29/09/2019 - 15:00 - 16:30
AL7 - GT Ampliando Linguagens - Saberes e Práticas Tradicionais em Saúde: Diálogos com a Cultura Popular |
29216 - CURAS EM PERSPECTIVAS ARTÍSTICAS: SABERES POPULARES E PRÁTICAS DE SAÚDE NO FESTIVAL FOLCLÓRICO DE PARINTINS
ERICKY DA SILVA NAKANOME - UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS, ADAN RENÊ PEREIRA DA SILVA - DOUTORADO EM EDUCAÇÃO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS, NILZA OLIVEIRA DOS SANTOS - FACULDADE DE MEDICINA - UFAM, SUELY APARECIDA DO NASCIMENTO MASCARENHAS - DOUTORADO EM EDUCAÇÃO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
As festas populares na Amazônia possuem grande potencial educativo, dado seu caráter expresso de cultura popular. Dentre elas, destaca-se o Festival Folclórico de Parintins, o maior do norte do país, onde os bois-bumbás Garantido e Caprichoso se apresentam. O objetivo deste texto é refletir como os saberes populares são apropriados por estas manifestações, com base no exemplo concreto do Festival do ano anterior. Em 2018, por meio de um item nomeado “Figura Típica Regional” (um dos que concorrem na festa, ao qual os jurados atribuem notas e que ajudam a tornar um dos bumbás campeão), o boi-bumbá Caprichoso retratou o “caboclo curador”: figura da sociodiversidade amazônica que tem nos saberes dos pajés, dos antigos griôs libertos e das crenças cristãs o amálgama da sincrética sabedoria, mistérios e dons sobrenaturais que transcendem os limites da ciência e da razão. O profundo conhecimento do poder milagroso das ervas medicinais, a cura das doenças do corpo e da alma, a íntima ligação entre os mistérios do mundo terreno e o mundo metafísico, são dons natos do caboclo curador. É comum encontrarem-se filas nos locais de atendimento, onde serão recomendados remédios para a dor que incomoda o corpo, para a “desmentidura” que incomoda as mãos ou a oração certa para livrar o “curumim” do “quebranto que olho riscou”. Tais conhecimentos, os quais misturam fé, saberes e curas, atrelam ao curador epítetos como “seres de luz”, “médicos da floresta”, “anjos a serviço da vida”. Há de se destacar que essas explicações de mundo são transmitidas intergeracionalmente, o que ajuda na perpetuação de seus ethos. A base metodológica desta pesquisa é a etnografia, dada a vivência dos autores e autoras na festa. O resultado evidencia o hibridismo entre o parintinense que constrói a festa, enquanto pensador e artista, e a própria vivência da realidade enquanto usufruidor do que retrata, mostrando a compreensão que tem das práticas medicinais populares e que importância atribui a elas. Um dos principais resultados é a evidenciação do curador como médico da comunidade - especialmente nas mais isoladas dos meios urbanos - e de possuidor de um saber próprio, o que lhe dá status de respeitabilidade entre o povo. Tais questões, atreladas ao modo de como o Festival faz a sua apresentação (utilizando-se de alegorias, música própria, interação com o público e com a própria comunidade que teatraliza suas vivências), leva à conclusão de que o festival parintinense tem a potência artística de ensinar o valor dos saberes populares ligados ao processo saúde-doença, respeitando a alteridade e outros modos de produzir conhecimentos, para além dos validados cientificamente.
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