30/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-7D - GT 7 - Cuidado em adoecimentos e condições crônicas complexas |
31292 - “NÃO ME DEIXE MORRER DE FOME”: NUTRICIONISTAS E A (NÃO) ALIMENTAÇÃO DE PACIENTES EM CUIDADOS PALIATIVOS NAS SITUAÇÕES DE TERMINALIDADE GINETTA KELLY DANTAS AMORIM - UFRN, GEÓRGIA SIBELE NOGUEIRA DA SILVA - UFRN
Introdução: O cuidado paliativo (CP) corresponde a uma abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e de seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida (OMS, 2002). A alimentação faz parte desse cuidado, tendo como recomendação a oferta de conforto emocional (ADA, 1992). No cuidado nutricional em CP, existe a possibilidade da não alimentação do paciente em situações específicas, conduta que até hoje é carregada de discussões (Costa & Soares, 2016). Refletir sobre essa temática é uma convocação necessária já que nos momentos finais da vida, o alimento pode ser negado, rejeitado ou ainda desejado. O simbolismo em torno da relação alimentação, vida e morte permeia as angustias dos familiares, equipe e configuram desafios vivenciados pelos nutricionistas para lidarem com a (não) alimentação diante da terminalidade, uma vez que são convocados a trabalhar em tais contextos. O presente estudo justifica-se e tem por objetivo geral compreender como os nutricionistas atuam frente a realização da (não) alimentação e nutrição de seus pacientes em cuidados paliativos nas situações de terminalidade e objetivos específicos: (a) elucidar os significados que os nutricionistas possuem acerca da morte e do morrer na sua vida pessoal e profissional; (b) investigar a inclusão ou não da temática da morte na formação dos nutricionista (c) elucidar os significados da alimentação e nutrição para o nutricionista em seu processo de cuidado e nos cuidados diante da morte;(d) investigar o conceito de CP dos nutricionistas; (e) identificar as formas de cuidado nutricional dos pacientes em cuidados paliativos nas situações de terminalidade; (f) identificar as possíveis dificuldades e potencialidades encontradas na administração da (não) alimentação de pacientes em processo de morrer. Método: Trata-se de uma pesquisa de mestrado de natureza qualitativa realizada no PPgPsi/UFRN, utilizando como instrumentos metodológicos a entrevista narrativa (Jovchelovitch & Bauer, 2002), oficinas com uso de cenas projetivas e diário de campo. A escolha por cenas projetivas justifica-se por elas possibilitarem uma melhor imersão no universo subjetivo e intersubjetivo dos entrevistados (Nogueira da Silva, 2006). Os colaboradores serão de 6 a 8, são nutricionistas (independente do sexo ou faixa etária) que trabalham em instituições públicas ou privadas, ou ainda em equipes particulares, que cuidam/ ou cuidaram de pacientes em cuidados paliativos nas situações de terminalidade. Não participarão da pesquisa outros profissionais de saúde e nutricionistas que não contemplem os critérios de inclusão. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), assim como o Termo de Autorização para Gravação de Voz tem sido assinado no momento do encontro para preservar a identidade dos profissionais. A análise interpretativa está sendo realizada a partir da Hermenêutica Gadameriana (Gadamer, 2003). A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN (CAAE: 03986318.2.0000.5537; parecer n° 3.185.433). Realizamos um estudo piloto para validação dos instrumentos, e no momento, o campo está sendo concluído. Resultados e discussões: No diálogo com as primeiras narrativas, chegamos a alguns eixos temáticos; (a) A morte (des)velada na vida pessoal e profissional: a morte na vida pessoal surge como natural, mas carregada de sofrimento e a crença na dimensão espiritual; O significado da Morte no cotidiano vida profissional: revela dores e dificuldades no lidar com a morte, sentimento de impotência, dificuldade na comunicação, mas também a ressignificação do papel de cuidar; (b) Ausência do tema na formação dos nutricionistas: a morte presente em sua prática e ausente no ensino; (c) Significados da alimentação e nutrição diante da morte: o saber construído na prática: nesse eixo temos a presença do respeito pela história alimentar do paciente; o alimento sendo significado enquanto vida, cuidado, afeto e prazer, sempre vinculados ao bem estar do paciente e família; (d/e) O cuidado paliativo e a promoção da qualidade de vida até o fim: compreende que os CP tem a função de promover qualidade de vida para pacientes e familiares, minimizando os desconfortos e cuidando com afeto; (f) As dificuldades e os desafios do cuidado nutricional diante do Fim: “não me deixe morrer de fome: compreende os conflitos existentes em (não) alimentar os pacientes em tais situações, revelando o esgotamento das ferramentas terapêuticas e a necessidade de driblar os protocolos convencionais para poder priorizar os desejos no fim. Considerações finais: Espera-se com esse estudo uma compreensão maior acerca dos aspectos subjetivos que envolve os desafios da (não) alimentação e nutrição no processo de morrer, a fim de contribuir com a construção de um saber fazer que facilite o enfrentamento emocional dos nutricionistas no cuidar de pacientes e seus familiares em situação de terminalidade diante do (não) alimentar.
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