29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-35E - GT 35 - Saúde da População Negra e Indígena: Expressões da Vulnerabilidade e do Racismo |
30822 - VULNERABILIDADE SOCIAL E RACISMO NA VIDA DE JOVENS NEGROS: UM ENFOQUE QUE ARTICULA CAPITAL, ESTRUTURAS DE OPORTUNIDADES E INTERSECCIONALIDADE LENY ALVES BOMFIM TRAD - ISC/UFBA
A incorporação da categoria vulnerabilidade no campo da saúde coletiva brasileira se deu especialmente através dos estudos em aids e consagrou, em certa medida, um enfoque centrado em três dimensões: a individual, a social e a programática (Ayres, 2009). Constata-se nos últimos anos a penetração de novoa enfoques, assim como a revitalização do debate em torno deste tema. Propõe-se neste trabalho discutir potencialidades e limites da adoção de uma abordagem multidimensional da vulnerabilidade social que analisa dialeticamente a relação entre ativos (capital econômico, social, simbólico) e estruturas de oportunidades (Estado, Sociedade e Mercado) que constituem fontes de renovação e acumulação de ativos necessários para participar plenamente da sociedade (KAZTMAN; FILGUEIRA, 2006). O modelo aqui proposto contempla ainda uma análise transversal que investiga como as interseções entre raça, gênero e classe social incidem nesta dialética.
Pretende-se destacar e problematizar aspctos teóricos, metodológicos e operacionais do referido modelo, tendo como referência sua adoção em um projeto integrado, composto de três estudos, que abordaram vulnerabilidade social e violência entre jovens negros/as (15 a 29 anos) no Nordeste do Brasil, em especial em Salvador, Recife e Fortaleza, considerando a incidência do racismo institucional neste processo. Para efeitos da discussão pretendida, destacam-se os objetivos de dois estudos: 1) traçar o perfil de ocorrência de eventos violentos que atingem jovens com idade (15 a 29 anos) nas três capitais (2009 a 2013), considerando a associação entre raça/cor e tipo de violência; 2) cartografar o cotidiano de jovens negros (as) em um bairro popular de Salvador, articulando dois níveis de análise: limites e potencialidades de atuação da rede de proteção social do território; modos de vida de jovens negros (as) do Calabar, focalizando sentidos e experiências relacionados com a díade racismo-violência em suas vidas, assim como estratégias de resiliência deste coletivo.
Para o primeiro objetivo referido, realizou-se um estudo descritivo com dados extraídos do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes/VIVA (tipologia da violência sofridas por jovens nas três capitais, lesão, dados do agressor, evolução e encaminhamentos). O estudo etnográfico contemplou imersão sistemática no bairro por 14 meses, realização de grupos focais com atores vinculados a rede de proteção e suporte social do bairro e histórias de vida (jovens negros e negras de 15 a 29 anos).
Dentre as potencialidades do modelo adotado, ressalta-se a oportunidade de apreender, por um lado, o grau de efetividade da rede de proteção social (políticas públicas, dispositivos) para a juventude negra e, por outro lado, a capacidade de agência de jovens, famílias e comunidades para gerir ativos e fazer frente a processos de vulnerabilidade social. Para tanto, foi especialmente útil a combinação entre métodos quantitativos e qualitativos. Por outro lado, revelou-se mais complexo o manejo operacional e analítico do modelo de interseccionalidade, o qual se mostrou crucial para demonstrar graus diferenciados de exposição à vulnerabilidade social no universo pesquisado.
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