30/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-7C - GT 7 - Adoecer por câncer, espiritualidade e velhice no contexto da cronicidade |
31532 - O LUGAR DA ESPIRITUALIDADE/RELIGIOSIDADE PARA PSICÓLOGAS/OS QUE ATUEM EM CUIDADOS PALIATIVOS NA PROXIMIDADE COM A MORTE
INGRID RAISSA DOS ANJOS ROCHA - UFRN, GEÓRGIA SIBELE NOGUEIRA DA SILVA - UFRN
Introdução: pesquisas na temática da espiritualidade e religiosidade cresceram exponencialmente nas últimas décadas no campo da saúde, difundindo estudos que revelam seu impacto tanto na saúde física e mental das pessoas, como em sua qualidade de vida, bem-estar, prevenção de doenças e seu enfrentamento, sinalizando a importância de resgate desse aspecto ao olhar para os processos de saúde-doença, posicionamento este também adotado pelos cuidados paliativos em sua proposta de atenção humanizada e integral diante de doenças crônico-degenerativas ameaçadoras da vida, que favorece a integração da dimensão espiritual na assistência diante da morte, fenômeno tradicionalmente olhado pelo viés da espiritualidade, bem como pelo da psicologia. Todavia, este olhar costuma se restringir aos pacientes e seus familiares, ficando os profissionais de saúde, incluindo o/as psicólogos/as – também integrantes deste contexto e passíveis de cuidado - de fora. Assim, este estudo vinculado Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRN visa olhar para estes/as profissionais. Objetivos: compreender o lugar da espiritualidade/religiosidade na atuação de psicólogos/as de Natal-RN em contextos de cuidados paliativos diante da morte, (a) identificar o conceito de espiritualidade e religiosidade; (b) investigar se e como a questão da religião/espiritualidade é abordada no contexto de cuidados paliativos em proximidade da morte em sua prática; (c) analisar se e como as vivências pessoais destes profissionais no campo da espiritualidade/religiosidade interferem na experiência de cuidado dos pacientes; (d) perceber a compreensão ética que estes psicólogos/as possuem, sobre a relação deles com a questão religiosa ou espiritual de seus clientes; (e) reconhecer as potencialidades e dificuldades em abordar a espiritualidade/religiosidade diante dos processos de terminalidade da vida de seus pacientes. Metodologia: pesquisa qualitativa sob o aporte teórico-metodológico da Hermenêutica Gadameriana em sua construção, análise e compreensão das narrativas. Os/as colaboradores/as são seis profissionais de psicologia que exercem sua profissão em contextos que haja cuidados paliativos, selecionadas por indicação e conveniência, cuja participação deu-se mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e do Termo de Autorização para Gravação de Voz submetidos ao Comitê de Ética sob a numeração 13932519.9.0000.5537. O acesso às narrativas deu-se em dois momentos: uma entrevista narrativa – gravada e transcrita – e uma oficina coletiva com cenas projetivas, sendo sua compreensão mediada pelo método de interpretação de sentidos baseado em princípios hermenêuticos. Resultados e discussão: o diálogo com as narrativas remete ao conceito de espiritualidade como algo abrangente e transcendente, não estando necessariamente vinculado a uma prática religiosa, e sendo a religiosidade a ligação com o sagrado conectado a ritos e crenças específicas. A espiritualidade/religiosidade foi destacada como um potencial recurso de enfrentamento pelas profissionais, inclusive pessoalmente, auxiliando não só os pacientes e suas famílias, mas também a elas no lidar com as dificuldades do trabalho na proximidade da morte. Sinaliza-se que a abordagem com relação a espiritualidade/religiosidade é feita a partir do que os/as pacientes trazem, respeitando seus sistemas de crenças, sendo comum que o tema surja espontaneamente na fala de pacientes em cuidados paliativos, sendo compartilhado entre as colaboradoras o entendimento de que este um aspecto necessário de ser considerado no cuidado. Aponta-se ainda que na busca em contemplar a espiritualidade e a religiosidade pode-se surgir importantes dilemas éticos quando não se consegue o respeito a crença ou não crença do paciente ou ao se impor ou induzir o outro a suas práticas e crenças, aspecto que ressalta a importância de que se obtenha o conhecimento mínimo das diferentes práticas religiosas ou de sua compreensão, a partir de um lugar de abertura para o que o outro traz. Destaca-se a ausência ou irrisória presença da temática da espiritualidade na graduação que não as preparou para lidar diretamente com as demandas dessa ordem. Considerações finais: a partir da compreensão da prática destas profissionais e do lugar que a espiritualidade ocupa nesta encontra-se pistas a favorecer e ampliar a abordagem da espiritualidade nos processos de cuidado, catalisando e capacitando o resgate à humanização e à integralidade das práticas em saúde, não só para as/os pacientes, usuários/as e familiares, mas também às/aos profissionais da área.
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