29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-3F - GT 3 - Transformações nas profissões em saúde: análise das Práticas Profissionais em curso |
31062 - DESAFIOS DO PESQUISADOR EM CAMPO NA PESQUISA-INTERVENÇÃO: EXPERIÊNCIAS COM O GUIA DA GESTÃO AUTÔNOMA DE MEDICAÇÃO (GAM) NO RIO GRANDE DO NORTE
INDIANARA MARIA FERNANDES FERREIRA - UFRN, CARLOS EDUARDO SILVA FEITOSA - UFRN, IASMIN SHARMAYNE GOMES BEZERRA - UFRN, ANA KARENINA ARRAES AMORIM - UFRN
A preocupação e o sofrimento em torno do uso acrítico de medicamentos psiquiátricos, no Quebec/Canadá, originou a criação do Guia da Gestão Autônoma de Medicação (GGAM). O GGAM é um "livro-guia" produzido por usuários da saúde mental como estratégia de cuidado que visa coletivamente a busca por alternativas de tratamentos que não priorizem o uso de psicotrópicos. Com base nos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e da Reforma Psiquiátrica Brasileira, nasceu o GGAM-BR, adaptado e validado no contexto brasileiro. Seus princípios norteadores são a qualidade de vida subjetiva, a autonomia e o respeito aos direitos dos usuários. No Rio Grando do Norte, o GAM foi implantado em um Centro de Atenção Psicossocial Ad III (CAPSAD III) em Natal e em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) no município de Currais Novos por pesquisadores que apostaram nos princípios da GAM como estratégia de cuidado no campo da saúde mental em contextos nos quais os problemas com uso acrítico e abusivo de medicamentos, álcool e outras drogas, coloca-se como problema importante na vida dos usuários do SUS. Com base nessas experiências, realizamos uma pesquisa-intervenção fundamentada na Análise Institucional, compreendendo que esse modo de fazer pesquisa constitui um dispositivo de intervenção que assume e afirma a dimensão política e a sua indissociabilidade no processo investigativo. Ou seja, pressupõe uma afirmação ético-política na pesquisa. Os grupos aconteceram semanalmente com participação de pesquisadores, usuários e profissionais do serviço. A cada encontro foram produzidas narrativas - construídas, validadas e avaliadas pelos grupos. Diários de bordo foram utilizados como ferramenta de registro de afetações imanentes ao longo da experiência, possibilitando a análise da implicação para análise de forças e instituições que atravessaram a pesquisa. A supervisão também foi usada como dispositivo para a análise de implicações. Durante o processo, o lugar do pesquisador-militante esteve em análise, produzindo reflexões sobre os efeitos e desafios colocados pelo campo, sem perder de vista os princípios ético-políticos de sustentação da participação e da autonomia dos usuários e trabalhadores participantes. Assim, foram produzidos analisadores que nos permitem refletir sobre essas experiências. Resultados e discussão: Em ambos os contextos, na relação com os usuários, a afirmação ética-política teve como efeitos a produção de vínculos no campo da pesquisa que seguem se sustentando em outros espaços fora da instituição. Vínculos esses que se desdobraram em parceiras de trabalho (desejo dos usuários de mediarem outro grupo GAM com um coletivo de luta antimanicomial quando convidados) mas que também convocaram a sustentar uma posterior rede de apoio. Na relação com os profissionais revelaram-se tensões de perspectivas, modelos de cuidado e valores no campo, que seguem como objeto de discussões em espaços coletivos de encontro. Considerações finais: Na medida em que se assumiu uma posição ético-política no campo pesquisado, tensionamentos foram provocados a partir de posicionamentos antimanicomiais e antiproibicionistas, no que se refere ao uso dos medicamentos psiquiátricos e ao cuidado em álcool e outras drogas. A posição de pesquisador-militante apareceu-nos como um modo operante de cuidado e de fortalecimento do protagonismo dos usuários, uma vez que esses puderam construir redes de apoio não apenas dentro da instituição CAPS mas em outros espaços ao se aproximarem de um coletivo de luta antimanicomial, assim dispondo de uma rede de autocuidado e de autonomia potencializada pelos encontros. Por outro lado, gerou tensões e atravessamentos no serviço e na relação com as equipes de profissionais que produziram reflexões sobre as formas de participação do usuário na realidade da atenção psicossocial.
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