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Grupos Temáticos

28/09/2019 - 13:30 - 15:00
P-11 - GT 11 - Painel de Abertura- Descolonizar e reinventar a Saúde Coletiva

30837 - ÜBUNTU - EU SOU PORQUE NÓS SOMOS: EXPERIÊNCIA PSICOSSOCIAL EM UMA REDE DE CURSINHOS POPULARES.
JULIA MALVEZZI - REDE UBUNTU, ROBERTH MENINGUINE TAVANTI - FGVSP


“A educação me salvou” relata uma estudante em oficina sobre territorialidades no Pólo Céu Capão Redondo. Definir e descrever este trabalho é tarefa complexa, pois há que se transformar os afetos, os sentimentos dos encontros, as falas aguerridas e a voz consciente dos estudantes e colaboradores, em uma descrição à altura deste fenômeno chamado Rede de Cursinhos Populares Übuntu. O que se vê, o que se ouve e o que se sente, desde as reuniões da coordenação, até as ações nos Pólos têm um atributo de incontestável emancipação social; isto não acontece à toa, estamos na órbita da filosofia Übuntu. Este saber africano é a alma e o material humano vivido no cotidiano deste movimento social, com um horizonte nos princípios da educação e da saúde como ações políticas para a liberdade e a tomada da consciência de si e do mundo.

Neste sentido, buscamos aqui um breve entendimento deste vasto saber Übuntu. Palavra de origem Bantu, definida por Ramose (2009) como a compreensão de que “ser humano é afirmar a humanidade própria através do reconhecimento da humanidade dos outros e, sobre tal embasamento, estabelecer relações respeitosas com eles” (p.170). O autor afirma também que Übuntu é um valor básico do cuidado mútuo, do partilhar entre os seres e do próprio ser humano e que estes devem preceder o valor da acumulação e da proteção de riquezas materiais. Em outras palavras, Übuntu é uma filosofia da compreensão da alteridade e da generosidade.

Sendo assim, segue a descrição do trabalho de atenção psicossocial realizado na perspectiva desse conhecimento africano. A Rede de Cursinhos Populares Übuntu localiza-se na periferia das cidades de São Paulo e de Itapecerica da Serra em territórios com alto índice de vulnerabilidade social. Surgiu em 2014, por iniciativa de professores da rede pública que sentiam a necessidade de construir um espaço de apoio e fortalecimento para os alunos das escolas públicas vivenciarem o excludente caminho da preparação para o vestibular e o ingresso, sobretudo, em universidades públicas. A Rede tem uma organização horizontal e atualmente conta com seis pólos, que funcionam de maneira independente na composição de suas agendas e gestão, e acolhem aproximadamente 300 alunos. Desse modo, a integração dos pólos, como Rede, acontece no compartilhamento de saberes e recursos, por meio de reuniões, eventos pedagógicos e culturais. Todos os colaboradores são voluntários e as aulas ocorrem aos sábados das 08h as 17h, em associações comunitárias, centros culturais, paróquias e em um equipamento público.

Desde o início do ano escolar de 2018, em andamento e com planejamentos para 2020, dois psicólogos desenvolvem um trabalho de atenção psicossocial com oficinas e rodas de conversas abordando diversos aspectos dos contextos individuais e sociais, que permeiam a vida dos estudantes da Rede, tais como a filosofia Übuntu, direitos humanos, cidadania, saúde, territorialidades, protagonismo estudantil e assuntos relacionados ao processo do vestibular - escolha profissional, trabalho, rotinas de estudo e políticas afirmativas - em permanente contato com a arte, a música e a poesia promovendo a ecologia dos saberes nesse cuidado psicossocial.

Há nessas metodologias o objetivo de integrar o conhecimento coletivo com a prática criativa e vivencial e construir com os estudantes outras versões da realidade em que vivem. Neste ínterim, os resultados percebidos são o fortalecimento da filosofia Übuntu entre todos os que participam da Rede, a sensibilização e o fortalecimento na travessia do caminho para a cidadania e a formação de indivíduos políticos, conscientes e sensíveis na construção de transformações sociais a partir de saberes pluriepistêmicos.

É importante ressaltar que este trabalho tem uma característica bastante orgânica e, aprendemos que sua concepção acontece no tempo vivo dos encontros, ou seja, apesar dos cronogramas, a espontaneidade e a criatividade regem o que de fato acontece. Sendo assim, o planejamento é um delineamento de ideias a serem construídas de modo coletivo nas rodas de conversas, oficinas e outras atividades. Isso ocorre, pois também está no objetivo deste trabalho, o protagonismo, a escuta e o fortalecimento social dos estudantes e nesse sentido, consideramos que não há outra maneira desses propósitos acontecerem a não ser na construção horizontal e dialógica.

Enfim, é a partir de uma observação espontânea que é possível perceber a Rede fortalecida em um lugar de formação humanística e de construção permanente de espaços de saúde, oferecendo a vivência de condições existenciais de emancipação, pois há neste trabalho, a busca pela superação coletiva das condições de vulnerabilidades naquele território e, portanto, se vivencia saúde a partir de um processo coletivo de trabalho, de saberes populares, favorecendo a liberdade e aumentando a consciência do cuidado mútuo. Übuntu!

Ramose, M.B. Globalização e Übuntu. In Santos, B.S. Epistemologias do Sul. Ed. Almedina. Coimbra, 2009.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

Campus I - Lot. Cidade Universitaria, João Pessoa - PB, 58051-900