30/09/2019 - 15:00 - 16:30
EO-2C - GT 2 - Pesquisa qualitativa em saúde: A construção de diálogos de territórios |
29823 - (DES)CONFIANÇA E EQUIDADE NAS RESPOSTAS DE USUÁRIOS AO TRATAMENTO PARA USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS: O OLHAR DOS PROFISSIONAIS
BRUNA LIMA DA ROCHA - UFAC, ROZILAINE REDI LAGO - UFAC, HELEM CHRISTIANE CUNHA DE SOUZA - UFAC, PATRÍCIA DE MESQUITA LIMA - UFAC, CAROLINA VIEIRA DOURADO - UFAC, SOLANGE LUSTOZA DOS SANTOS - UFAC, CLÉRISTON NUNES SAMPAIO - UFAC
Introdução: Estimativas do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime evidenciam que aproximadamente 243 milhões de pessoas no mundo consomem substâncias psicoativas. Destas, cerca de 10% desenvolvem transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de substâncias psicoativas, além de comorbidades que impactam nas dimensões individual, familiar e social da vida. A avaliação dos resultados da atenção ofertada a pessoas que sofrem com esses adoecimentos é um elemento questionado por diversos atores envolvidos nesse cenário. Dessa forma, a compreensão das respostas ao tratamento observadas em usuários de serviços de saúde dessa natureza pode promover a equidade em saúde a essas pessoas, bem como melhorar o atendimento às múltiplas necessidades apresentadas pelas mesmas. Objetivo: Compreender as respostas ao tratamento apresentadas por usuários e usuárias de serviços de saúde mental para transtornos mentais devidos ao uso de substâncias psicoativas e a promoção da equidade na oferta do cuidado, na perspectiva dos profissionais de saúde envolvidos na atenção. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa qualitativa crítica, conduzida junto a dois serviços de saúde mental selecionados, situados em uma capital da Região Norte do Brasil, entre novembro de 2017 e julho de 2018. Participaram do estudo 15 profissionais de saúde atuantes em um Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas e em uma Comunidade Terapêutica relacionada. Os dados foram gerados por meio de entrevistas individuais e grupais, guiadas por um roteiro norteador. Todos os aspectos éticos foram resguardados. Os dados foram analisados utilizando teorias críticas feministas abordando os conceitos de confiança e desconfiança, aplicados às relações terapêuticas no contexto do estudo. Resultados e discussão: As percepções dos participantes quanto à atenção ofertada nos serviços de saúde mental foram analisadas de acordo com os conceitos teóricos de confiança e desconfiança, de acordo com três temas principais: Confiança nas respostas positivas ao tratamento, Desconfiança quanto às respostas insuficientes ao tratamento e Proposições para melhoria das respostas ao tratamento. Os profissionais expressaram confiança no acolhimento dos usuários dos serviços, assim como no atendimento a: necessidades humanas básicas (p.ex. alimentação, repouso, proteção, etc.), bem-estar psicoemocional e reinserção social dos mesmos, dentre outras respostas. Por outro lado, os profissionais apresentaram desconfiança em relação às respostas insuficientes ao tratamento envolvendo aspectos estruturais e terapêuticos, tais como a limitada estrutura física do serviço, bem como o convívio frequente com os ciclos crônicos de reintensificação do uso de substâncias psicoativas por parte dos usuários dos serviços e as múltiplas vulnerabilidades que os acompanham nessa trajetória. No que se refere às proposições para melhoria das respostas ao tratamento, os profissionais manifestaram diversas ações potencialmente promotoras de confiança e equidade no tratamento ofertado: garantir atenção imediata às pessoas que buscam esses serviços (equidade no acesso), resguardando a equidade de gênero no acolhimento e promovendo maior privacidade no uso dos espaços coletivos dos serviços; realizar atividades voltadas ao desenvolvimento de habilidades laborais dos usuários dos serviços e promover maior inclusão e participação familiar no âmbito da atenção ofertada (equidade social), dentre outros aspectos. Considerações Finais: Os achados destacam fragilidades e potenciais na confiança dos profissionais em relação às respostas dos usuários dos serviços ao tratamento e da equidade nas dimensões das condições de saúde, acesso e utilização dos serviços em saúde para alcançar os resultados terapêuticos esperados, conforme as singularidades dos que os buscam. O enfoque de redução de danos apresenta-se como recurso estratégico de promoção de confiança e equidade, potencialização das respostas ao tratamento geradas nesse contexto. Entretanto, segundo a percepção dos profissionais de saúde, faz-se necessário ampliar as dimensões de impacto desse enfoque, indo além do acolhimento e atendimento de necessidades humanas básicas, e contribuindo de forma mais consistente com a reinserção social dos usuários destes serviços.
Palavras-chave: Autonomia relacional, Cuidado em Saúde, Equidade, Uso de substâncias psicoativas, Profissionais de saúde.
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