29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-3D - GT 3 - Formação em saúde: reflexões a partir da Análise Institucional |
29976 - A ANÁLISE INSTITUCIONAL DAS PRÁTICAS PROFISSIONAIS EM TRÊS EXPERIÊNCIAS DE FORMAÇÃO NO ÂMBITO DA SAÚDE COLETIVA DANIEL VANNUCCI DÓBIES - UNICAMP, SOLANGE L'ABBATE - UNICAMP, ANA CRISTINA DOS SANTOS VANGRELINO - SMS CAMPINAS
A Saúde Coletiva (SC) reconhece os fenômenos políticos e sociais no processo saúde-doença e nas práticas profissionais. Em um campo em permanente transformação, os profissionais estão imersos num cotidiano que os desafia a produzir novos conhecimentos e novas práticas. Nesse sentido, a formação profissional estará sempre inacabada. Guiada pelo princípio de “transformar para conhecer”, a Análise Institucional (AI), fundada por René Lourau e Georges Lapassade nos anos de 1960 na França, enfatiza a participação dos sujeitos na dinâmica institucional, constrói um referencial teórico-metodológico a partir de abordagem crítico-ética, e desenvolve conceitos potentes para analisar as práticas profissionais. Diante da articulação entre SC e AI descrita acima e em estudos da segunda autora desse trabalho, alguns membros de um grupo de pesquisa sobre AI e SC trabalham com a Análise Institucional das Práticas Profissionais (AIPP) na formação de profissionais no âmbito da SC. Embora a AI abordasse a análise das práticas nas intervenções desde a sua origem, a AIPP é algo definido mais recentemente por Gilles Monceau, como uma das modalidades da Socioclínica Institucional – uma vertente mais atual da AI. Nesse resumo, será descrito o conjunto de três experiências, em sequência temporal, nas quais a AIPP foi utilizada em processos formativos articulando AI e SC, com o objetivo de compartilhar as potencialidades dessa estratégia em diferentes situações. A primeira ocorreu no primeiro semestre de 2017, quando a coordenação do setor responsável pela educação dos profissionais da secretaria de saúde de um município do estado de São Paulo encomendou ao referido grupo de pesquisa um curso de AI para os profissionais desse setor e convidados de outros setores desta secretaria. Acordamos uma formação que entrelaçasse teoria e prática, a qual nomeamos “curso-intervenção”. Foram oito encontros quinzenais com duração de três horas cada, denominados movimentos. Em cada um, houve espaço mais direcionado à discussão teórica e outro ao compartilhamento e à análise das práticas. Cada movimento começava com a restituição do anterior, destacando um conceito que mais dialogasse com as experiências vividas e convidando os doze participantes à experimentação e reflexão dos conceitos por meio da análise de suas práticas profissionais. Seis membros do grupo de pesquisa participaram, sendo que, a cada movimento, dois coordenavam as atividades e os demais ficavam como observadores, havendo um rodízio entre esses dois lugares. A segunda experiência aconteceu na disciplina “Análise Institucional: teoria e prática em Saúde Coletiva”, no segundo semestre de 2018, inserida no programa de pós-graduação em Saúde Coletiva de uma universidade pública do estado de São Paulo. A disciplina oferecida bianualmente pela segunda autora deste trabalho, neste ano, contou com colaboração de um membro do grupo de pesquisa – o primeiro autor desse resumo – e o programa, em construção até o final do semestre, teve uma grande parte da carga horária destinada à análise das práticas profissionais dos estudantes. Buscou-se, ao longo das aulas, coletivizar a gestão e a análise, colocando em questão a heterogestão típica da relação professor-aluno. Nos trabalhos finais, os onze estudantes abordaram suas práticas profissionais, sendo que seis realizaram trabalhos a partir de intervenções. A terceira experiência foi em maio de 2019 na oficina “Análise de práticas profissionais na Saúde Coletiva” em um colóquio internacional realizado em Goiânia. Durante três horas, os treze participantes realizaram uma análise de práticas a fim de que a própria experiência suscitasse questões para dialogar com aspectos teóricos da AIPP, invertendo a tradicional sequência “teoria-prática”, e reforçando o conhecimento presente nas práticas e a produção que decorre das suas análises. Embora as três experiências tenham singularidades, observamos que a análise de implicação foi fundamental no processo formativo, pois os profissionais identificaram como as instituições permeiam suas práticas, ampliando o campo de análise e as possibilidades de intervenção. A AIPP proporcionou um espaço coletivo de análise das implicações, permitindo o contato com as dimensões afetivas, profissionais e ideológicas, inclusive com algumas que eram ignoradas ou estavam obscuras. No conjunto das experiências, aprendemos a importância de manter a atividade aberta, sem programa ou roteiro definidos, abrindo possibilidades para que, na construção compartilhada do processo, emergissem em ato os modos como participantes se relacionam e as normas que incidem sobre suas práticas. Para tanto, é fundamental elucidar os analisadores e analisar, coletivamente, as implicações dos participantes e dos coordenadores-professores em relação à experiência e também as incidências da sobreimplicação, em busca de um processo instituinte, no qual a formação resulte de um compartilhar efetivo entre os diferentes sujeitos.
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