30/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-7C - GT 7 - Adoecer por câncer, espiritualidade e velhice no contexto da cronicidade |
29839 - ANDANDO PELO VALE DA SOMBRA DA MORTE- RELATOS SOBRE O COTIDIANO DO HOSPITAL DO CÂNCER NAPOLEÃO LAUREANO ROSANGELA DE ARAUJO LIMA - UNINASSAU/JP, CECÍLIA MARIA LIMA LEITE - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE/RS
1. INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos, o ser humano tem se deparado com um profundo dilema e limite à sua existência: a morte. Todas as culturas e civilizações conhecidas empenharam-se em estabelecer uma forma de representá-la social e psicologicamente, reveladas por práticas cotidianas que dessem conta da inquietude causada pelo término da existência, de modo a estabelecer uma maneira de lidar com ela. Registros apontam que o homo sapiens enterrava suas e seus mortos “sentados”, com os joelhos encurvados e amarrados aos pulsos, o que leva à crença de que havia um temor da volta dos mortos para a vida ou o intuito, principalmente, de vingança ou resolução de pendências (JOSÉ CARLOS RODRIGUES, 1983). Edgar Morin (1997), Doris Rinaldi (1996), Jean-Ives Leloup (2001) apontam que o Homem de Neandertal, ou homo faber, dava sepulturas a seus/suas mortos. As sepulturas são consideradas um forte traço de humanização para esses autores.
No escopo desse trabalho discutirei como se dá a construção do cotidiano sobre a morte, entre pessoas que a vivenciam constantemente, pacientes considerados fora de possibilidades terapêuticas (FPT) e suas/seus familiares, os quais orbitam em torno do câncer, doença considerada metafórica por suas características sócio psicológicas, pois traz o estigma da morte, como outras morbidades que a antecederam historicamente, como a hanseníase (lepra), a peste negra, a sífilis e a tuberculose.
2. OBJETIVOS
• GERAL- Apresentar relatos sobre o cotidiano estabelecido e construído sobre a morte e o morrer entre pacientes FPT, seus familiares no Hospital Napoleão Laureano.
• ESPECÍFICOS
• Apresentar relato de pacientes Fora de Possibilidades Terapêuticas sobre seu atual estado de saúdedoença;
• Revelar a percepção da família desses pacientes lida com esse diagnóstico;
3. METODOLOGIA
Os sujeitos de pesquisa, como referido, serão pacientes com câncer FTP, alocados na enfermaria vinte e seis ou Isolamento e família desses/as pacientes.
No trabalho utilizo, como marco metodológico, a bricolagem de instrumentos de coleta de dados, eminentemente fenomenológicos, com o intuito de descrever a morte e o morrer tais como vivenciados no cotidiano dos sujeitos de pesquisa. O que tenho a apresentar são dúvidas, questionamentos, não certezas previamente estabelecidas. Para tanto, recorro aos seguintes instrumentos de coleta de dados:
Entrevista semiestruturada – com familiares dos enfermos onde for possível, na enfermaria já citada, no pátio, refeitório, onde se dispuserem a me receber. O intuito é oportunizar espaço dialógico para quem desejar expressar suas angústias e emoções represadas, caso haja.
Aplicação do Teste HTP Teste Psicológico Projetivo com Pacientes fora de Possibilidade Terapêuticas com o intuito de dar voz a esse segmento. A isso adicionei um diário de campo, no qual, etnograficamente, transcrevi muito do que vivenciei nos seis meses em que estive no HNL (evidente que devo ter deixado passar alguma coisa). Essas observações pessoais dizem respeito aos quatro momentos da coleta de dados, ao local da pesquisa, como também àquelas decorrentes de minhas próprias noções sobre a morte e o morrer. Tudo no intuito de enriquecer a pesquisa sob a perspectiva de uma sociologia interacionista.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Seu Vasco - Câncer de língua, com metástase nas glândulas parótidas; rosto totalmente deformado, 56 anos.
Tanto o desenho da casa, como da árvore, como da pessoa, evidenciaram solidão, tristeza, um pouco de agressividade e uma consciência de sua real situação.
Em relação aos familiares revelaram as rotinas diárias do trabalho no HNL, os mesmos insistem num discurso gasto, sem sentido, mas que à semelhança de uma ladainha, é repetido intermitentemente: “Ele vai sair dessa.”; “Ela vai para casa.”; “Estou até achando ele bem melhor hoje.” . Um discurso monocórdico e esvazio de sentido.
Há a formação do Pacto do Silêncio o qual revela-se como um tenso espaço social em que os dois lados sabem da morte por câncer mas não a verbalizam.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao estudar e observar o cotidiano dos entrevistados, percebo a reprodução da lógica dominante, da morte interditada de que fala Áries (2003). Ao HTP percebe-se que os pacientes FPT sabem de sua real condição de vida e saúde e nas entrevistas com familiares, também, todavia não há verbalização sobre esse assunto. Formando-se o Pacto do Silêncio que não é benéfico para os segmentos citados. É preciso transformar a vida cotidiana, pois a mesma se associa a mudar as visões de mundo.
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