29/09/2019 - 15:00 - 16:30 AL7 - GT Ampliando Linguagens - Saberes e Práticas Tradicionais em Saúde: Diálogos com a Cultura Popular |
30688 - UMA COLCHA DE RETALHOS PARA A TENDA DO CUIDADO MARIELLE FRANCO: TECITURAS DE UMA EXPERIÊNCIA NA ESF, EM SALVADOR - BAHIA. INDIRA RAMOS GOMES - EESP-BA
CONTEXTUALIZAÇÃO
A colcha de retalhos foi um artefato produzido como parte do Trabalho de Conclusão de Residência da autora, no Programa Estadual de Residência Multiprofissional Regionalizado em Saúde da Família (PERMUSF), pela Escola Estadual de Saúde Pública da Bahia (EESP-BA), intitulado “Tenda Marielle Franco: tecendo o cuidado com as Práticas Integrativas, Complementares e Populares, na Estratégia Saúde da Família.”
DESCRIÇÃO
Foi implantado um espaço para a produção de (auto) cuidado, emancipação e afeto com trabalhadoras (es) e usuárias (os) da ESF, nos cenários de prática do PERMUSF, no município de Salvador, de setembro de 2018 a fevereiro de 2019. E, no desejo de presentear a Tenda do Cuidado tecendo as sutilezas produzidas nesta experiência, foram costuradas pela autora as histórias vividas, os princípios da Tenda e os registros que ilustram a análise do processo pela equipe de implantação, sendo a colcha de retalhos uma potência enunciadora de sentidos, significados e afetações outras produzidas.
PERÍODO DE REALIZAÇÃO
A colcha de retalhos foi produzida e presentada em março de 2019.
OBJETIVO
Compartilhar as reflexões, narradas através da colcha de retalhos, sobre a experiência de implantação da Tenda do Cuidado Marielle Franco em duas Unidades de Saúde da Família (USF), na cidade de Salvador - Bahia.
RESULTADOS
A Tenda Marielle Franco foi lançada no “Outubro Rosa”, ficando a etapa de implantação da proposta sob a responsabilidade do grupo de residentes PERMUSF (nutricionista, fisioterapeuta e assistente social) e parte do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) - fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, nutricionista e psicóloga. No seu período de implantação foram apresentadas as PICS para trabalhadoras(es) e usuárias(os) e compartilhados os saberes e práticas por elas(es) já desenvolvidos. Nesse sentido, a Tenda guarda a intenção de valorizar os saberes e fazeres prévios das(os) participantes, bem como o conhecimento popular em saúde – principalmente do território existencial dos sujeitos - com vistas a contribuir para promoção de práticas de cuidado em saúde que sejam criativas e libertadoras, através das Práticas Integrativas, Complementares e Populares no SUS.
Foram desenvolvidas atividades como: vivências em PICS; Novembro Negro com oficinas de turbante e boneca Abayomi; Dia Mundial do Diabetes com meditação, vivência em aromaterapia e prática corporal; Roda de Gestantes para discutir "o ser mulher na sociedade"; e, as atividades de Educação Permanente em Saúde (EPS) “Pausa para o café e um dedo de prosa” (com equipes de referência e NASF-AB), para discutir temas afins à Tenda no contexto do processo de trabalho e cuidado.
Ao final da etapa de implantação foi realizada a análise da experiência, em uma proposta de EPS. A partir das questões levantadas pela autora, a equipe de implantação compartilhou os sentidos e significados produzidos ao longo dessa trajetória. Ademais, foram feitas algumas reflexões sobre os desafios para Educação Popular constituir a dinâmica da Tenda e, consequentemente, das USF. Dentre eles se destacam: romper com a automatização dos processos de trabalho, ressignificar o lugar do usuário no cuidado à saúde, criar estratégias de mobilização institucional e enfrentar as resistências e as relações complexas de poder relacionadas à hierarquização de saberes.
Em um momento posterior, após a saída do cenário de práticas da residência, a colcha foi elaborada pela autora, através de um mergulho reflexivo e intuitivo buscando tecer - do ponto de vista est(ético) - na representação/produção de cada retalho, as afetações das trabalhadoras envolvidas na implantação da Tenda do Cuidado. Assim, a colcha de retalhos se apresentou como artefato analítico do processo de implantação da Tenda indicando a produção de intersubjetividade, num movimento sutil, no sentido da (re)construção de vínculos, da ressignificação do trabalho na experiência de cuidar de si e do outro.
APRENDIZADOS E ANÁLISE CRÍTICA.
Construir a colcha de retalhos foi uma experiência significante na medida em que possibilitou, enquanto metáfora, a análise da experiência, o aprendizado com a diferença e a habilidade para lidar com o real e construir o possível. Tecer uma unidade por meio dos retalhos, colagens, afetos, desenhos, as (in) perfeições da "artesania" e a diversidade de cores e texturas, para o compartilhar dos caminhos na coprodução de relações mais saudáveis que contribuam para ressignificação do ambiente de trabalho e para a promoção da autonomia e do (auto)cuidado.
A elaboração da colcha possibilitou, ainda, aprofundar nas reflexões sobre os múltiplos encontros experienciais nas USF e a existência de saberes e fazeres outros que não somente aqueles calcados no paradigma hegemônico da saúde, sendo a Tenda um espaço irreverente e de resistência na construção das utopias no/para SUS e a colcha de retalhos a sua memória-presente.
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