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29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-3E - GT 3 - Metodologias em pesquisa e formação sob a ótica da Análise Institucional

29956 - A RESISTÊNCIA MÉDICA COMO ANALISADOR DA PRÁTICA OBSTÉTRICA: DESAFIOS PARA UM CUIDADO INTEGRADO
REGIANE PRADO RIBEIRO - UFMG, CARLA APARECIDA SPAGNOL - UFMG, DANIEL VANNUCCI DÓBIES - UNICAMP


A literatura evidencia que no Brasil, a atenção ao parto e nascimento é caracterizada pelo uso excessivo de medicações e intervenções que podem causar complicações à mulher e ao recém-nascido. No entanto, a Organização Mundial da Saúde e as Políticas Nacionais enfatizam as práticas de atenção ao parto e nascimento baseadas em evidências científicas e na garantia de direitos, pois o parto é um evento fisiológico que necessita de cuidados e não de controle dos profissionais. Os enfermeiros obstétricos e obstetrizes são profissionais legalmente habilitados a prestarem assistência ao parto e nascimento de baixo risco na ausência de complicações. Assim houve avanços na legislação, na qualificação e capacitação de pessoal, bem como na humanização da assistência ao parto. Entretanto, a literatura e a experiência da primeira autora, como enfermeira obstétrica, mostram que na obstetrícia ainda predomina o modelo biomédico e um amplo poder médico nas relações de trabalho. Durante a disciplina “Socioclínica (Pesquisa Intervenção) e Análise Institucional da Prática Profissional”, ministrada no Curso de Mestrado Profissional em Gestão de Serviços de Saúde, vinculado à uma Universidade pública do Estado de Minas Gerais, as inquietações dos autores começaram a tomar forma, pois, permitiu confrontar e/ou articular teoria e prática, a fim de construir, desconstruir ou reconstruir os conhecimentos. Nessa perspectiva, o referencial teórico-metodológico da Análise Institucional, na sua vertente Socioclínica, nos auxilia a compreender determinada realidade social e organizacional, por meio de um conjunto articulado de conceitos, dentre eles o de analisador. O analisador revela algo que permanecia escondido, desorganiza o que estava organizado e dá um sentido diferente aos fatos. Para trabalhar este conceito na disciplina, realizou-se uma videoconferência com um doutorando de uma Universidade Estadual de São Paulo, que o tema do seu mestrado foi o analisador resistência nas relações profissionais em saúde. Na referida disciplina, realizada no segundo semestre de 2018, foi solicitado aos alunos que elaborassem um diário institucional, que propicia momentos de reflexão da prática, por meio da escrita de experiências individuais ou coletivas, revelando o não dito organizacional e a não neutralidade do pesquisador. O objetivo deste trabalho é tomar a resistência médica como um analisador das relações profissionais, a partir dos registros no diário institucional de uma enfermeira obstétrica, que é aluna do referido mestrado profissional e atua na maternidade de um Hospital Escola de Belo Horizonte- Minas Gerais. Na análise verifica-se que prevalece um modelo de assistência à gestante centrado no médico, com pouca abertura para a participação de outros profissionais, no que se refere às condutas e tomadas de decisão. A resistência médica à atuação da enfermagem obstétrica se constitui em um analisador, pois revela como se configuram as relações interpessoais e profissionais no cuidado em obstetrícia, sobretudo no parto e nascimento. Observa-se que as relações de poder conduzem a uma divisão social e técnica do trabalho, sobrepondo a prática médica às outras práticas profissionais, preservando um modelo fragmentado na assistência obstétrica. A análise proposta aqui é pelas resistências e não das resistências, pois, verifica-se que a resistência médica, embora seja fortemente exercida pelos médicos, não é exclusividade deles, visto que profissionais de outras áreas e usuários também sustentam essa ação. Em muitas situações, médicos e usuários apresentam descrédito com relação às condutas de outros profissionais da saúde, como ocorre com enfermeiros obstétricos na assistência às gestantes baixo risco. Outra análise possível, é que o cuidado ao usuário muitas vezes se torna secundário no processo de legitimação social dos médicos, bem como, numa disputa entre os diferentes profissionais. Perde-se de vista que os serviços de saúde foram criados para cuidar das pessoas, mais do que proporcionar prestígios a uma ou outra determinada profissão. Neste sentido, a interdisciplinaridade ampliará as chances de cuidar integralmente das pessoas se estiver centrada no usuário e não na disputa de poder entre categorias profissionais. Além disso, os projetos terapêuticos singulares devem integrar saberes e práticas dos usuários, não se limitando ao conjunto de recomendações médicas nem interdisciplinares. No caso da obstetrícia, além de protocolos, é preciso usar tecnologias leves, que considere a gestante como protagonista do cuidado, para que esta faça suas escolhas de forma livre e consciente no momento do parto. É possível concluir que é necessário avançar na assistência de forma integral baseada em evidências científicas no cuidado à mulher e sua família, mas também no respeito aos saberes e autonomia dos sujeitos, no trabalho integrado em equipe, criando espaços de análises coletivas sobre as experiências, a fim de elucidar novos analisadores.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

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