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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-11C - GT 11 - Políticas públicas de saúde e experiências de atenção, cuidado e cura

30934 - GRAVIDEZ NA ADOLESCENCIA E AS LIMITAÇÕES ONTOLÓGICAS QUE A DEFINEM
BRUNA EVANGELISTA ROSA - UFVJM, PATRÍCIA DE OLIVEIRA SOARES - ATIVISTA


Contextualização
Como instrutora atividades (educadora) do Programa Juventudes do Sistema Social do Comercio (Sesc), unidade Bom Retiro, fui surpreendidas pelas questões sociais e humanas que cerceiam a gravides na adolescência de jovens meninas em situação de vulnerabilidade e crime social do centro da cidade de São Paulo que frequentavam o Sesc. Sou graduada em artes cênicas e desde 2008 venho trabalhando como produtora cultural e/ou arte educadora, acreditando fielmente na linguagens das artes como principal potência de sensibilização e aprendizado, através de sistemas de conhecimento livres de uma predominância racional. Compartilho com as definições de saúde da OMS, entendendo que o bem estar completo vai além de um bem estar físico, mas é também emocional e social. Também compartilho das lutas feministas, que buscam combater a violência de gênero através de uma pedagogia que construa ontologias menos preconceituosas, abrindo espaço a um completo bem estar social. Nessa linha de pensamento busco através deste espaço compartilhar a experiência de acompanhar durante dois anos, jovens meninas que deram a luz na esperança de visibilidade, discutindo a saúde para além de questões biomédicas, mas dentro também das ciências sociais e humanas.

Descrição
Este relato foi construído em cima de dois anos de vivência com jovens meninas mães moradoras da região do centro de São Paulo, formada pela “Cracolândia”, Favela do Moinho e ocupações organizadas pelo movimento de luta por moradia. De inicio eram só percepções dentro de toda uma rotina de atividades educativas do Sesc Bom Retiro, mas que se transformaram num projeto piloto de acolhimento as jovens mães junto a um coletivo de doulas. Transbordado para além dos muros da instituição, virou encontros semanais que aconteciam dentro da Favela do Moinho, guiados por almoços coletivos onde era possível desvelar corpos, natureza e cultura dessas jovens. A gente queria proporcionar um espaço acolhedor as necessidades de sociabilização das juventudes do território, mas depois tivemos a necessidade de propor atividades que trabalhassem sexo e sexualidade, até reconhecermos que seria fundamental uma pergunta inicial: por que engravidam as jovens?

Período de Realização
De abril de 2016 à março de 2018.

Objetivo
O presente relato tem como objetivo inicial alimentar a discussão sobre gravidez na adolescência, entendendo tal processo como um fenômeno biológico mas também psicossocial. Criando assim um espaço de reflexão sobre as epistemologias que definem nosso dialogicidade com a saúde, tendo como objetivo principal repensar através das práticas, nosso entendimento de saúde e seu completo bem estar.

Resultados
A experiência nos revela que as jovens moradoras da Favela do Moinho, que frequentavam o Sesc Bom Retiro, em sua maioria enxergam na gravidez um caminho de visibilidade e função social, não sendo a gravidez na adolescência um problema, mas sim a solução equivocada de muitos problemas sociais ligados a violência de gênero, que acabam assim alimentando outras violências, como a própria pobreza, desigualdade social e a limitação dos corpos femininos a função sexuais e reprodutivas. Ou seja, ao mesmo tempo que combate a violência de gênero à alimenta, fomentando uma contradição sem fim, sendo necessário alimentar uma nova epistemologia da saúde, capaz de trabalhar tamanha complexidade de problemas.

Aprendizados
Os avanços da biomedicina são muitos e não devem ser descartados, mas sim colocados em diálogo com outras ciências, assumindo um novo entendimento sobre corpo humano, saúde e doença. Não é verdade que tratamentos são universais e que protocolos funcionam a todos os corpos e culturas, pois problemas não se resolvem somente com técnicas mecânicas. Caminhar junto as ciências sociais e humanas é entender a importância da descoberta antropológica das perspectivas, reconhecer os locais de fala, o perigo da ordem do discurso e os acordos sociais que dão poder a certas disciplinas. É trilhar uma historiografia das disciplinas na área da saúde junto uma visão de cultura e natureza mais ampla, podendo assim de fato pensar num conhecimento interdisciplinaridade.

Análise crítica
Propor mudanças nas epistemologias parece uma proposta corajosa e necessária. Porém assumir as infinitas impossibilidades desta mudança é exatamente assumir seus desafios. Não é difícil porque não é uma boa escolha, mas é difícil por ser uma ruptura de paradigma, que modifica sistemas consolidados que operam como base, para muitas estruturas e lógicas de pensamento. Propor um novo olhar sobre a gravidez na adolescência é mais do que traçar pontes entre diferentes ciências que complementam o entendimento de determinado problema, é sair das especializações e entender a necessidade de fomentar ontologias mais complexas, capazes de uma nova percepção, podendo assim, quem sabe, incorporar de fato o entendimento de que saúde é um completo bem estar físico, mental e social.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

Campus I - Lot. Cidade Universitaria, João Pessoa - PB, 58051-900