Clique para visualizar os Anais!



Certificados disponíveis. Clique para acessar a área de impressão!

Associe-se aqui!

Grupos Temáticos

30/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-8F - GT 8 - Territórios Vivos: Saúde em Movimentos

30329 - MORTE E VIDA SEVERINA: REFLEXÕES ACERCA DO PROCESSO DE TRABALHO DO CONSULTÓRIO NA RUA NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
AMANDA RODRIGUES DOS SANTOS - UFF


Trata-se de um projeto de pesquisa vinculado ao Mestrado em Saúde Coletiva no Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal Fluminense. O projeto tem como objetivo refletir junto com os profissionais o processo de trabalho no Consultório na Rua (Cnar), nessa virada de um cuidado até então centrado na Atenção Psicossocial do uso de álcool e outras drogas para um cuidado na dimensão da integralidade proposta pela Atenção Primária à Saúde, no que tange as potências e desafios do dispositivo, tendo como cenário o município do Rio de Janeiro.
Parte-se do pressuposto que as práticas de cuidado em saúde têm uma dimensão intersubjetiva, que ocorre numa dimensão da micropolítica. O estudo pretende conhecer a dinâmica do processo de trabalho a partir da observação participante, entrevistas e grupos focais a partir da percepção dos trabalhadores da equipe de Consultório na Rua. Outro objetivo é conhecer como o dispositivo atua na RAS e identificar as iniciativas intersetoriais estabelecidas, quais suas tensões e possibilidades de oferta do cuidado integral. Considera-se que o ‘estar nas ruas’ é uma condição política, econômica e social, que demarca um cenário complexo, de vulnerabilidades e vulnerabilização.
A metodologia a ser utilizada na pesquisa será a de observação participante e grupos focais, tendo como perspectivas analíticas o acolhimento, acesso e vínculo como práticas políticas e terapêuticas, ancoradas nas relações intersubjetivas favorecidas pelos encontros, levando em consideração a noção de que as práticas são situadas (Haraway, 1995).
Sá (2005) a respeito da dinâmica social contemporânea e suas consequências sobre as possibilidades de solidariedade, cooperação e cuidado com a vida, sobretudo, na realidade social brasileira, coloca como impossível não considerar as práticas de saúde situadas não incluindo o contexto da exclusão social, intolerância, individualismo, exacerbação de comportamentos perversos e violência em geral. A autora refere-se aos estudos de Costa (2000) que apontam um processo de subjetivação das elites brasileiras: o alheamento em relação ao outro e a irresponsabilidade em relação a si. Nesse modelo de subjetivação ou individualização desqualifica-se o outro, pobre, como ser moral, sendo este cada vez menos percebido. Os pobres, pessoas vulnerabilizadas, não são vistos como adversários de classe, interesse ou costume, mas como “resíduo social inabsorvível, com o qual se deve aprender a conviver” (SÁ, 2005, COSTA, 2000:80).
Para Sá (2005) a dimensão sobre o que é subalterno, silenciado ou suprimido na heterotopia da cooperação, da solidariedade e do cuidado com a vida são poucos problematizados dentre os objetivos e estratégias de implementação das políticas de saúde, no modelo assistencial hegemônico, bem como na forma como os serviços são prestados e na produção acadêmica. A autora ainda reflete que o trabalho em saúde, sob a luz da cooperação, solidariedade e o cuidado com a vida, força nossos olhares para o cotidiano dos serviços direcionando para os micro processos, em sua dimensão relacional, intersubjetiva, fazendo com que as análises considerem, sobretudo, os tipos de vínculos que ligam os profissionais às organizações, ao seu trabalho e aos outros, na relação profissionais-população (usuários) (SÁ, 2005).
A compreensão sobre quem tem o poder de “fazer o quê” e “o porquê” é fundamental para reflexões das relações intersubjetivas inerentes à produção do cuidado junto das pessoas em situação de rua, ou seja, o conceito de intersubjetividade é a base que orienta o olhar sobre os saberes e práticas dos profissionais da saúde (AYRES, 2009).
No encontro entre profissionais e usuários, ambos se constituem em ato, num processo de cuidar e ser cuidado e, neste sentido, o ato de “cuidar” atravessa as competências técnicas, mas sobretudo, as questões subjetivas. Desta forma, o processo de trabalho também é composto pela perspectiva de aberturas da linguagem, pluralidade de saberes válidos e algumas normas de uma natureza não somente técnica (AYRES, 2001).
Ayres (2006) ressalta que o cuidado é uma sabedoria prática, no sentido em que os saberes técnico-científicos se concretizam diante de ações instrumentais subordinadas às escolhas compartilhadas, na interrelação de profissionais de saúde e usuários na constituição de uma relação horizontal.
O projeto está na sendo avaliado pelo Comitê de Ética e terá seu início no mês de julho. Até o momento, está sendo realizada a revisão bibliográfica e o estudo de teorias que fundamentam a tema da integralidade no cuidado em saúde dentro no dispositivo do Consultório na Rua.
Busca-se com isso, a partir dos sentidos fornecidos pelos próprios sujeitos – suas histórias, percepções e desejos – refletir sobre as práticas de saúde e cuidado ofertados pelo dispositivo Consultório na Rua, que possa servir de reflexão para outras equipes, outras realidades, a fim de reafirmar a importância da saúde pública universal e integral no Brasil.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

Campus I - Lot. Cidade Universitaria, João Pessoa - PB, 58051-900