29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-8D - GT 8 - Cuidado em Saúde: Formação, Trabalho e Curriculum |
31023 - O RACISMO E OUTROS MECANISMO DE PRODUÇÃO DA NEGLIGÊNCIA EM SAÚDE CLARICE SANTOS MOTA - UFBA, LENY ALVES BOMFIM TRAD - UFBA, JOÃO NUNES - UNIVERSITY OF YORK, ANA LUISA DE ARAÚJO DIAS - UFBA
A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica como “doenças tropicais negligenciadas” aquelas que proliferam em ambientes marcados pela exclusão social, com parcelas empobrecidas da população e desigualdade social persistente (Werneck, Hasselmann, Gouvêa, 2011; Morel, 2011; Vasconcelos, Kovaleski, Tesser Junior, 2016). Entender o empobrecimento, a exploração, as relações de subordinação e dominação da sociedade capitalista é fundamental para compreender a existências das doenças negligenciadas. Frequentemente, a análise desses agravos desconsidera o fenômeno do racismo estrutural como produtor e reprodutor dessas desigualdades. Desconsidera também que a persistência desses agravos decorrem de negligências políticas, econômicas e científicas. O subfinanciamento de pesquisas, o desinteresse político, a escassez de políticas públicas de saúde voltadas para esses agravos, são elementos que contribuem para a negligência. A negligência em saúde não apenas acontece, ela é causada, seja pela invisibilidade, pela apatia, pela inação ou incompetência (Nunes, 2016). Há um processo de produção da negligência, que abrange tanto as dimensões estruturais como o papel da agência, da omissão como ação social, do não reconhecimento como projeto político. É preciso lembrar também que não são apenas doenças negligenciadas mas pessoas negligenciadas. Populações, territórios, comunidades negligenciadas. A negligência pode resultar da invisibilidade social por não ser reconhecida como um problema de saúde; pode resultar também da apatia, quando há o reconhecimento mas não é dada a devida importância ao agravo; ou pode também resultar da inação ou ausência de ações para responder ou agir diante do agravo, que também pode ser decorrente da incompetência em planejar e executar ações (Nunes, 2016). Seja por um ou mais motivos combinados, a produção da negligência está intimamente ligada à baixa priorização de problemas que afetam boa parte da população mundial. Neste texto, almeja-se refletir sobre a interação do racismo estrutural e institucional com os mecanismos de produção da negligência, analisando a trajetória social da Doença Falciforme no Brasil. A doença falciforme não compõe o rol de doenças negligenciadas definido pela OMS, mas é possível refletir sobre indicadores de negligência política, científica e econômica, dada a pouca priorização da Doença Falciforme na agenda de saúde. Trata-se de fazer essa análise a partir do contexto brasileiro, mas sem deixar de considerar a dimensão global, o lugar que a Doença Falciforme ocupa nas agendas globais de saúde.
O texto foi produzido a partir de um balanço de dez anos de experiência em pesquisa, ensino e cooperação técnica em torno do cuidado integral às pessoas com Doença Falciforme.
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