28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-8A - GT 8 - Formação, Cuidado e Reconhecimento |
30315 - O RECONHECIMENTO SOCIAL E SUAS IMPLICAÇÕES NA PRODUÇÃO DO CUIDADO DILMA LUCENA DE OLIVEIRA - UFPB, JULIANA SAMPAIO - UFPB, THAYANE PEREIRA DA SILVA FERREIRA - UFPB
Introdução: A amplitude e eficiência do cuidado estão relacionados ao reconhecimento social produzido entre profissionais de saúde e usuários, assim como na concepção de sujeito construída na relação produzida entre eles. Deve fazer parte da competência do profissional em saúde a atitude reflexiva para compreender a luta por reconhecimento social dos usuários de forma a garantir processos relacionais que possibilitem a reprodução da auto-estima, da autoconfiança e da auto-realização mutua entre cuidadores e cuidados.
Objetivos: Partindo dessas premissas, busca-se neste trabalho compreender como acontece o reconhecimento social entre profissionais de saúde e usuários e sua implicação para a produção do cuidado.
Metodologia: Realizamos uma cartografia (Deleuze; Guattari, 1995) sobre a produção do cuidado em uma Unidade de Saúde da Família (USF) de João Pessoa. Neste processo, compartilhamos atividades que se apresentavam no cotidiano de trabalho de quatro equipes da unidade, três turnos por semana entre outubro de 2017 a julho de 2018. Construímos o diário de campo e realizamos entrevista com doze profissionais e uma usuária, cujo cuidado nos envolvemos a pedido da equipe.
Fizemos uma leitura dos materiais produzidos nesta cartografia buscando dar visibilidade às produções de reconhecimento (Honnet 2009), a partir do respeito pela dignidade da pessoa, da justiça relacionado ao autorrespeito; do amor e amizade relacionado a autoconfiança; e do senso comunitário relativo a autoestima.
Resultados e discussão: As relações de acolhimento e inclusão ou de exclusão e indiferença se constituem na construção do reconhecimento social, que se assemelha ao que os profissionais de saúde compreendem como produção de vínculo. Os profissionais tem dificuldade de se vincularem a pessoas que consideram indignas de cuidado: “ela é preguiçosa e acomodada”; “não quer cuidar do filho”; “cria os filhos como Deus cria batata” (diário de campo). A partir de julgamentos morais de hábitos e costumes, são produzidas o distanciamento entre profissionais e usuários, e a culpabilização destes últimos: “é pobre, mas não precisa ser suja, eu conheço gente na mesma situação e bem limpinha”. Assim, o direito à saúde, referente à produção do auto-respeito, é condicionado ao fato da pessoa se adequar aos fluxos do sistema de saúde e às prescrições biomédicas.
Contudo, para alguns profissionais é seu papel mediar o direito do usuário de acesso a uma vida digna, cabendo-lhes a função de construir uma relação em que o usuário se sinta acolhido e confie nele para que possa se cuidar. Estes, atuam modificando ou criando fluxos específicos de acordo com a necessidade de seus usuários. Se deixam afetar pela situação de vida das pessoas por compreender a contingência social e econômica a que estão submetidas, produzindo reconhecimento social relacionado à justiça.
Tais produções de reconhecimento não são exclusivas dos operadores do cuidado, nem mesmo fruto de escolhas por modos de agir ou sentir. As relações de amor e justiça são resultantes de processos coletivos (Boltanski, 2000), em profunda relação com valores morais que produzem fronteiras sociais (Lamont, Molnar, 2002) e com configurações sociais que estruturam processos de reconhecimento social (Honnet, 2009).
Os julgamentos produzidos nos encontros de cuidado não estão disponíveis de forma conscientes às pessoas que cuidam, acessá-los necessita uma reflexão crítica, uma competência que deve ser desenvolvida baseada no conhecimento de como estes são produzidos e sua relação destes com os afetos.
Considerações Finais: O cuidado é atravessado por lutas de reconhecimento. Um cuidado que se produz numa relação de não reconhecimento dificulta ações mais integrativas, reduzindo o usuário a mero corpo/objeto a ser controlado, diagnosticado, sem direito à saúde. Para garantir direito à produção da saúde cabe àqueles que cuidam produzir processos relacionais de reprodução da auto-estima, autoconfiança e auto-realização com os usuários.
Verificamos que as dimensões do reconhecimento social consistem de vetores que se produzem e reproduzem continuamente nas relações de cuidado. Amor e atenção são relações que não se explicam nem se produzem a partir de indivíduos isolados e sua potência para gerar cuidado está na dependência da identificação entre iguais, processo que se concretiza na luta por reconhecimento.
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