28/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-8A - GT 8 - Direito de todos e Dever do Estado: Condicionantes do Acesso à Saúde |
30164 - (RE) AGINDO NA REFORMULAÇÃO PELA GARANTIA DO DIREITO AO ATENDIMENTO: EXPERIÊNCIA DE ACOLHIMENTO EM UM AMBULATÓRIO DE SAÚDE MENTAL. JOÃO PEDRO SANTOS DA SILVA - IMS-UERJ, ROSENI PINHEIRO - IMS-UERJ
Contextualização Trata da experiência de reformulação do ambulatório de saúde mental em um município do estado do Rio de janeiro com estimativa de 130.439 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O ambulatório oferece atendimento de psicologia clínica e psiquiatria. O serviço recebe usuários por livre demanda ou encaminhados por dispositivos públicos e privados. Descrição Em 2016 havia fila de espera com 400 nomes para atendimento, alguns aguardando a mais de oito meses. Os usuários tinham acesso apenas através das “janelas” entrando em contato com funcionários da prefeitura com influência sobre o serviço de saúde coletiva. A reformulação iniciada em 2017 garantiu ao serviço duas portas de entrada, um fluxo de atendimento consolidado e um processo de “gestão de fila” permitindo a adequação do atendimento aos casos que sugerem maior urgência sem detrimento do direito dos demais usuários. Período de Realização Iniciado em 2017 o projeto teve sua consolidação no ano de 2018 e segue ativo. Objetivo A abertura de um serviço público de saúde mental que sofre diariamente com iniquidades e abandono social, resgatando ao aparelho os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) de universalidade, equidade e integralidade. Resultados Os números coletados no acolhimento do serviço refletem o êxito do projeto. No ano de 2017 foram realizados 969 acolhimentos e 1004 em 2018. A média de usuários na fila de espera passou para 35 pessoas e média de dois meses de espera. A proposta obteve resultados também na redução do processo de medicalização da saúde mental, uso indiscriminado de medicamento e resgate da confiança dos usuários no serviço público de saúde. Para além da experiência no ambulatório outros aparelhos sentiram a necessidade de repensar sua estrutura e chegaram a solicitar suporte para atualização. Aprendizados A participação da construção dos dispositivos de saúde tem apresentado inúmeros desafios, que no cotidiano dos envolvidos na oferta de ações de saúde, resultam no não atendimento das pessoas que buscam por cuidado Não obstante, os serviços que sofrem com as constantes insuficiências estruturais produzem efeitos deletérios tanto nas condições de trabalho e no como no agir do corpo técnico. Com isso os projetos terapêuticos tornam-se inadequados, o que impossibilita cumprir os princípios do SUS. Com isso as pessoas que buscam tratamento e alivio para seu sofrimento nos serviços de saúde, se deparam com um produtor de iniquidades e de mais adoecimentos, e não com um produtor de cuidados. De outro lado, é possível perceber que a cooperação entre equipe técnica e gestora se responsabilizando com a construção do serviço pode ser capaz de superar essas estruturas hostis à população, na luta por condições adequadas. Análise crítica Ao discutir o cuidado em saúde mental se faz necessário considerar as histórias de vida dos sujeitos, na quais os estigmas e violências tornam visíveis que ganhou visibilidade recente e ainda distante usuário, no que tange a apropriação deste sobre os serviços oferecidos. Pensar no cuidado de saúde mental vai além de estar preparado para receber exclusivamente usuários com demandas psicológicas (Domingos, 2009). Acolher é estar preparado para receber a pessoa de acordo com sua singularidade, remover barreias físicas ou não e, quando tratamos de injustiças, a violência é observada além do maniqueísmo corpo x social. Para Domingos (2009) a integralidade em um serviço de saúde mental se manifesta de forma do “menu de programas”, apresentado por Benedetto Saraceno, que inclui assistência, reinserção, lazer hospitalidade e trabalho. A experiência de reestruturação descrita nesta obra, pela ausência de condições adequadas de trabalho e rede, não atinge o modelo proposto por Domingos, porém, resgata para a população o acesso a um serviço de atenção básica, antes negligenciado pela administração do município, fechado para a população.
|