30/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-8I - GT 8 - Acolhimento, Periferia e Integralidade |
31343 - ACOLHIMENTO & ACESSO DE NECESSIDADES DE SAÚDE BUCAL E O AGIR PROFISSIONAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE EVELISE TAROUCO DA ROCHA - SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE PORTO ALEGRE, CRISTINE MARIA WARMLING - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL - UFRGS, JULIO BALDISSEROTTO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL - UFRGS
Introdução: Para reordenar o modelo de atenção à saúde bucal, alinhando-o ao preconizado pelo SUS, a Política Nacional de Saúde Bucal instituiu diretrizes com o objetivo de ampliar o acesso aos serviços odontológicos e qualificar o cuidado acolhedor, integral e centrado nas necessidades das pessoas. Estudos não demonstram evidentes relações entre o impacto da ampliação das Equipes de Saúde Bucal (ESB) na utilização (acesso) aos serviços odontológicos, sugerindo que a expansão do número de ESB, por si só, pode não garantir aumento no uso ou na qualidade dos serviços. Se o acesso diz respeito à forma como o usuário experimenta os serviços de saúde ou como consome procedimentos, o acolhimento, para produzir a ampliação do acesso, está convocado a superar a centralidade nas demandas terapêuticas características do modelo biomédico. Na saúde bucal, significa ultrapassar as práticas discursivas centradas no elemento dentário, que marcam a constituição das competências profissionais. Questiona-se: como as ESB integram aos protocolos de atenção em saúde bucal as singularidades dos usuários na dinâmica do trabalho em saúde? Como articulam dimensões da competência profissional, tais como, o acolhimento e a organização do acesso das necessidades de saúde bucal? Até que ponto o trabalho das ESB se constitui como colaborativo e espaços institucionais coletivos promovem problematizações dos dilemas que se apresentam ao exercício profissional? Objetivo: compreender o modo como Equipes de Saúde Bucal (ESB) da Atenção Primária à Saúde de Porto Alegre articulam, no agir profissional, dimensões subjetivas das competências para enfrentarem problemas do cotidiano contemporâneo da produção do cuidado na saúde bucal, como a questão do acolhimento & acesso das necessidades de saúde bucal dos usuários. Metodologia: Estudo de caso do tipo único e integrado com abordagem qualitativa. Roteiro baseado no agir em competência de Schwartz e Durrive apoiou a realização de nove grupos focais: com ESB de oito Unidades Básicas de Saúde (UBS) de cinco distritos sanitários do município de Porto Alegre (12 cirurgiões-dentistas, 5 auxiliares, 6 técnicos de saúde bucal e 2 cirurgiões-dentistas residentes), e um grupo focal com membros do Colegiado Gestor de Saúde Bucal do município (4 cirurgiões-dentistas e 1 técnico de saúde bucal). Os grupos focais foram gravados, filmados, transcritos e analisados com o software NVivo versão 10 para Windows. Resultados/discussão: Nas práticas discursivas profissionais das ESB, o ato de acolher destaca-se pela valorização da conduta terapêutica fundamentada na definição de número de vagas para realização de procedimentos odontológicos necessários para conclusão de planos de tratamento. A prática odontológica perpetua tópicos que ditam as relações e decisões terapêuticas: o reducionismo das questões humanas e sociais no momento do encontro terapêutico e a hipervalorização do biológico na produção do cuidado. A dinamicidade da atividade humana exige que os trabalhadores mobilizem com intensidade semelhante saberes próprios e saberes já constituídos (protocolos), recorrendo aos próprios julgamentos e valores, talentos e criatividade, de forma a gerir as variabilidades inerentes às situações do cotidiano de trabalho. Apesar de reconhecida a importância do controle social na determinação das condições de acesso à atenção em saúde, as ESB não costumam participar dos espaços de controle social. A oferta de atendimento é organizada, prioritariamente, conforme as demandas dos usuários que conseguem acessar as unidades de saúde. Práticas inovadoras de acolhimento & acesso relacionam-se com competências subjetivas dos trabalhadores no trabalho coletivo. Contudo, a existência de ESB nos ambientes de trabalho na APS não é suficiente para a constituição do trabalho coletivo. O modo tradicional de formação fundamentado em práticas uniprofissionais e autonomizadas, reforça o isolamento da prática de saúde bucal, inclusive, em propostas de atenção que visam promover a integralidade do cuidado em saúde, evidenciando um protagonismo limitado das ESB na organização dos próprios processos de trabalho para superar os entraves que as práticas individualizadas apresentam. Considerações finais: A inovação demanda outros conceitos de produção de cuidado e processos de trabalho, outras formas de pensar e problematizar os processos de saúde e doença para a produção de clínica inovadora. A problematização dos próprios processos de trabalho como tecnologia de educação permanente tem potencial para propiciar o debate de valores e saberes. Espaços de educação permanente devem colocar em diálogo as necessidades das partes envolvidas - trabalhadores, estudantes, serviços, instituições de ensino, gestão, usuários e controle social. No desenvolvimento de capacidades e competências, permite-se a reconstrução da clínica perpassada por um processo de problematização da própria prática profissional e da realidade das situações de trabalho.
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