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30/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-8J - GT 8 - Medicina, Médicos e Direito à Saúde

30435 - A CLÍNICA NOS TEMPOS DE MEDICINA TECNOLÓGICA: O LUGAR DA EXPERIÊNCIA NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
YURI NISHIJIMA AZEREDO - DEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVA, FMUSP, LILIA BLIMA SCHRAIBER - DEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVA, FMUSP


O presente estudo visa discutir o atual estado das conformações do trabalho em saúde no que diz respeito ao lugar da experiência clínica e do saber prático nas novas dinâmicas de trabalho, tomadas a partir das ‘orientações para a boa prática’ dos tratados clínicos, presentes na formação de novos médicos. Das grandes mudanças da medicina liberal rumo à medicina tecnológica no século XX, são bem conhecidas e divulgadas o aumento da capacidade de lidar com uma gama maior de adoecimentos, a melhora na eficiência dos tratamentos, o desenvolvimento de fármacos e as novas tecnologias de exames diagnósticos. No entanto, partes fundamentais desse processo são as mudanças na dinâmica de trabalho, tanto quanto aquelas do saber clínico que orienta tal dinâmica Na comparação histórica entre os elementos nucleares das ‘recomendações para a boa prática’ presentes nos tratados, a literatura mostra algumas tendências importantes: desvalorização das subjetividades; homogeneização da apreensão da doença individual; controle da subjetividade e ampliação da influência da técnica; intervenção mais precoce e radical; a busca do domínio da incerteza na tomada de decisão. Dessa forma, a tendência se caracteriza pelo deslocamento da experiência clínica pessoal para a valorização do respaldo científico dos procedimentos, submetidos a testes de eficácia e resultados. A divulgação de conclusões por guidelines, ao mesmo tempo que traz mais respaldo e legitimidade ao trabalho médico, o delimita e o controla dentro de normatividades científicas específicas.
A Clínica, espaço de encontro entre o profissional e o doente, na qual tradicionalmente os universais do corpo e das patologias abstratas frutos do conhecimento científicos são submetidos ao caso real, sofre uma tendência de inversão, na qual o protagonismo passa a ser depositado no conhecimento mais teórico e científico. Dessa forma, tornam-se coadjuvantes o saber prático do médico, o conhecimento do paciente acerca de seu corpo e seu adoecimento além das determinações históricas e sociais que circunscrevem o seu viver.
A este contexto, introduzimos as reflexões filosóficas de Walter Benjamin, nas quais defende que na Modernidade ocorre um processo no qual a experiência (erfahrung) é progressivamente substituída pela vivência (erlebnis). Enquanto a experiência capacita ao homem criar sabedoria e autoridade, em suma, ser transformado pela sua experiência, a esfera da vivência é saturada de eventos e sensações com as quais o homem reage, mas não se modifica no processo. Para o filósofo alemão, a informação só tem valor no momento em que é nova e sempre aspira a uma verificação imediata. Assim, a constante atualização dos guidelines impossibilita o acúmulo de experiência do médico, que progressivamente passa a apenas seguir essas instruções, o que também lhe é esperado de seus contratantes e pacientes, aculturados no mesmo mundo do protagonismo da ciência.
A tendência de massificação de diagnósticos e tratamentos através de guidelines e da supressão das subjetividades não ocorre sem tensionamento no espaço da clínica. No lado dos trabalhadores, a literatura mostra que os médicos sentem que ‘a medicina vai bem, os médicos nem tanto’, mesmo enxergando a si mesmos como operadores da ciência em seu momento de maior protagonismo. Assim a Benjamim podemos adicionar as reflexões de Hannah Arendt tal como vê a ruptura com a tradição, com o passado, e o esvaziamento da autoridade, com impactos importantes nessa ruptura entre profissionais e o saber em medicina bem como nas relações entre os profissionais da saúde e seus pacientes. E no lado destes, vê-se que essa imposição do abstrato dos conhecimentos científicos sobre os corpos reais muitas vezes incorre em flagrantes episódios de violência, como a violência contra a mulher nos serviços de saúde, na qual as especificidades do seu corpo e da sua história são atropeladas pela transposição asséptica dos guidelines, por sobre seus problemas concretos de saúde.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

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