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Grupos Temáticos

28/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-8C - GT 8 - Mulheres, Mães e Cuidados na Resistência

30910 - “A CONVERSA DE HOJE É QUE PARIR É NO HOSPITAL": IMPLICAÇÕES E DESAFIOS À SAÚDE INDÍGENA.
NÚBIA MARIA DE MELO E SILVA - IFF/FIOCRUZ, CLAUDIA JANNOTTI BONAN - IFF?FIOCRUZ


(Apresentação/Introdução) Esse estudo foi resultado da dissertação do Mestrado Profissional em Saúde da Mulher e da Criança, do IFF/Fiocruz, concluído em junho de 2017. A hospitalização e as intervenções médico-cirúrgicas no parto de mulheres indígenas constituem-se em um fenômeno que tem sido objeto de estudo e de debates entre pesquisadores, profissionais de saúde, gestores e, principalmente, mulheres e ativistas indígenas. Constata-se e discute-se um processo de construção do medo de parir longe de um hospital com o auxílio das pessoas que tradicionalmente integram a cena do parto na aldeia, como familiares, parteiras, curadores e pajés, um processo de associação entre parto e risco. Os objetivos eram de: Averiguar a compreensão dos profissionais sobre a organização (estrutura e funcionamento) da assistência à gravidez, ao parto e ao puerpério das mulheres indígenas; Examinar o processo de formação dos trabalhadores e trabalhadoras para a atuação em contexto pluriétnico e a adequação da rede de saúde para a atenção à saúde indígena, conforme a PNASPI; Comparar relatos sobre o processo de construção das decisões sobre o local e o modo do parto, ao longo do acompanhamento pré-natal; Discutir as concepções sobre risco e segurança relacionadas aos diferentes modelos de atenção ao parto indígenas e biomédico. (Metodologia)Trata-se de um estudo qualitativo que analisa experiências e sentidos do parto da mulher Pankararu por meio de narrativas de gestores e profissionais da saúde indígena do Polo Base Pankararu (PBP) e do Polo Base Entre Serras (PBES), do Distrito Sanitário Especial Indígena de Pernambuco (DSEI-PE). As narrativas versaram sobre como a atenção diferenciada perpassa ou se oculta frente à relação dos entrevistados e das entrevistadas com o parto das mulheres indígenas. Para tanto, foi realizada uma escuta sobre a formação para atuar nesse campo; sobre as normativas da gestão que orientam a atuação das Equipes Multiprofissionais de Saúde Indígena (EMSI); sobre as orientações e condutas práticas mantidas durante o acompanhamento pré-natal; sobre a relação que mantêm com o parto biomédico e o parto tradicional Pankararu e, por fim, sobre a rede de referência obstétrica da região e a chegada da estratégia Rede Cegonha no estado. (Resultados e discussão) Com uma equipe eminentemente composta por indígenas, essencialmente da própria etnia Pankararu, os encontros e esbarrões entre os modelos indígena e biomédico têm instituído dois movimentos em terras Pankararu: um movimento de resistência, fortalecimento e crescimento do modelo tradicional de atenção ao parto, nas aldeias Brejo dos Padres, Jitó e Saco dos Barros, e nas demais, um movimento de priorização do modelo biomédico. Enquanto nas três aldeias citadas, de 2012 a 2015, prevaleceu o parto tradicional, nas demais, as EMSI priorizaram o encaminhamento das mulheres para parirem no hospital, mesmo quando isso significava o atendimento em uma rede desestruturada, que envolvia peregrinação, ausência de acompanhante e violências obstétricas. A hegemonia do modelo biomédico tem determinado que a atenção ao parto médico-hospitalar é a única forma capaz de prover controle de riscos e segurança à saúde da mulher e do bebê. A representação posta na atitude é de que são os exames biomédicos e o acompanhamento médico no pré-natal que detêm o poder de autorizar que o parto ocorra na aldeia, sob a égide do modelo Pankararu de parir e nascer. Violando direitos, esse padrão subalterniza os modelos indígenas aos paradigmas biomédicos ao tempo em que desautoriza os saberes, os cuidados e práticas da parteira tradicional indígena, de modo a banalizá-los diante da medicina científica. (Conclusão) Como evento de fortalecimento da identidade étnica dos povos indígenas, portanto protegido pela legislação vigente (Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, que integra o SUS (SasiSUS/1999), e Política Nacional de Atenção à Saúde Indígena (PNASPI/2002), o parto foi escolhido para trazer as representações e consequentes atitudes de trabalhadores das EMSI frente a atenção diferenciada a que tem direito as mulheres Pankararu. Também contextualizado no âmbito dos princípios e diretrizes de políticas nacionais, como a de atenção à saúde da mulher e de atenção humanizada, bem como da implementação da estratégia Rede Cegonha, o estudo se tornou ainda mais pertinente, visto que se tratam de marcos legais do SUS que afirmam e reafirmam as medicinas tradicionais indígenas onde se inscreve o direito de parir e nascer no modelo Pankararu de chegar e estar no mundo.

local do evento

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