29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-11C - GT 11 - Políticas públicas de saúde e experiências de atenção, cuidado e cura |
31558 - ATENDIMENTO À PACIENTES INDÍGENAS APÓS A TRANSIÇÃO DO CUIDADO: VIVÊNCIAS DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE THAYS SANTOS OLIVEIRA - FCMMG, JOSIANE MOREIRA DA COSTA - FCMMG
INTRODUÇÃO
No Brasil, a população indígena brasileira é composta por 305 povos, que falam mais de 274 idiomas com maneiras diferentes de organização e que, consequentemente, apresentam diversas representações do processo saúde-doença e de intervenções terapêuticas. Devido à essa grande diversidade, a saúde do povo indígena encontra-se baseada nas concepções de representantes desse subgrupo e não na saúde indigenista, baseada em conhecimentos científicos ocidentais. Essas diferentes concepções, exigem mais que sensibilidade do profissional de saúde e requer uma atuação que possa traduzir as informações de forma que sejam compreendidas. É percebido em estudos publicados, a necessidade de uma educação multicultural, podendo ser chamada de competência cultural ou ainda, sensibilidade cultural. A competência cultural é definida como além do conhecimento dos costumes e doenças presentes em uma comunidade ou população, e compreende também, a habilidade de comunicar-se apesar das diferentes linguagens, crenças e práticas específicas. Um dos fatores importantes na saúde indígena é a dificuldade de comunicação entre os profissionais de saúde e pacientes, aspecto ainda não contemplado nos currículos de graduação. Sobre o termo "transição do cuidado", esse tem sido comumente utilizado na literatura internacional e nacional, sendo que abrange não meramente a "des"hospitalização ou alta hospitalar, mas o deslocamento do paciente entre os diferentes serviços de saúde ou até mesmo em diferentes unidades de um mesmo local. Durante a transição do cuidado, é necessário a realização de diferentes ações para a garantia da continuidade do cuidado. Objetivo: compreender vivências de profissionais de saúde no oferecimento de atendimento aos pacientes indígenas que passaram pelo processo de transição do cuidado. Método: Trata-se de um qualitativo pautado na análise de conteúdo. Foram entrevistados profissionais que trabalham diretamente com indígenas pertencentes à aldeia Xikrin, no Pará. Esses profissionais atuam no atendimento aos pacientes indígenas que recebem alta hospitalar. Realizou-se entrevista a partir de roteiro semiestruturado, seguido de realização de análise de conteúdo. Para garantia do anonimato, as falas foram diferenciadas por meio de pseudônimos indígenas, como Arara, Onça, Pajé e Cacique. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa e recebeu o parecer: 3.303.958. Resultados e discussão: Os profissionais entrevistados foram enfermeira, assistente social, nutricionista e médica pediatra. Após a transcrição das entrevistas realizadas, identificou-se duas categorias sendo denominadas como “A saúde anti- indígena" e "Conhecer para atender”. As categorias são compostas pelo fator em comum encontrados entre as falas dos profissionais, identificadas com pseudônimos diferentes dentro do texto. Essa categoria é caracterizada pelo desafio dos profissionais de saúde do Hospital Yutaka Takeda, em atender de forma humanizada, respeitando as diferenças culturais da população indígena. Categoria 1: A saúde "anti" indígena: A população indígena possui diferentes necessidades de acolhimento, visto a divergência e resistência cultural presente no momento da internação hospitalar. Muitas vezes, a dificuldade de comunicação e entendimento são barreiras que prejudicam a relação entre os profissionais de saúde e o paciente indígena. “A experiência de trabalhar com indígenas é desafiadora, porque o atendimento aos povos indígenas no ambiente hospitalar, requer uma atenção diferenciada na organização condizentes com suas necessidades.” (Pajé).
Categoria 2: Conhecer para atender: A visão em relação ao conceito de saúde de ambas as partes envolvidas deve ser respeitada. Se faz necessário a disseminação do conhecimento, ainda em formação acadêmica para os futuros profissionais, sobre o olhar de entendimento ao que o índio entende como saúde, do que ele acredita que seja eficaz como tratamento e até mesmo a complexidade da aceitação de permanecer por um tempo longe da sua casa, seu povo, seus costumes. “Mas não deixa de ser gratificante também, porque a gente ensina muita coisa pra eles, mas a gente também aprende muita coisa...acaba sendo uma troca!” (Arara).
Considerações Finais: Esse estudo pode contribuir para reafirmar junto a outros estudos, sobre a necessidade de melhor preparo das equipes de saúde no que se refere a competência cultural.
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