30/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-7D - GT 7 - Cuidado em adoecimentos e condições crônicas complexas |
30270 - AS CONFIGURAÇÕES DO CUIDADO À PESSOA IDOSA EM PROCESSO DE FRAGILIZAÇÃO: A VISÃO DA PESSOA IDOSA. GISLAINE ALVES DE SOUZA - NÚCLEO DE ESTUDOS EM SAÚDE PÚBLICA E ENVELHECIMENTO, FIOCRUZ MINAS, KARLA CRISTINA GIACOMIN - SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE BELO HORIZONTE, JOSÉLIA OLIVEIRA ARAÚJO FIRMO - NÚCLEO DE ESTUDOS EM SAÚDE PÚBLICA E ENVELHECIMENTO, FIOCRUZ MINAS
O envelhecimento é um fenômeno demográfico e um processo complexo ao nível do indivíduo que envolve a interação de múltiplos aspectos, inclusive sociais e culturais. A crescente população de pessoas idosas frágeis tende a demandar cuidados em sua saúde. Contudo, ainda são raros os estudos com a população que recebe o cuidado e sobre a experiência de pessoas idosas frágeis em torno das trocas de cuidado. Assim, objetiva-se compreender as experiências de cuidado à pessoa idosa frágil, na visão de idosos(as) em processo de fragilização na comunidade. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, embasada na antropologia interpretativa e médica. A coleta dos dados foi realizada por meio de entrevistas guiadas por roteiro semiestruturado no domicílio de 22 pessoas idosas em processo de fragilização - 14 mulheres, oito homens e a idade média foi 78,73 anos. As entrevistadas gravadas foram transcritas e analisadas juntamente com os diários de campo. A análise foi êmica e guiada pelo modelo dos Signos, Significados e Ações. Essa pesquisa integra ao projeto “Fragilidade em Idosos: percepções, mediação cultural, enfrentamento e cuidado”. Os(as) entrevistados(as) interpretam a fragilidade de modo naturalizado, como algo negativo com o qual precisam se conformar. Paralelamente, preservam continuar a realizar as atividades cotidianas, envolvidos no cuidado e suporte aos outros familiares. Realizam as adaptações possíveis: segmentam a atividade conforme sua capacidade ou substituem ações para manter-se independente e mesmo quando recebem cuidados almejam certo grau de autonomia. Para a maioria, o cuidado familiar aparece como essencial para a continuidade da existência, no entanto depender do outro é significado como doloroso, incômodo e desagradável. As imposições são significadas ora como cautela, ora como restrição da atividade desenvolvida por anos. Observa-se que a efetividade do cuidado requer o reconhecimento das experiências socioculturais do(a) receptor(a) de cuidados. Muitos(as) entrevistados(as) referem-se as relações intergeracionais nos afetos aos netos e nas diferenças de acesso à tecnologia. As desigualdades fazem interface com as possibilidades de cuidados, para as pessoas com maior nível socioeconômico o ambiente em que vivem e os recursos que possuem apresenta-se como suporte para a qualidade de vida. As pessoas com menor nível socioeconômico dizem do receio da violência: no ônibus, na rua, nas instituições, para essas restringir-se ao domicílio e viver mais quieto surgem como premissas para se cuidar. Embora o tratamento médico com exames e procedimentos seja narrado por todos(as), alguns abordam também tratamentos religiosos, homeopáticos e tradicionais. Interpretam que os médicos “empaliam a vida”, pois apesar do acesso recorrente e da gama de recursos relatam a inexistência de tratamento resolutivo para sua situação. As ações de cuidado revelam imprescindível ao longo da vida para envelhecer bem, e mais proeminente para as pessoas que vivenciam o processo de fragilização, juntamente com as prescrições médicas, sentir-se útil, ter fé e ações psicossociais como conviver bem; conversar; ter boas companhias; evitar tristeza, rancor, raiva, preocupação; ser tranquilo, ser honesto também são incorporadas em seu ato de cuidar. Signos acerca da possibilidade de finitude são frequentes. Observa-se que embora a medicina seja o saber oficial sobre o corpo nas sociedades ocidentais capitalistas, os modelos explicativos são múltiplos, variados e não se restringem a discussão biomédica. Ademais, entrevistados(as) de diferentes processos de fragilização, classes sociais e níveis de escolaridade relatam que a pessoa idosa na sociedade vivencia estigma como: “desprezado”, “acabado”, “inútil”, “desrespeitado”, “ninguém dá valor a idade”, “pé na cova”, “acha que tá velho que não sabe o que tá falando”, “o idoso brasileiro sofre de uma marginalização, não tem muitas atividades”, “tem uma fragilidade até para falar” “a população mais carente e muito desassistida”, “a velhice é encostada no canto da sociedade”. Logo, a pessoa idosa que não se encaixa nas perspectivas de mercado é empurrada para fora do campo simbólico e morre socialmente. Os estigmas desconsideram a potência dos esforços para lidar com dores constantes sem controle álgico, os investimentos em adaptações, as conquistas realizadas ao longo da vida, o suporte que são a sua família e o papel social que possuem para a sociedade. A escassez de citação da rede de cuidados e de atenções institucionais à especificidade desse público evidencia que a velhice frágil permanece pouco visível. Nesse sentido, é fundamental o aumento de suporte na comunidade; a melhora da comunicação e da participação nas decisões dos serviços de saúde. Bem como, que as ações da sociedade se atentem à dignidade e qualidade de vida dessa população.
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