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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-35E - GT 35 - Saúde da População Negra e Indígena: Expressões da Vulnerabilidade e do Racismo

31654 - VULNERABILIDADE(S) E SAÚDE INDÍGENA: UMA ETNOGRAFIA JUNTO AS COMUNIDADES INDÍGENAS PATAXÓ DO SUL DA BAHIA.
LEO PEDRANA - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA. ISC, UFBA


Introdução. A análise da vulnerabilidade social segue diferentes abordagens no espaço da saúde coletiva, todavia é interessante ressaltar a convergente atenção pelos processos históricos e os determinantes que definem contextos, condições, situações onde a vulnerabilidade assume heterogêneas conotações e intensidades a partir da capacidade de resposta dos sujeitos coletivos (TRAD, 2017). A proposta das “ecologias dos saberes” (SANTOS, 2007) aponta a violência epistemológica como matriz de múltiplas violências pós-coloniais que se reproduzem nas sociedades do Sul global oferecendo possibilidades de afirmação e reconhecimento de conhecimentos oprimidos na construção de alternativas ao predomínio do saber e poder do Norte (SANTOS, 2018). No âmbito da pesquisa sobre as comunidades indígenas brasileiras resultam limitados os estudos que analisam a vulnerabilidade das populações nordestinas, “os índios misturados” (OLIVEIRA, 1998), como no caso da etnia Pataxó, a quarta mais populosa no Brasil (IBGE, 2010). Objetivos. O trabalho apresenta um recorte referenciados a leitura émica da vulnerabilidade dos Pataxó a partir dos resultados de uma etnografia exploratória realizada entre 2014 e 2018 pela tese de doutoramento em Saúde Pública (ISC, UFBA), sobre a concepções e práticas de atenção diferenciada à saúde indígena. A ambição é, portanto, contribuir, a partir dos contextos considerados para estimular o dialogo interdisciplinar sobre a análise crítica e intercultural da vulnerabilidade a nível de comunidade. Metodologia. A etnografia resultou uma imersão de oito meses em dois territórios representando 11 aldeias Pataxó, através de técnicas mistas: análise documental, entrevistas semiestruturadas e conversas informais com profissionais e usuários da saúde indígena, lideranças político-espirituais e especialistas tradicionais e a observação participada das práticas de atenção. Resultados. As narrativas dos entrevistados indígenas oferecem uma leitura das determinantes étnico-culturais da vulnerabilidade e do adoecimento que superam a visão biomédica e o senso comum de profissionais e gestores de serviços públicos locais. A referência a etnogênese dos Pataxó evidencia processos que definem a memória coletiva das comunidades a partir de múltiplos traumas e episódios de etnicidio que se perpetram até os dias atuais nos conflitos, agressões e violências implicadas na exploração, desapropriação e “retomada” da terra indígena Pataxó sendo, portanto, considerada uma questão prioritária na preservação do bem-estar. A integração das comunidades indígenas nos planos de desenvolvimento turístico de massa que a partir dos anos ´90 definem a área como terceiro polo no Brasil é reconhecida como fator propulsivo de marcantes transformações: a diferenciação social e o prevalecer de interesses econômicos que minam o espirito coletivo e as relações de produção coletiva comunitárias (“o índio que explora o índio”), reproduzindo inéditos conflitos pelo poder e separações entre grupos de famílias de “parentes”. Os efeitos do domínio e hegemonia do modelo de vida “do branco” se expressa também nos modelos de consumo que contribuem a contaminação as “doenças do branco”, vindo definir o jovem e o ancião Pataxó como as categorias mais vulneráveis. Nos contextos comunitários mais hibridizados próximos os centros urbanos a penetração do tráfico de drogas extingue os espaços e formas de sociabilidade comunitária, dizima os jovens e leva ao adoecimento das famílias dos “parentes” indígenas. Por outro lado, a chegada das “novas religiões” também enfraquece a saúde e bem-estar dos Pataxó, reduzindo o “poder protetivo” da espiritualidade tradicional sobre as comunidades. A saúde pública, por fim produz múltiplos efeitos iatrogênicos e a hegemonia do saber biomédico nas práticas de cuidado reduz o poder do conhecimento Pataxó em saúde. Entretanto, as narrativas evidenciam também múltiplas estratégias contra hegemônicas: a luta do “movimento de retomada” das terras indígenas e a ação política dos caciques, o desenvolvimento do comercio e turismo étnico, a persistência de relações de solidariedade na base da troca além da econômica monetizada, o resgate da língua do saber Pataxó pelas escolas indígenas. A resistência e potência do sistema de saúde dos Pataxó, mesmo que enfraquecido se alimenta através dos rituais intraetnicos, as práticas de auto atenção e aquelas orientadas pelos variados especialistas tradicionais. Conclusões. A perspectiva dos atores indígenas que participam a saúde das comunidades Pataxó sobre os processos de vulnerabilização e as estratégias para responder as determinantes sociais, políticas e culturais apresenta um olhar amplo que enriquece as possibilidades de compreensão culturalmente apropriada sobre a vulnerabilidade dos grupos indígenas, oferecendo evidencias uteis para políticas públicas mais inclusivas, integrais e interculturalmente construídas.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

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