29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-7B - GT 7 - Os serviços de saúde e os adoecimentos de longa duração: práticas no hospital, no domicilio e na atenção básica |
29926 - ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO Á DOENÇA POR CORONARIOPATAS INTERNADOS: SENTIDOS ATRIBUÍDOS A OBJETOS PERSONALIZADOS NO AMBIENTE HOSPITALAR MAYARA CASSIMIRA DE SOUZA - UFRJ, JAQUELINE TERESINHA FERREIRA - UFRJ
INTRODUÇÃO: As doenças são concebidas como tais pelo indivíduo a partir do mundo simbólico em que estão inseridos, ou seja, a representação de saúde e de doença vincula-se ao social e sua problemática não se restringe ao registro biológico. Nesse cenário as doenças cardíacas apresentam possibilidades profícuas de compreensões dos significados e representações dos pacientes coronariopatas. Por estarem presentes no cotidiano dos indivíduos, provocam alterações objetivas e subjetivas em seu dia a dia. A partir dessa perspectiva, vislumbrou-se compreender as estratégias de enfrentamento á doença por coronariopatas internados mediante os significados atribuídos a personalização do ambiente hospitalar. METODOLOGIA: O presente trabalho fundamentou-se nos preceitos metodológicos da pesquisa qualitativa com um cunho socioantropológico. Foi realizado um estudo em um hospital federal de cardiologia do Rio de Janeiro, entre os meses de setembro de 2016 a fevereiro de 2017. Os sujeitos dessa seleção foram: pacientes adultos, independente do sexo, que se encontravam internados no período pré-operatório de cirurgia cardíaca e pós-operatório mediato. Foram utilizadas duas principais técnicas nessa pesquisa: observação participante e entrevistas etnográficas. Foram entrevistados 16 pacientes, sendo 8 mulheres e 8 homens. Os entrevistados e observados concentraram-se na faixa etária entre 65 e 79 anos, e se depararam com o problema de coração em fase aguda. O projeto seguiu os preceitos éticos da resolução CNS n 466/2012, sendo submetido e aprovado pelo Comitê de Ética de Pesquisa (CEP) do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro sob parecer número 1.863.965.
DESENVOLVIMENTO E DISCUSSÃO: Apesar dos avanços alcançados frente no tratamento das doenças cardíacas demanda ao paciente ajustar-se à nova situação e utilizar estratégias de enfrentamento nesse processo. Notou-se várias estratégias de enfrentamento utilizadas pelos pacientes nesse espaço hospitalar, mas nesse estudo abordarei somente as adaptações por meio de objetos personalizados no ambiente reservado para cada paciente. As adaptações dizem respeito a possibilidade de cada paciente se se ornar de seus artefatos particulares, podendo mesmo no hospital ter acesso a itens personalizados. Os pacientes se acomodam em quartos com leitos individualizados, podendo assim, ter um espaço privativo. Inicialmente foi percebido nos quartos odores agradáveis e muito personalizados. O cheiro se destacava pelos perfumes de produtos pessoais dos pacientes (shampoos, condicionadores, hidratantes, perfumes e incensos). A utilização desses objetos possui um papel de familiarização. Eles conseguem forjar a coexistência do eu e dos outros, o sentido da interioridade e da exterioridade.Ambos possuem na mesma proporção objetos tecnológicos, mas diferem em suas conexões midiáticas, pois as mulheres se conectam mais programas religiosos, novelas e programas de entretenimento. Os homens a programas esportivos e jornalísticos. Todavia, os propósitos dessas conexões são meios para se manterem inteirados - como parte - da sociedade. Todos dispõem de objetos religiosos, tais como: bíblias, livros religiosos, guias espíritas, terços, budas, imagens de santos, o que torna a identificação religiosa visível. Os pacientes não se acanham ao falarem de seus objetos, assim como, de suas crenças religiosas.As fotos de familiares são outros objetos muito presentes nos quartos. Elas suscitam memórias de quem os amam, e se aproximam mesmo que, somente pela imagem, á seus entes queridos.Há em todos os leitos almofadas em formato de coração, que são ofertadas pelo hospital, uma vez que serve para apoio de peito quando há dores e tosses sentidas pelo paciente. É indicação profissional e técnica que quando o paciente sentir dor ou tossir deve abraçar o coração, apertá-lo e soltá-lo após amenização da tosse e dor. Na execução dessa técnica se compreende que é preciso "pegar" o coração e não o soltar. Esse objeto conota o próprio coração do paciente, como uma forma de segurá-lo e cuidar dele. Embora, as almofadas de coração sejam padronizadas e ofertadas a todos os pacientes, diferente dos demais objetos próprios tragos por esses, ela se torna um objeto pessoal e intransferível. Assim, todos os objetos se configuram dentro do cenário hospitalar, fazem parte da vivências e superações dos pacientes, representando seus anseios e desejos diante do processo de saúde e doença. CONSIDERAÇÕES FINAIS: As estratégias permitem aos pacientes se familiarizarem ao ambiente de internação. A familiarização torna o que esta longe próximo, mesmo que em pequenas doses de representação. Os objetos remetem desde memórias a fatores que os ajudem a manterem o mínimo de suas rotinas. Fica claro, que os objetos não têm um fim em si mesmo, mas são pontes de conexão com o familiar, favorecendo o enfrentamento á doença em um momento crítico e delicado para os coronariopatas.
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