29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-7B - GT 7 - Os serviços de saúde e os adoecimentos de longa duração: práticas no hospital, no domicilio e na atenção básica |
31548 - A INSERÇÃO E O TRABALHO DO TÉCNICO DE ENFERMAGEM NO TRATAMENTO SUPERVISIONADO DO PROGRAMA DE CONTROLE DA TUBERCULOSE EM DUQUE DE CAXIAS - RJ EDVALDO DA SILVA - ICICT/FIOCRUZ, ELENICE MACHADO DA CUNHA - EPSJV/FIOCRUZ, GRÁCIA MARIA DE MIRANDA GONDIM - EPSJV/FIOCRUZ
INTRODUÇÃO: A Tuberculose (TB), uma das doenças mais antigas da humanidade, ainda é considerada um problema de Saúde Pública no Brasil. O tratamento, embora fortemente preconizado e disponibilizado gratuitamente, apresenta elevada taxa de abandono, agravando a situação epidemiológica e contribuindo para o aparecimento de cepas resistentes aos medicamentos. No âmbito das ações integradas no controle e tratamento da TB, a estratégia Tratamento Diretamente Observado (TDO) tem como meta o fortalecimento da adesão do paciente, aumentando a probabilidade de cura. O emprego do TDO, ao aproximar os profissionais do contexto social dos indivíduos, fortalece o vínculo entre o profissional do serviço de saúde e o paciente-família e reduz a possibilidade do estigma. Constitui-se em oportunidade de empoderamento do paciente em relação ao processo do tratamento, com diálogo e linguagem acessível.
Duque de Caxias foi, em 2015, o segundo município do estado do Rio de Janeiro em números absolutos de casos de TB, posicionando-se entre os cinco com maior taxa de incidência da doença. Nesse município, em 2013, visando a ampliação do TDO teve início a inserção do Técnico de Enfermagem com a função de supervisor. Ainda em 2014 evidenciou-se tendência à redução do abandono e aumento da taxa de cura entre esses pacientes. Dos 895 pacientes diagnosticados com TB em Duque de Caxias em 2015, 448 realizaram o TDO. Esse quantitativo foi maior do que nos anos anteriores. Nesse contexto, o estudo trata da inserção do Técnico de Enfermagem (TE) no TDO como estratégia para melhorar os indicadores epidemiológicos e operacionais da TB.
OBJETIVO: Analisar o trabalho do TE envolvido no TDO, considerando o contexto da inserção, o perfil profissional, o processo de trabalho e as perspectivas desse profissional. Intencionou-se dessa forma, compreender a gestão do trabalho, assim como a qualificação ofertada para o desenvolvimento das atividades designadas, destacando aspectos significantes das práticas concernentes à formação deste profissional.
METODOLOGIA: Trata-se de estudo descritivo e exploratório, com abordagem qualitativa tendo como campo de pesquisa o município de Duque de Caxias, no estado do Rio de Janeiro e como referência temporal os casos diagnosticados entre os anos de 2013 e 2015 em residentes do município. Foram doze entrevistados, sendo oito TE em atividade no TDO, três enfermeiros vinculados ao Programa de Controle da Tuberculose (PCT) e o coordenador do Programa; as questões versavam sobre o trabalho que desenvolviam e como eram qualificados para esse fim. O tratamento dos dados foi orientado pelo referencial da análise de conteúdo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: O tratamento supervisionado, geralmente, tem como pressuposto a ideia da falta de cuidado do indivíduo, e isso ainda se fez presente em algumas falas. A estratégia do tratamento supervisionado, no que concerne à “fiscalização” ao paciente, se percebe como prática autoritária e prescritiva de comportamentos “ideais” e/ou “corretos”, desvinculada da realidade. Para atender as diretrizes do PCT em consonância com os valores e princípios do SUS torna-se necessário conhecer a história do paciente e os diferentes contextos que antecedem o ingresso deste no tratamento. Seria oportuno, para evitar qualquer forma de culpabilização dispensar maior atenção às políticas e práticas de educação em saúde. Daí a necessidade de haver planejamento de ações educativas voltadas à TB.
Observou-se que o profissional se percebe e é percebido como fundamental no reordenamento do cuidado na rede e na criação de relações entre os serviços e a população. O trabalho no PCT exigiria não somente habilidades e conhecimentos técnicos, mas também aptidões no âmbito do gerenciamento e das relações. O TE tem sua formação básica em curso técnico de nível médio que possibilita a realização de procedimentos práticos. Para assunção de funções específicas é recomendado formação adicional. Embora sinalizassem interesse pelas capacitações para melhor execução do serviço, não vislumbravam muitas oportunidades, e em linhas gerais compreendiam que, quando ofertadas, as capacitações privilegiavam as práticas no modelo biomédico e careciam de abordagem reflexiva das contradições existentes no território.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: O desenvolvimento do estudo possibilitou reunir elementos para a compreensão da inserção no trabalho desses profissionais e os resultados obtidos indicam que houve acerto nessa investida: a melhora dos resultados para o tratamento da TB. Entretanto, torna-se oportuno para a formação do TE construir um equilíbrio entre a técnica e a realidade para que se possa produzir um novo olhar sobre a atuação profissional como prática social.
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