29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-2A - GT 2 - Pesquisa Qualitativa em Saúde no Norte do Brasil: Uma Abordagem de Pesquisa Promotora de Equidade |
31061 - AÇÕES INTEGRATIVAS EM ATENÇÃO À SAÚDE NAS COMUNIDADES RIBEIRINHAS DA REGIÃO DA TRANSAMAZÔNICA E XINGU ELIAQUIM ALMEIDA DOS SANTOS - UFPA, RUTE CAROLINE RAMOS SOARES - UFPA, FELIPE AZEVEDO ALBERTO NASCIMENTO - UFPA, ERIKA FERNANDES COSTA PELLEGRINO - UFPA, BRUNA GRAZIELLE CARVALHO JACOMEL - UFPA, FERNANDA NOGUEIRA VALENTIN LUCIANELLI - UFPA, HELANE CONCEIÇÃO DAMASCENO - UFPA, ANTÔNIO VIVALDO PANTOJA - UFPA, RENAN ROCHA GRANATO - UFPA, DALBERTO LUCIANELLI JÚNIOR - UFPA, OZÉLIA SOUSA SANTOS - UFPA
CONTEXTUALIZAÇÃO
As comunidades ribeirinhas da região Transamazônica e Xingu têm ficado à margem dos princípios de atenção à saúde do SUS, vivendo em situação de iniquidade pela ausência de serviços de saúde em seus diferentes níveis de complexidade. Isolada e dispersa fisicamente, sofrem com transporte e acesso aos centros urbanos, e sua vulnerabilidade social foi potencializada pelas mudanças a partir da implantação da Hidrelétrica de Belo Monte, que não cumpriu as condicionantes do impacto socioambiental. O agravo desse abandono social motivou acadêmicos do curso de medicina a uma expedição de saúde com ações intervencionista e educativa.
DESCRIÇÃO
A expedição foi planejada por quatro meses para agregar diversidade dos serviços sociais e de saúde. A fim de que fossem bem distribuídos e ordenados, reunimos equipes de trabalho multiprofissionais: docentes e discentes do curso de medicina da UFPA Altamira, além de profissionais liberais voluntários em parcerias interinstitucionais. A Ilha do Chicote, no município de Altamira - Pará, foi escolhida como base, por sua posição geográfica estratégica entre as regiões ribeirinhas rio acima. A equipe realizou o atendimento da população ribeirinha que se deslocou até a ilha, por um dia. Os atendidos preencheram um questionário socioeconômico para identificação e passaram pela triagem para pressão arterial, dosagem rápida de glicose, dados antropométricos e teste rápido de malária. Então, responderam formulário autorreferido de condição de saúde para diagnóstico e foram encaminhados. Houve atendimento médico, de enfermagem, odontológico, fisioterapeuta e de atenção farmacêutica; e doações que incluíam cestas básicas. Com supervisão docente, os alunos participaram ativa e diretamente de todas as etapas e desenvolveram atividades de educação em saúde sobre hábitos de higiene, alimentação saudável e sexualidade para adolescentes.
PERÍODO DE REALIZAÇÃO
Dia 24 de março de 2019.
OBJETIVO
Desenvolver ações de atenção à saúde nas comunidades ribeirinhas às margens do rio Xingu na região transamazônica, integrando acadêmicos de medicina em espaço de prática diferente do contexto hospitalocêntrico e das unidades básicas de saúde, para uma atuação com perspectiva mais humanística, crítica e reflexiva sobre a realidade dessa população.
RESULTADOS
Atendemos 111 pacientes, 48 homens e 63 mulheres, com média de idade de 36 anos. Dos atendidos, 30 eram crianças ou adolescentes. Vivem majoritariamente da pequena agricultura (72,3%), pesca (64,4%), extrativismo (21%). 69% recebem bolsa-família. Dos acima da idade escolar, 20,4% nunca frequentaram a escola e 24,5% são analfabetos. O saneamento é precário; 92% não têm tratamento de esgoto e 89% não têm acesso à água potável tratada. Sobre serviços de saúde, 47% das pessoas afirmou não ter acesso à atenção básica, enquanto 30% referiram receber assistência em ações pontuais realizadas nas comunidades. Sobre hábitos de vida, 13,2% dos adultos fumam, 36% ingerem bebida alcoólica (em média 2,5 vezes por semana), 31,8% fazem atividade física e 65,3% consideram que sua alimentação não é saudável. De fato, entre os adultos a média da pressão arterial sistólica foi de 131mmHg, enquanto a diastólica foi de 84,7mmHg. O valor de glicemia capilar de jejum teve média de 116 mg/dL e a média de IMC foi de 67,67kg/m2. Das queixas relatadas e diagnósticos feitos nos atendimentos médicos, 22,4% dos adultos apresentaram doenças crônicas não transmissíveis (hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus ou síndrome metabólica). A queixa mais prevalente foi lombalgia, com 24,5% de ocorrência, seguida por queixas gastrointestinais (14%) e genitourinárias (10,5%). No grupo de até 17 anos (n=21), 42,8% apresentavam queixas dermatológicas, principalmente dermatofitoses (33,3%), seguidas de 38,1% de queixas urinárias e 23,8% de queixas gastrointestinais.
APRENDIZADOS E ANÁLISE CRÍTICA
O baixo acesso aos serviços públicos essenciais se mostra na saúde da população, o que se vê em especial nas crianças e adolescentes, que possuem alto índice de doenças parasitárias e infecciosas. A implantação de um empreendimento como Belo Monte pode ter impactado a qualidade da água e alterado dinâmicas relacionadas à pesca e à ocupação territorial, com ameaça à segurança alimentar e maior incorporação de alimentos industrializados à dieta, o que pode ter contribuído para a piora das doenças infecto-contagiosas e crônicas. Ademais, inserir alunos de medicina em uma cultura antropológica e social diferente da urbana possibilitou oportunidades para o uso de habilidades médicas e profissionalismo, além de permitir um entendimento particular sobre o processo saúde - doença dos ribeirinhos. De fato, é importante o contato com diversas instâncias de controle social para o bom desenvolvimento de uma ação de Saúde Pública que supere a lógica do assistencialismo e possa trazer real acesso à saúde como direito.
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