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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 15:00 - 16:30
EO-7C - GT 7 - Saúde Mental, estigmas e intersecções nos adoecimentos de longa duração

30560 - “UM LUGAR PARA SE SOLTAR E SERMOS NÓS MESMOS”: PRÁTICAS DE SOCIABILIDADE NA EXPERIÊNCIA DE PESSOAS QUE VIVEM COM HIV/AIDS EM UMA REDE SOCIAL NA INTERNET
BRUNA RODRIGUES ARAUJO - USP, LUCAS PEREIRA DE MELO - USP


Introdução: A epidemia de HIV/aids tem aumentado apesar da queda no coeficiente de mortalidade por aids no país. Todavia, vive-se uma restrição discursiva, iniciada desde que a infecção pelo vírus passou de uma condição fatal para um adoecimento de longa duração, com a ampliação do acesso aos antirretrovirais (ARVs). É nesse contexto que se fez da condição de viver com HIV/aids “um segredo, um horror que instaura o silêncio como forma” e que restringe os discursos sobre a condição. Dessa forma, as pessoas que vivem com HIV/aids (PVHA), movidas pela necessidade de evitar ou enfrentar situações de discriminação social ou estigmatização, passaram a manter suas sorologias em segredo. Nesse cenário, os usos das redes e mídias sociais por PVHA como espaço para compartilhamento de experiências e saberes têm se tornado frequentes, uma vez que lhes permitem mais uma forma de navegação social entre os mundos do segredo/privado e público. Nessa perspectiva, o interesse aqui se volta aos efeitos desse contexto na experiência pessoal e intersubjetiva das PVHA. Assim, busca-se compreender o modo como se dão as relações nesses espaços virtuais, suas formas de sociabilidade e ajuda mútua. Objetivo: analisar o modo como se dão as relações entre PVHA em um grupo fechado no Facebook. Metodologia: trata-se de etnografia virtual realizada em um grupo virtual fechado no Facebook com o objetivo acolher, orientar, fortalecer e ajudar mutuamente PVHA. A coleta de dados foi conduzida entre setembro de 2018 e junho de 2019, através de observação participante, e análise das postagens e comentários. As incursões etnográficas foram registradas em diário de campo e o registro das postagens foi feito em arquivo de Word em tabelas com temática principal, data, horário, tipo de dado (PP- postagem principal, C- comentário ou RC- resposta de comentário), nome e local de moradia do interlocutor, e o texto (conteúdo da postagem). O material foi analisado por meio da técnica de codificação temática. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da EERP-USP conforme Parecer nº 2.768.860/2018. Seguiu-se as recomendações da Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. Resultados e discussão: o espaço do grupo virtual se definiu como uma estratégia de comunicação com o objetivo de promover ajuda mútua e acolhimento para PVHA, além de compartilhar informações, representando um local para busca de um apoio que não se tem, ou que não se busca no “mundo off-line”, visto que a maioria das PVHA membras do grupo mantêm a sorologia em segredo. Este apoio é demonstrado em explicações sobre medicações/tratamentos, compartilhamento de experiências, notícias e problematização de assuntos que se relacionam direta ou indiretamente ao viver/conviver com HIV/aids. Dos dados coletados emergiram duas categorias: “Bem-vindo ao grupo, honey!”: um retrato descritivo sobre o grupo virtual secreto, que descreve aspectos do funcionamento do grupo, enfatizando seu caráter virtual e fechado, mantido pelo controle exercido pelos moderadores sobre o conteúdo das postagens, participação de novos membros e permanência de integrantes no grupo; e “Nossa vida é essa”: virtualidade, socialidade e ajuda mútua, que analisa o modo como o contexto da socialidade e do suporte on-line construídos em torno do segredo sobre a sorologia são percebidos como importantes na experiência de viver com o HIV/aids e no enfrentamento de estigmas e discriminação, bem como o caráter seletivo do acolhimento no grupo. Os resultados destacam o papel dos grupos e associações de doentes na experiência de pessoas com adoecimentos de longa duração. A literatura afirma que tais iniciativas oferecem às pessoas a possibilidade de criarem formas alternativas de entendimento daquilo que acontece com elas mesmas, por meio da valorização do saber experiencial dos doentes e da resistência à dominação das narrativas médicas. Considerações Finais: A partir do trabalho de campo etnográfico, foi possível compreender as relações entre PVHA membras do grupo virtual fechado numa rede social na internet, apreendendo características dos integrantes, temas mais discutidos, e os contextos que integravam pessoas, ações, lugares e moralidades do mundo on-line e off-line. Os resultados possibilitaram compreender o caráter seletivo do acolhimento e da ajuda mútua, que se mostra amplo a qualquer pessoa, mas não a qualquer situação, influenciado por relações de poder, hierarquia, questões sociais e políticas. Ademais, este estudo permitiu destacar a necessidade de novas investigações que, a despeito dos ganhos da cronificação da infecção, abordem os usos sociais e políticos do caráter de longa duração do HIV/aids, com ênfase na invisibilidade das PVHA e no desmonte gradual e sistemático da resposta política brasileira à epidemia.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

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