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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-3E - GT 3 - Metodologias em pesquisa e formação sob a ótica da Análise Institucional

30140 - ENSINO DA SAÚDE DA MULHER NO CURSO DE MEDICINA: A ANÁLISE DE DIÁRIOS NO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PELO TRABALHO NA SAÚDE (PET-SAÚDE)
JULIA BRANDI - UFSJ, CÁSSIA BEATRIZ BATISTA - UFSJ


Apresentação: Na década de 1980, as críticas ao modelo instituído de ensino médico (flexneriano) se intensificam após a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS). Nesse novo momento histórico-político, discute-se a readequação da formação, a ser orientada para atender as exigências desse sistema que preconiza o modelo biopsicossocial de atenção (DE MARCO, 2006). Sobre a mudança curricular consequente a essas críticas, Mourão et al (2007) discutem ser um processo conflituoso e de muitas resistências, no qual as práticas educacionais mais frequentes assumem, muitas vezes, um papel conservador de manutenção do já instituído. As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) de 2014 institucionalizaram o esforço de transformação da formação tecnicista e curativista, atuante até então, em uma outra generalista e preventivista. Além disso, o documento dá enfoque para a inserção precoce do aluno na prática e no serviço. Cita-se o PET-Saúde dentre as estratégias de incentivo a reorientação da formação através da interação entre escolas e serviços de saúde. O PET Gradua SUS, desenvolvido entre 2016 e 2018, em uma universidade federal do interior de Minas Gerais, teve como enfoque no curso de Medicina, a saúde das mulheres. A iniciação científica retratada aqui optou como um dos eixos da pesquisa-intervenção: o ensino da saúde da mulher no curso em questão. A principal hipótese do estudo era que, mesmo se tratando de um curso implantado após as últimas DCNs, o ensino continuava majoritariamente pautado nos conceitos biomédicos e no paradigma de educação especialista da Ginecologia e Obstetrícia, distanciando-se do cuidado integral preconizados pelas Diretrizes e pela Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) de 2003.

Objetivos: Analisar o ensino de Saúde da Mulher na formação médica identificando, através das experiências dos participantes do PET-Saúde, coerências e distanciamentos entre a formação e as DCNs.

Metodologia: Com aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa, esse estudo qualitativo orientou nove monitoras discentes do PET a produzirem diários institucionais (HESS, 1998) acerca de suas experiências nas duas disciplinas específicas de saúde da mulher que acontecem nos primeiros anos da graduação, anteriores ao internato médico. A produção total foi de 36 diários. Para Pezzato & L’Abbate (2011) pode-se entender o diário como uma ferramenta de intervenção com o potencial de produzir um movimento de reflexão e desnaturalização da prática. Diante da potência dessa ferramenta, esse estudo procurou analisar os diários das aulas (teóricas e práticas) para conseguir traçar paralelo entre o ensino e as novas DCNs. Como suporte para contextualização sócio-histórica e teórica do cenário da formação contou-se ainda com o Projeto Pedagógico do Curso e os Planos de Ensino das disciplinas.
Resultados e discussão: As nove discentes petianas autoras dos diários pertenciam às três primeiras turmas do curso, correspondendo às experiências de implementação das disciplinas. A análise documental apontou uma maior proximidade com as DCNs no PPC do que nos Planos de Ensino e no cotidiano das aulas. O currículo segue as Diretrizes prevendo a formação baseada em competências em três áreas: Atenção à Saúde, Gestão em Saúde e Educação na Saúde. Além disso, no PPC, as disciplinas são nomeadas como Cuidado Integral à Saúde da Mulher, ao invés de especialidades médicas, e suas ementas contemplam atividades de integração ensino-serviço, preconizam o uso de metodologias ativas de ensino e a integralização e interdisciplinaridade do cuidado. No entanto, na prática educativa predomina a abordagem excessivamente biologiscista da Saúde Reprodutiva e Materna, distanciando-se do cuidado integral, o que favorece a pseudoespecialização e contrapõe a formação generalista preconizada. Nota-se um enfoque na atenção às necessidades individuais de saúde, não contemplando satisfatoriamente os eixos de Gestão e Educação em saúde. Os diários também mostraram diferentes graus de adesão e compreensão docente do currículo, apesar de não elucidar suas motivações. A análise pôde reforçar, no contexto do curso, a centralidade do docente na implantação reforma. Por fim, percebe-se uma insegurança dos discentes decorrente da falta de clareza institucional dos objetivos de aprendizagem das disciplinas em questão.

Conclusão: mesmo se tratando de um curso recém estruturado e de existirem esforços pedagógicos para a concretização do novo currículo, os diários permitiram elucidar contradições no cotidiano do ensino, o qual continua majoritariamente pautado em modelos conservadores. Nota-se, portanto, um distanciamento da formação preconizada pelas DCNs de 2014 e necessária para o SUS, na perspectiva da saúde coletiva.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

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