29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-3E - GT 3 - Metodologias em pesquisa e formação sob a ótica da Análise Institucional |
30002 - ENTRE A ESPECIALIDADE E A INTERPROFISSIONALIDADE: ANÁLISE DE IMPLICAÇÃO PROFISSIONAL E INTERFERÊNCIAS INSTITUCIONAIS LUANA PINHO DE MESQUITA LAGO - EERP-USP, SILVIA MATUMOTO - EERP-USP
Introdução: A Análise Institucional de Práticas Profissionais (AIPP) é um dispositivo de análise em coletivo de seu contexto e das instituições que os atravessam, reveladas pela análise das implicações1. A Opas tem incentivado o movimento instituinte da interprofissionalidade para atender as necessidades de saúde nas comunidades com vistas ao cuidado integral2. O investimento nas práticas colaborativas no âmbito da formação em serviço como propõem as Residências Multiprofissionais em Saúde (RMS) se dá pela articulação em diferentes dimensões interdependentes3, que são atravessadas por elementos de manutenção do cuidado instituído fragmentado. Objetivo: Revelar movimentos de algumas instituições que atravessam as práticas dos residentes odontólogos. Metodologia: Neste trabalho apresentamos parte dos resultados de uma pesquisa-intervenção que empreendeu o dispositivo da AIPP e observação nos serviços da Atenção Básica (AB), em 2017 com residentes multiprofissionais de 7 profissões diferentes em um município do interior do Estado de São Paulo. A primeira autora é odontóloga, ex-residente multiprofissional e estudante de pós-graduação e, portanto, há escolhas a partir de suas implicações e sobreimplicações. Resultados e discussão: No contexto investigado, uma RMS em Atenção Integral à Saúde previa carga horária de 60% de atuação na AB em seis Unidades de Saúde da Família (USF), principal cenário de práticas. As equipes de saúde da família foram implantadas em 1999, em um movimento de reestruturação da rede municipal, com a missão fundadora serem unidades-escola, geridas por uma Universidade pública. Em 2000, houve investimentos federais no fortalecimento da saúde bucal na AB4 e a qualificação de profissionais fez-se necessária. Nas USFs estudadas não foram previstas equipes de Saúde Bucal no modelo tradicional proposto, mas, houve contratação de cirurgiões-dentistas para atuarem nas atividades de assistência e preceptoria. Os dentistas-residentes tem atividades na AB com foco na prevenção, promoção e planejamento em saúde bucal. A assistência odontológica é em uma unidade de nível secundário. Na dimensão macro, das políticas, contam como atravessamentos ao cuidado integral em saúde, os cortes federais de gastos na saúde e educação instituídos pela Emenda Constitucional 95 e a baixa cobertura (22,41%) e investimentos na saúde da família no município5. Estes movimentos colocam em risco projetos indutores como a RMS, resultando na precarização do trabalho dos residentes. Na dimensão meso, há contradições no apoio institucional da Universidade pública e disputa de forças entre as instituições Ensino-Pesquisa e Extensão. E na dimensão micro, disputas de poder e pouco protagonismo político dos residentes na defesa da saúde pública. Neste sentido, a atuação do dentista-residente, com seu duplo status de residente-estudante e residente-profissional de saúde, membro da equipe mínima, foi frágil em potencializar a interprofissionalidade, agiu como ator indutor a depender do grau de vínculo intra-equipe. No campo comum, o dentista-residente conseguiu compartilhar o seu saber em atividades de promoção de saúde na comunidade, ações intersetoriais na escola e certos momentos nas reuniões de equipe, potencializado pelo acompanhamento do tutor de campo. Por outro lado, suas implicações com seu status de residente-especialista tendiam à camuflagem em uma equipe matricial, reproduzindo o instituído da formação uniprofissional especializada. A valorização da tutoria de área da odontologia, da formação teórico-prática especializada e sua capacidade em resolver os problemas específicos, era contraposto à resistência às consultas compartilhadas com outros membros da equipe, demarcando limites interprofissionais a serem explorados. Considerações finais: O cuidado integral nestes territórios enfrenta obstáculos, que precisam ser repensados em coletivo, com a Universidade e o município. A prática colaborativa interprofissional na formação em serviço disputa espaço com a prática especializada instituída. Esta última ganha força no cenário atual de desinvestimentos (de tempo e dinheiro) em ações compartilhadas na saúde e na educação e a reflexividade pela análise das implicações dos profissionais pode ser uma ferramenta para ressignificar o compromisso profissional com o cuidado integral. 1-Monceau G. Implicação, sobreimplicação e implicação profissional. Fractal, Rev. Psicol., Rio de Janeiro, 20 (1):19-26; 2- Opas. Educação interprofissional na atenção à saúde: melhorar a capacidade dos recursos humanos para alcançar a saúde universal. Relatório da reunião. Bogotá, Colômbia. 7 a 9 de dezembro de 2016. Washington, D.C.: OPAS; 2017. 3- D’Amour D.; Oandasan I. Interprofessionality as the field of interprofessional practice and interprofessional education: an emerging concept. J Interprof Care.1(1): 8-20, 2005. 4- Brasil. Portaria N.º 1444/ GM em 28 de dezembro de 2000. 5- Município. Plano Municipal de Saúde 2018-2021. Município, 2019.
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