28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-8A - GT 8 - Formação, Cuidado e Reconhecimento |
31001 - O PAPEL DOS ESTÁGIOS CURRICULARES NO SUS NA CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA PROFISSIONAL ELOÁ ROSSONI - UFRGS, ELIANE REGINA CARDOSO - UFRGS, RODRIGUES, THIAGO - UFRGS
INTRODUÇÃO: Na área da Saúde, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para os cursos de graduação precisam ser entendidas dentro do contexto da Reforma Sanitária Brasileira, movimento social que propiciou a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), que visa garantir a saúde como um direito do cidadão. No artigo 4º das DCNs, são abordados conhecimentos para a execução e prática de certas competências e habilidades gerais, que promovem o desenvolvimento autônomo do estudante. A autonomia profissional é uma competência esperada na formação acadêmica e necessária na vida profissional do cirurgião-dentista. As DCNs apontam para a formação de um profissional generalista, ético, crítico, com saberes técnicos e humanísticos e apto para trabalhar em equipes multiprofissionais. As mudanças curriculares e a forte inserção dos estágios na rede pública de saúde foram implementadas no curso de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 2005, para cumprir as DCNs. OBJETIVO: O estudo analisa os significados das vivências nos Estágios Curriculares Supervisionados atribuídos por profissionais egressos do curso de Odontologia da UFRGS para a construção de autonomia profissional. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo de natureza descritiva com inspiração nos estudos culturais. Foram examinados documentos como projeto pedagógico do curso, planos de ensino dos estágios e relatórios dos egressos durante o estágio na atenção primária à saúde (APS). A amostra é composta por 152 egressos do curso de Odontologia diurno, que vivenciaram os Estágios Curriculares Supervisionados (ECSs) entre 2012/1 a 2016/2. Eles foram contatados por e-mail e autorizaram sua participação por meio de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Utilizou-se dados de um questionário respondido online pelos egressos. Convidou-se uma amostra intencional de 14 egressos com representatividade de cada turma para as entrevistas. O material quantitativo foi submetido à análise estatística descritiva e os dados qualitativos foram sistematizados, levando-se em conta os objetivos do estudo. Considerando que os dados quantitativos e qualitativos são complementares foram construídas as seguintes unidades de análise: Características, inserção profissional e escolhas dos egressos e Vivências nos estágios e construção de autonomia profissional. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os egressos são na sua maioria mulheres, idade média de 26 anos, 23,60% estão inseridos em serviços públicos com predominância na ESF e 51,97% atuam e residem na cidade de Porto Alegre. As experiências na atenção e gestão dos serviços de saúde permitiram que os egressos adquirissem autonomia profissional. A autonomia clínica é apontada por 70,10% deles como significativa para a sua formação, sendo vivenciada especialmente no ECS I, na APS. Os depoimentos apontam o ganho de confiança em si mesmos no transcorrer dos ECSs, sendo que as experiências significaram “crescimento pessoal”, “sentir-se mais seguro e autônomo”, o que os capacita a “tomar decisões” e “realizar um atendimento clínico de qualidade". Para além da autonomia profissional, os estudantes despertam para a importância do trabalho em equipe de saúde. A “integração e vínculo com equipe multiprofissional” foi apontada por 80,30% dos egressos como significativa para a formação e 30,60% deles assinalaram esta alternativa como fator na escolha do atual trabalho. Os estudos de Peduzzi (2001, 2011) discutem as características do trabalho coletivo e apontam a necessidade de autonomia com interdependência para a atuação profissional. A interdependência rege as relações entre profissionais, onde os atos de um profissional são capazes de causar efeitos positivos ou negativos em toda equipe. Além da interdependência entre os diferentes trabalhadores, há a interdependência entre o projeto de trabalho de cada equipe e o projeto institucional. Nos relatos, é ressaltado o trabalho interprofissional com a troca de conhecimentos e colaboração entre as profissões. Os ECSs possibilitaram aos egressos uma experiência única, o trabalho em equipe para realizar atenção à saúde de acordo com a realidade dos usuários dentro de territórios desconhecidos pela maioria deles. A soma de distintos olhares dos profissionais de saúde permite aprofundar conhecimentos sobre saúde geral, o que possibilita abordagem integral do usuário. “Era todo mundo de igual para igual”, esta expressão usada por um egresso para caracterizar a relação entre os profissionais da equipe, coloca sob rasura a hierarquia entre as profissões e aponta a importância do diálogo e compartilhamento de saberes para a atenção à saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Conclui-se que as experiências dos ECSs no SUS são consideradas pelos egressos muito importantes em sua formação acadêmica para a vida profissional, pois fazem com que o estudante desenvolva autonomia com interdependência em que o usuário/família é beneficiado com o cuidado humanizado da equipe de saúde.
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