composto pelos seguintes passos: leitura profunda do texto, fichamento dos aspectos centrais e interpretação do conteúdo por meio da abstração dos núcleos de sentido e dos referenciais teóricos que lhe dão suporte.
Resultado:
Ao olhar para arena discursiva de cada autor sobre os processos de medicalização, por meio de uma postura epistemológica, desvelaram-se quatro forças motrizes: indústria, instituições, Estado e sociedade.
Zola oferece indícios que o Estado e a indústria teriam levado a sociedade à dependência da medicina. Para ele, numa sociedade altamente industrializada há um planejamento em prol do lucro e o Estado interveria no setor econômico para capitalizar e defender as indústrias.
Para Illich, também faz referência à sociedade industrial pelas quais a medicina, por si só, detém o poder comparada as outras instituições, num mandato imperativo ao ponto de invadir campos que até então não lhe pertenciam. Seriam espaços privilegiados e disputados por outras instituições e atores; que nas mãos da medicina levaria a efeitos deletérios nos aspectos individual, social e econômico, gerando diferentes formas de iatrogênese.
Para Michel Foucault, a medicina deixou de ser uma ciência pura e transformou-se numa instituição subordinada a um sistema econômico e de poder político, enfim a uma lógica subjacente aos princípios e regras de governo, como reprodução do capital. Pode-se dizer que algumas instituições como a medicina e o Estado não assumem mais um lócus central de poder, mas seriam conduzidos pela lógica do mercado capitalista.
Em contrapartida, para Conrad a medicalização não constitui um empreendimento exclusivo da medicina, prevalecendo os interesses de outras instituições e organizações sociais. O ponto crucial é que a medicalização perpassa por outros fatores além do controle profissional, existem outros atores e instituições que orquestram o comportamento humano, ora no sentido político ou econômico.
Considerações finais
Essas forças estão imbuídas de valores como: o consumismo, fascínio à tecnologia, a avidez pelo lucro; proporcionando um cenário de forças desagregadoras que impactam os sujeitos, na sua identidade social e na sua autonomia pessoal.
O estudo apresenta um movimento reflexivo e crítico que permitiu desvelar a complexidade e os principais interesses que atravessam as forças motrizes dos processos de medicalização no âmbito de uma sociedade em constante transformação em que as instituições criadas pela modernidade atuam em direção as exigências da pós-modernidade, onde há uma predominância do consumismo desenfreado, o uso da tecnologia em prol do lucro econômico, o aumento do individualismo, entre outros aspectos. Enfim, uma contingência da contemporaneidade que torna cada vez mais propício a instauração de processos de medicalização.
Diante da notoriedade do tema, é de grande relevância enveredar pelos meandros dos processos de medicalização, pois isso nos permite visualizar como as forças motrizes vêm tecendo a sua rede e como sustentam o poder do capital privado, as instituições, o Estado, entre outros atores. Esta pesquisa trata-se de um exercício hermenêutico cuidadoso que implicou na retomada da definição para discernir as forças motrizes e compreender a sua múltipla direcionalidade. Podemos concluir que esta pesquisa talvez possa ser um caminho para diminuir a imprecisão teórica e potencializar o significado, tão primordial nos debates atuais.
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