28/09/2019 - 13:30 - 15:00 P-11 - GT 11 - Painel de Abertura- Descolonizar e reinventar a Saúde Coletiva |
31534 - TRANSVERGENTE: UMA ESTRATÉGIA DESCOLONIAL DE REPARAÇÃO AOS CAMPESINO/S VULNERABILIZADOS NA TRANSPOSIÇÃO RIO SÃO FRANCISCO. ANDRÉ MONTEIRO COSTA - IAM/ FIOCRUZ-PE, WANESSA DA SILVA GOMES - UPE, SUELY EMÍLIA DE BARROS - UPE, CLARISSA DE OLIVEIRA GOMES MARQUES DA CUNHA - UPE
CONTEXTUALIZAÇÃO
A transposição do São Francisco enquanto um grande empreendimento, é um projeto colonial. Sua implantação, imposta contra todos os argumentos econômicos, ambientais sobretudo as condições hídricas do rio, e da vulnerabilização de indígenas, quilombolas e campesino/as foram impotentes diante de um modelo de desenvolvimento arcaico. Os processos sociais na implantação das obras foram de uma violência material e simbólica em que o outro é negado em qualquer expressão de sua existência.
As perdas materiais, como indenizações e danos não ressarcidos durante as obras são agravadas pela forma como as pessoa são tratadas, como se não fossem gente. As perdas simbólicas estão relacionadas ao ser campesino/a, como o vivido, a subjetivação e o pertencimento quando são rompidos. A forma colonial de negação do outro perpassa essas perdas. E, o principal desfecho desses processos sociais é o sofrimento mental.
DESCRIÇÃO
A experiência foi vivenciada no município de Sertânia, cidade localizada no sertão de Pernambuco, envolvendo professor/as e pesquisador/as ligados à saúde coletiva,e as graduações em psicologia, medicina e direito, profissionais residentes em saúde coletiva e saúde mental, estudantes de graduação dos cursos de direito, e psicologia, estudante de mestrado em saúde pública e ainda de doutorado em publicidade e comunicação. Realizamos 9 reuniões, com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores de Sertânia (STR) onde fizemos um diagnóstico da situação dos morador/as da região por onde passa o canal da transposição do Rio São Francisco, 11 anos depois do início das obras.
Com esses dados realizamos uma reunião de planejamento com o grupo de professor/as e estudantes, em torno de 30 participantes, e construímos uma metodologia participativa para atuar com comunidades vulnerabilizadas em decorrência de grandes empreendimentos.
PERÍODO DE REALIZAÇÃO
A experiência foi realizada no primeiro semestre do ano de 2018.
OBJETIVO
Construir uma metodologia participativa para trabalhar com comunidades vulnerabilizadas em decorrência de grandes empreendimentos.
RESULTADOS
Realizamos, no município de Sertânia, 9 reuniões com lideranças e campesino/as, sendo a primeira com lideranças do STR e os professores onde definimos uma reunião ampla com as lideranças das associações de moradores das localidades por onde passam o canal da transposição, sendo esta nossa segunda reunião realizada, tendo a presença de 35 lideranças representando 20 comunidades. Neste momento fizemos um levantamento inicial dos problemas, encontrando questões relacionadas a problemas de saúde, com destaque a saúde mental, perdas materiais e simbólicas, indenizações injustas e muitos outros.
Dessa reunião resultaram mais 7 que foram realizadas nas comunidades em espaços de fácil acesso as comunidades vizinhas, no total participaram dessas reuniões uma média de 230 campesino/as. Os problemas levantados foram os mesmos apresentados pelas lideranças, porém tivemos acesso a muito mais detalhes do sofrimento que há anos vivem essas famílias.
Em seguida reunimos nosso grupo para debatermos nossos achados e planejar as ações que realizaríamos nas comunidades. Nessa reunião também batizamos nosso coletivo com o nome Transvergente, este está sendo construído em uma perspectiva interdisciplinar, em articulação com lideranças comunitárias, sindicalistas e pastoral social. A aglutinação de ‘transver o mundo’ de Manoel de Barros e a fala de um camponês, de que a transposição não ‘vê gente’, apenas bichos e plantas, nos trouxe a este nome.
Como referencial teórico para a construção de uma metodologia para ação, utilizamos a Reparação Integral e Comunitária, desenvolvida pela ONG Acción Ecologica do Equador, dessa forma, montamos 4 comitês, saúde, direito e cidadania, cultura e lazer e mobilização social e comunicação, em cada comitê temos a participação de professores estudantes e um representante de cada comunidade. Os comitês são responsáveis pelo planejamento das ações em cada território, seguindo as necessidades deste, buscando recuperar a dignidade e alegria, a partir dos seguintes passos: Abre os olhos, onde trabalhamos a realidade vivenciada pelas famílias; Co-participação, esta é a fase de atuação coletiva, onde o tranvergente e campesino/as atuam para a busca do Viver digno, que é o último passo.
APRENDIZADOS
O processo de construção de um programa de longo prazo, interdisciplinar em diálogo de saberes nos territórios tem sido uma experiência potente e que se pretende ampliar para os demais municípios afetados nos quatro estado. Agregou-se recentemente a colaboração com a Defensoria Pública da União e a de Pernambuco, potencializando a estratégia de produzir espaços de dignidade.
ANÁLISE CRITICA – A saúde coletiva deve incorporar os processos nos territórios em diálogos de saberes como estratégia central de fortalecimento das lutas sociais. A centralidade da construção coletiva desse processos deve ser assumida em uma perspectiva emancipatória.
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