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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-8E - GT 8 - Processo de Trabalho, Saberes e Praticas na Saúde

31089 - “O MÉDICO NÃO OLHOU PRA MIM”: RECONHECIMENTO INTERSUBJETIVO NA RELAÇÃO ENTRE O MÉDICO E O DEMANDANTE DE CUIDADOS
JENNIFER DO VALE E SILVA - UFERSA; USP, JOSÉ RICARDO DE CARVALHO MESQUITA AYRES - USP


INTRODUÇÃO: A insuficiente atenção que o médico destina às pessoas durante o encontro terapêutico é um acontecimento amplamente referido no início do século XXI por aqueles que buscam cuidados médicos, e que, em geral, vem à tona sob a forma de expressivas manifestações de insatisfação com os cuidados recebidos no âmbito das instituições de saúde. Decorre daí elevado potencial de comprometimento do necessário engajamento por parte de quem pleiteia cuidados para se levar adiante as intervenções capazes de mitigar seus problemas de saúde, traduzindo-se em insucesso do encontro cuidador. OBJETIVO: O objetivo do presente texto é desenvolver a hipótese de que, ao expressarem a queixa de desatenção do profissional médico, as pessoas estão a reclamar a ausência de duas formas particulares de reconhecimento intersubjetivo: como sujeitos de direitos e como sujeitos singulares. Quando, durante o encontro, sentem que isso não acontece, as pessoas experimentam uma sensação de desrespeito que, por estar relacionada a processos de constituição da sua própria identidade, toma a forma de insatisfação com os cuidados recebidos e inibe a coparticipação necessária ao sucesso prático das intervenções. METODOLOGIA: A hipótese se sustenta na teoria do reconhecimento de Axel Honneth, para quem as pessoas estão, na cotidianidade de suas experiências vivenciais, em permanente expectativa ou busca de reconhecimento intersubjetivo, que vem a se concretizar quando elas se sentem amadas, percebidas como sujeitos de direitos e valorizadas em sua singularidade. O reconhecimento é um processo recíproco em que o sujeito reconhece no outro, e a partir daí em si mesmo, três dimensões da personalidade humana, a natureza carencial e afetiva, a imputabilidade moral e as capacidades particulares, e estabelece, atrelado a elas, relações intersubjetivas de dedicação emotiva, sob a forma de amor; de respeito como cidadão, expresso em relações jurídicas de direito; e de estima social, na forma de solidariedade. Tais esferas de reconhecimento permitem, além do respeito ao outro, uma autorrelação prática favorável à constituição da identidade de si mesmo. Especificamente no âmbito das relações jurídicas, que permite compartilhar a vida na esfera pública, a percepção de si mesmo como portador de direitos constrói, inversamente, um saber sobre quais obrigações temos de observar em face do respectivo outro. Já na esfera da estima social, opera-se o reconhecimento de propriedades e características particulares de cada pessoa, consideradas ‘valiosas’ pelos demais membros da comunidade. Estas duas formas de reconhecimento expõem necessidades morais e de individualização que permitem as pessoas afirmarem-se como sujeitos sociais. As pretensões de reconhecimento permanentemente colocadas em face do outro, quando não correspondidas, originam experiências de desrespeito que, nesses dois casos, podem ocasionar privação de direitos, pelo não reconhecimento na esfera jurídica; e sentimentos de degradação e ofensa, quando denegado, no âmbito da comunidade de valores, o reconhecimento das particularidades que caracterizam cada um. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Nossa tese é de que esse quadro teórico ajuda a lançar luz sobre a experiência de desrespeito tão frequentemente relatada nos (des)encontros entre médicos e usuários dos serviços de saúde. Ao manifestarem insatisfação com o atendimento médico por não receber a atenção e respeito que julgam merecer, as pessoas estão a exprimir uma vivência de desrespeito oriunda do fato de não terem sido reconhecidas pelo outro, no caso o médico, enquanto sujeitos de direitos e sujeitos singulares. Tal experiência pode fragilizar e até bloquear a continuidade dos cuidados, a depender da intensidade com que é vivida, tornando explícita a relevância que possuem essas esferas relacionais constitutivas das comunidades jurídicas e de valores para o sucesso do encontro terapêutico. Assume-se que o impacto dessas experiências de desrespeito sobre o sucesso ou fracasso das intervenções técnicas propostas decorre do alcance da frustração das pretensões de reconhecimento aí produzidas, do grau de obstaculização da experiência de pertencimento e da assunção de atitudes de corresponsabilidade necessárias para uma efetiva produção de cuidado. CONSIDERAÇÕES FINAIS. Percepções e respostas inadequadas às demandas de reconhecimento intersubjetivo que acompanham a busca por cuidados médicos parecem constituir uma barreira à produtiva articulação entre capacidades de êxito técnico e possibilidades de sucesso prático na construção de um cuidado exitoso.

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