29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-3C - GT 3 - Gestão e Controle Social |
31336 - O DEVIR DA GESTÃO HOSPITALAR: POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE INSTITUCIONAL DANIEL DE SOUZA BARCELOS - UNICAMP E IFSC, GASTÃO WAGNER DE SOUSA CAMPOS - UNICAMP
Introdução: A Gestão Hospitalar (G.H.), enquanto campo de conhecimento, tem múltiplas conexões. Considerar a G.H. como uma “instituição” é diferente do “estabelecimento” chamado hospital. Através da Análise Institucional (A.I.), o termo adota outro significado. Lourau apud L'Abbate (2012) argumentava que toda instituição é o que resulta da interface de três momentos: o da universalidade, o da particularidade, e a singularidade. Devir é nunca imitar, nem fazer como, nem se conformar a um modelo. Não há um termo do qual se parta, nem um ao qual se chegue ou deva chegar. Os devires não são fenômenos de imitação, nem de assimilação, mas de dupla captura, de evolução não paralela (Gilles Deleuze); Fluxo permanente, movimento ininterrupto que dissolve, cria e transforma todas as realidades existentes (Houaiss). Aqui, a GH como uma instituição que se transforma ou pode se transformar. Que é, mas pode vir a ser. Dinâmica e complexa, com seus analisadores. Objetivos: Compreender o contexto da gestão hospitalar, tendo por base uma experiência em um hospital público, à luz de alguns elementos da A.I. Revisitar parte de um estudo, onde a criação de uma equipe multidisciplinar (grupo ou coletivo) pode mitigar os impactos de internações. Metodologia: Relato de experiência em pesquisa qualitativa, através dos métodos de pesquisa-ação e pesquisa-participante. O trabalho inicial não foi elaborado sob a ótica da A.I., mas aqui utiliza-se uma perspectiva sócio-histórica. Resultados e discussão: As ações foram desenvolvidas no Hospital de Clínicas de Porto Alegre HCPA, um hospital público, federal. O gestor, trabalhador e usuário estão implicados, atravessados pelas questões políticas, libidinais, econômicas, sociais, ideológicas e pelas instituições que circulam neste território” (ABRAHÃO, 2013). Não há como configurar novos modelos de atenção hospitalar, sem que sejam acompanhados igualmente por novos tipos organizacionais e novos modelos de gestão. Atenção e gestão são elementos interdependentes.” (CAMPOS; AMARAL, 2007). L’Abbate (2012) cita que a A.I. tem por objetivo compreender determinada realidade social e organizacional, a partir dos discursos e práticas dos sujeitos. O HCPA implantou o projeto E-MEI, fruto da parceria entre equipes do Serviço de Emergência (“E”) e do Serviço de Medicina Interna (“MEI”), contando com a participação de diversos profissionais, focados na redução do tempo de permanência do paciente. Apesar das situações desencadeadoras da pesquisa-ação não terem sido conduzidas com o pano de fundo da A. I., aqui apontam-se elementos que fazem parte deste arcabouço: Se fazia necessária uma intervenção para reduzir a média de permanência nos leitos hospitalares. Como “intervenção”, considera-se: tomar parte em uma ação, num assunto em curso, na intenção de influir sobre seu desenvolvimento. L’Abbate (2012) considera mais adequado para a aplicação na A.I. a noção de intervir/vir entre. Muito embora se tenha como senso comum a conotação de autoritarismo para o conceito (principalmente por motivos históricos), aqui interpreto a intervenção como uma forma da G.H. estar entre aqueles que compunham o coletivo imbuído com a difícil missão de prestar uma assistência de qualidade e ao mesmo tempo oportunizá-la a mais pacientes, por meio do aumento do giro de leitos. Por encomenda da Direção do HCPA, criou-se uma equipe multidisciplinar. Ao que parece, esta ação esteve mais alinhada ao conceito propriamente dito de encomenda: é o pedido oficial da intervenção feito pela direção de um grupo, setor ou organização, e é o que deflagra o processo de intervenção. As demandas correspondem às solicitações, carecimentos e desejos dos participantes do grupo com o qual se vai trabalhar. Incialmente afinadas com a encomenda, podem sofrer mudanças no decorrer do processo de intervenção. Minha participação, como gestor, foi imbricada com a atuação como pesquisador, e portanto, implicado e envolvido diretamente. Nesta perspectiva, ainda que as estratégias e dispositivos de gestão utilizados possam vir a ser, mais ou menos favorecedores de mudanças na qualidade da atenção, essas abordagens não podem ser avaliadas de forma descontextualizada com relação à singularidade dos casos/realidades em que são adotados (AZEVEDO et al. 2010). Considerações Finais: Os resultados do estudo no HCPA demonstraram uma redução no tempo de permanência nas internações pelas doenças prevalentes, tendo como fator importante a criação da equipe E-MEI, contribuindo para o cumprimento de suas finalidades sociais junto ao SUS, e para o aprendizado das equipes de profissionais e estudantes. É importante que existam outros processos articulados para diminuir a ocupação da Emergência, bem como para o uso eficiente da estrutura hospitalar. O sucesso da iniciativa dependeu muito mais de atitudes das pessoas, co-gerindo seus processos de trabalho, atuando coletivamente e de maneira sinérgica.
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