28/09/2019 - 15:00 - 16:30 EO-3B - GT 3 - Análise Institucional e Saúde Coletiva: inventando enfrentamentos na construção compartilhada do SUS |
29964 - PESQUISA-AÇÃO EM SAÚDE: INVESTIGAÇÃO, INTERVENÇÃO, PRODUÇÃO DE SABERES E OS DESAFIOS NUM CONTEXTO DE MUDANÇAS MARINA FERREIRA DE MEDEIROS MENDES - GRUPO DE ESTUDOS DE GESTÃO E AVALIAÇÃO EM SAÚDE- GEAS. INSTITUTO DE MEDICINA INTEGRAL PROF. FERNANDO FIGUEIRA-IMIP., ISABELLA CHAGAS SAMICO - GEAS/IMIP, HYLANY BEZERRA DE ALMEIDA - GEAS/IMIP, CECYLIA ROBERTA FERREIRA DE OLIVEIRA - GEAS/IMIP
Introdução: Problemas vinculados à coordenação dos cuidados são apontados como principais desafios à organização dos sistemas de saúde, face à fragmentação das redes. Fatores relacionados ao sistema de saúde e suas políticas, organização da rede e perfil dos profissionais podem influir na coordenação. Este estudo é recorte da pesquisa multicêntrica “Impacto das estratégias de integração da atenção no desempenho das redes de serviços de saúde em diferentes sistemas de saúde na América Latina - Equity - LA II”, sob coordenação do Consórcio de Saúde da Catalunha-ES, com participação de seis países latino-americanos. O presente estudo tem como objetivo abordar a estratégia metodológica produzida para construção e implantação da intervenção “Reuniões conjuntas entre níveis de atenção” no município de Caruaru, Pernambuco, Brasil.
Método: Estudo qualitativo descritivo e interpretativo, baseado em dez entrevistas e análise de documentos relativos à construção e implantação da intervenção, fundamentado na pesquisa-ação. A rede de saúde de Caruaru é composta por 75 unidades de Atenção Primária (AP) e 18 unidades de Atenção Especializada (AE). Para condução do processo foi instituído um comitê condutor local (CCL), formado por profissionais, gestores e pesquisadores. O processo foi desenvolvido no período de 2016 a 2017, em quatro fases: devolução dos resultados do estudo linha de base; seleção dos problemas e intervenções; desenho e planejamento; avaliação e ajustes. Foi realizada análise temática de conteúdo, com geração mista de categorias.
Resultados e discussão: A construção da intervenção caracterizou-se por quatro fases, com dois momentos articulados: pactuação da agenda estratégica e análise coletiva das propostas de enfrentamento. Foram realizadas reuniões mensais do CCL e constituída uma plataforma de profissionais (PP) da AP e AE. Os principais problemas destacados: falta de acordos quanto à referência e contrarreferência, incipiência de reuniões conjuntas e discussão de casos clínicos, precária comunicação entre profissionais, encaminhamentos desnecessários da AP, falta de confiança na AP pelos especialistas e entraves no sistema informatizado. Após discussões, foi consenso ter como foco “melhorar a comunicação entre profissionais” por considerarem o potencial em repercutir sobre muitos problemas. Na intervenção, de modo transversal, foram constituídos os processos de educação permanente, monitoramento e avaliação. As capacitações nas áreas prioritárias foram linha de cuidado em diabetes e saúde mental. O desenho da intervenção contemplou descrição, definição de objetivos, atividades para implantação, monitoramento, resultados e avaliação. Após análise de viabilidade, a intervenção selecionada foi “Reuniões conjuntas entre níveis de atenção”, tendo como componentes: Interconsulta remota entre níveis, linha de cuidado de diabetes e discussão conjunta de casos clínicos em saúde mental. O desenvolvimento compreendeu ciclos que se retroalimentaram. Esse processo contribuiu para autocrítica e reflexão sobre a necessidade de mudanças, além do protagonismo dos atores locais. As atividades foram sendo incorporadas nas unidades. As reuniões do CCL captavam mudanças no processo, deliberações e encaminhamentos. Os relatórios eram enviados para todos participantes, sendo a execução, estratégias e avanços discutidos nas reuniões seguintes. Após sete meses da experiência em desenvolvimento, fatores relacionados ao contexto da crise política e econômica do país e a mobilização para eleições municipais em 2016, proporcionaram um cenário de fragilidades, incertezas e perda de informante-chaves, influenciando negativamente a participação e adesão dos profissionais. Como estratégias foram intensificados contatos com nova gestão, repactuação coletiva da proposta, monitoramento nas unidades e acordos de cooperação.
Considerações finais: A experiência de construir uma intervenção a partir da metodologia da pesquisa-ação constituiu-se numa inovação na forma de planejamento e edificação das proposições. Os diversos olhares (gestores, profissionais e pesquisadores) contribuíram para ampliar a identificação de fragilidades e entraves, pondo em prática mecanismos de superação. Foi possível tornar esforços isolados em movimentos articulados, mantendo a proposta da intervenção com adaptação à nova realidade que emergiu no contexto de mudanças da gestão, na rede de saúde e no território. Este modo de produzir/pesquisar possibilitou o encontro entre os dados subjetivos e objetivos, colocando em evidência as implicações dos sujeitos como produtores de saberes, bem como as reflexões de suas ações mobilizadas pelos acontecimentos nos espaços-tempo desta investigação. Percebeu-se que a implementação exige tempo e resiliência, pela complexidade dos critérios e perfil dos atores. A sustentabilidade dependerá do compromisso da gestão e de investimento para conhecimento mútuo entre níveis, atuando como uma força sinérgica.
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