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29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-8G - GT 8 - Saude Publica, Politicas Publicas e Constituição

30633 - ZIKA, CIÊNCIA E SAÚDE PÚBLICA: O LEGADO DE UMA EPIDEMIA
MONIQUE BATISTA DE OLIVEIRA - USP


Zika, ciência e saúde pública:
O legado de uma epidemia
Monique Batista de Oliveira

1. Introdução
Um crescimento de casos de anomalias fetais identificado informalmente no final do ano de 2015 no Nordeste brasileiro deu a largada ao que seria um dos principais desafios de saúde pública do Brasil nos últimos anos: a relação entre o Zika e más-formações em bebês. Inicial-mente tida como dengue fraca, (G1 BAHIA, 2015), a infecção por Zika ganha outras dimensões quando o Ministério da Saúde divulga a possível relação entre o vírus e más-formações fetais. Sobre o fato, nota da pasta exemplifica as dificuldades e a ausência de conhecimento sobre o vírus no período: “Essa é uma situação inédita na pesquisa científica mundial. As investigações sobre o tema devem continuar para esclarecer questões sobre a transmissão desse agente, a sua atuação no organismo humano, a infecção do feto e período de maior vulnerabilidade para a gestante” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016). A partir desse momento, formou-se uma intensa rede colaborativa de pesquisadores, médicos e gestores. O objetivo era esclarecer a origem das anomalias e comprovar ou não a associação com o vírus Zika.
2. Objetivos

1) Investigar como foi construído o consenso em torno da associação entre o zika e as anomalias fetais;
2) Identificar o que ocupou a centralidade das preocupações dos gestores e especialistas envolvidos e o que pode ter sido invisibilizado;
3) Destrinchar qual o legado desse momento para investigações em saúde;

5. Metodologia
A base metodológica da pesquisa é os ESCT (Estudo Sociais de Ciência e Tecnologia), um campo interdisciplinar das humanidades que se debruça sobre áreas relacionadas ao desenvolvimento de ciência, medicina e tecnologia. Especificamente, o objeto da pesquisa será analisado por meio do mapeamento de controvérsias, uma vertente da área descrita acima que surge calcada em três linhas teóricas da sociologia:
• O programa forte, com a ideia de que nenhum campo está alheio à investigação social — nem o próprio campo científico (BLOOR, 1987).
• A sociologia das práticas, em que se encontra a Teoria Ator-Rede (TAR), que defende o mapeamento daqueles que agem dentro da controvérsia - os atores. Esses actantes, contudo, não são só os seres humanos, mas também os elementos não-humanos, dota-dos de uma agência própria capaz de mudar o curso dos fatos (LATOUR, 2012).
• A sociologia pragmática francesa, que vai defender, como a TAR, que o processo de conflito de controvérsias é uma oportunidade para o pesquisador acessar realidades mais profundas, como as relações de poder que não estariam tão evidentes em momentos de estabilização e consensos. A ideia é que o tecido social estabilizado tende a se dissolver durante a controvérsia porque o conflito não recai somente sobre o objeto da disputa: ele se estende por todas as instituições envolvidas e suas práticas (LEMIEUX, 2015).
Com essas três perspectivas teóricas como suporte metodológico, a pesquisa está mapeando e entrevistando (no caso de pessoas) os atores que estiveram envolvidos na construção do conhecimento sobre o zika no Brasil. Até esse momento, estive em cinco Estados do Brasil (Paraíba, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte e Pará) e 50 entrevistas foram realizadas, dentre gestores, famílias, pesquisadores e profissionais de saúde.

Conclusões
A análise do período mostra como a experiência do zika deixa um legado para ações de saúde pública, tendo em vista o aumento do diálogo com centros de referência e assistência. Há um rastro de um fluxo institucional deixado pela experiência da epidemia do Zika que vai desde a melhoria das notificações dos serviços ao entendimento do papel de centros de pesquisa como a Fiocruz e universidades, que pode melhor contribuir para investigações. O trabalho vai destrinchar esse fluxo, bem como mostrar outros processos que possam ter sido invisibilizados durante as investigações. Outro ponto é mostrar como a epidemia de zika também nos ajuda a problematizar a ideia de causalidade em saúde pública e, com isso, adicionar maior interdiscipli-naridade às investigações.

8. Referências bibliográficas

BLOOR, David. Wittgenstein: a social theory of knowledge. London: Macmillan, 1987. (Contemporary social theory).
G1 BAHIA. G1 - Doença misteriosa de Camaçari pode ser roséola ou parvorírus-B19 - notícias em Bahia. Disponível em: . Acesso em: 31 mar. 2018.
LATOUR, Bruno. Reagregando o social: uma introdução a teoria do ator-rede. [S.l.]: EDUFBA, 2012.
LEMIEUX, Cyril. A quoi sert l’analyse des controverses? Mil neuf cent, v. 25, n. 91–212, 25 set. 2015.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Ministério da Saúde confirma relação entre vírus Zika e microcefalia. Disponível em: . Acesso em: 24 set. 2016.

local do evento

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