30/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-8E - GT 8 - Espaço, Saúde e a Autonomia no Cuidado |
30241 - GESTÃO DE INFORMAÇÕES E DE CUIDADO NO ENFRENTAMENTO DA TUBERCULOSE: UMA EXPERIÊNCIA EM UM MUNICÍPIO PRIORITÁRIO NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO LUCAS FERNANDES GONÇALVES - UNIRIO, MARY ANN MENEZES FREIRE - UNIRIO
Contextualização:
O Brasil está na lista dos 30 principais países que concentram 87% dos casos de tuberculose de todo o mundo e que são considerados os países prioritários das agendas e políticas públicas da Organização Mundial de Saúde. Em 2018, foram registrados no Brasil 72.788 casos novos de tuberculose (TB) e incidência de 34,8 casos a cada 100 mil habitantes. O Estado do Rio de Janeiro não lidera a região do Sudeste no maior número de casos novos em 2018, entretanto apresenta piores indicadores de acompanhamento e incidência. Foram registrados 11.139 casos novos que correspondem a 32,9% da região do Sudeste. Possui o segundo maior coeficiente de incidência do Brasil que registra 66,3 casos a cada 100 mil habitantes. Em 2017, se colocou como o quarto pior estado em abandono de tratamento entre os casos novos de TB com confirmação laboratorial. Ao mesmo tempo, possui apenas 36,5% de realização do TDO em casos novos e se coloca abaixo da média do Sudeste e do Brasil.
O atual contexto do (des)governo do Estado do Rio de Janeiro deve ser enfatizado. O encolhimento dos direitos sociais com a justificativa da seguridade econômica provoca incertezas, movimento que se mistura com o (des)governo federal. As particularidades dos municípios podem evidenciar entraves, fluidez, cuidado e não cuidado, a partir dos olhares de diversos atores sociais
Descrição:
Descrever a vivência como coordenador municipal do programa de controle de tuberculose de um município prioritário do Estado do Rio de Janeiro. A classificação se dá pela alta quantidade de casos notificados e pela necessidade de apoio nas politicas públicas.
Associam-se indicadores de saúde a disposição da gestão e experiências sentidas nos diversos espaços de trabalho.
Período de realização:
O período de realização se iniciou em 2019 com a nomeação como coordenador municipal do programa de controle de tuberculose do município.
Objetivo:
Discutir a gestão de informação e cuidado de um município prioritário no combate de tuberculose no Estado do Rio de Janeiro
Resultados:
Em 2017, registrou-se um total de 528 casos de tuberculose no município com um aumento de pouco mais que 9% no ano anterior, sem quantificar a subnotificação dos casos. Quando lançamos uma lupa nesse grande problema, nota-se principalmente a não notificação de transferências e usuários atendidos nos serviços de urgência. Além disso, a falta de articulação entre os serviços com diferentes complexidades dificulta a continuidade no tratamento e a notificação dos casos.
O abandono do tratamento nos serviços de saúde chegou a cerca de 14% em 2017. A baixa cobertura da Estratégia de Saúde da Família (ESF), apenas 50% do território municipal, dose supervisionada negligenciada, naturalização do abandono e a centralização da assistência na referência secundária são importantes pontos desse processo. Destaca-se a importância da gestão dos casos das unidades básicas de saúde, protagonizando suporte técnico e de informações.
Há registrado 12 usuários em tratamento para tuberculose resistente no município, consequência da alta taxa de abandonos dos tratamentos com esquema básico. Só em 2019, 3 usuários já abandonaram o tratamento especial feito na referência terciária. Os aspectos sociais, falta de envolvimento da ESF, dificuldade de vinculação aos serviços, falta de ferramentas de monitoramento e falta de políticas assistenciais são questões a se considerar nessa cadeia de movimentos.
A falta de educação continuada é levantada pelos profissionais como essencial para o desconhecimento da doença e dos processos. A promoção de cursos e atualizações deve criar mecanismos mais eficazes de contaminação dos profissionais, valorizando as singularidades dos territórios. A alta rotatividade profissional, principalmente dos médicos do município é vista como de forte impacto pelos diferentes atores da gestão e da prática.
Aprendizados e análise crítica:
A gestão municipal herda gigantescas cicatrizes de uma coordenação baseada no afastamento e não aperfeiçoamento de processos de trabalho no enfrentamento de uma doença historicamente negligenciada. Ao se colocar junto ao profissional de saúde da ponta, há uma expressiva valorização e reconhecimento do trabalho conjunto. Uma gestão compartilhada contamina os profissionais, provoca mudanças e vislumbra novos caminhos em prol do combate da doença.
É essencial fortificar o combate da tuberculose em nível municipal. Assumindo o processo de descentralização e potência do nível microlocal, os municípios necessitam se alinhar as recomendações de políticas nacionais a partir das realidades encontradas. Associar novas vivências, restruturação das ferramentas de gestão, aproximação da gestão e um cuidado integral são grandes desafios a serem enfrentados por todos os atores sociais.
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