29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-11B - GT 11 - Fronteiras epistemológicas e teórico-metodológicas |
31684 - ENCONTRO DE SABERES EM PRÁTICAS DE PROMOÇÃO DA SAÚDE: EXPERIÊNCIAS NO BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE DA UFSB GABRIELA LAMEGO - UFBA, LETICIA ALTOÉ SESSA - UFSB, RAFAEL ANDRES PATINO - UFSB, MARCIO FLORENTINO - UFSB
A Universidade Federal do Sul da Bahia adota o regime de ciclos de formação em que o estudante tem primeiramente acesso à universidade, para uma formação geral, e depois avança para habilitações profissionais ou carreiras acadêmicas específicas. O modelo de ensino-aprendizagem reconhece que a educação deve formar cidadãos com responsabilidade social e ambiental para tanto, valoriza o diálogo e o reconhecimento de saberes com estatutos epistemológicos diferentes ou complementares ao cientifico, tradicionalmente excluídos por modelos de ciência etno e sociocêntricos. Práticas Integradas em Saúde é um bloco composto por três componentes curriculares obrigatórios para a formação no BIS, com um total de 180 horas. O bloco é considerado como estruturante para formação de estudantes no campo da saúde e juntos agregam quatros momentos fundamentais para a construção de práticas integradas em saúde: diagnóstico, planejamento, intervenção e avaliação. A formação no BIS assume o compromisso de construir uma aproximação gradativa dos estudantes com a rede de atenção primária à saúde do município (profissionais e serviços), populações, instituições e organizações públicas, privadas e/ou comunitárias presentes nos territórios de atuação das “Práticas Integradas em Saúde”. O presente trabalho reflete sobre o encontro de saberes populares e científicos na produção de práticas de promoção da saúde a partir de experiências concretas na oferta dos Componentes Curriculares de Práticas Integradas em Saúde no Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da Universidade Federal do Sul da Bahia em territórios do Sul da Bahia. A experiência aqui relatada é sobre a oferta destes componentes no turno noturno para estudantes, em sua maioria trabalhadores, que não conseguiram realizar tais componentes no turno matutino em territórios de referência para as unidades básicas de saúde e ou de saúde da família. O grupo de 21 alunos se dividiram cinco subgrupos e atuaram em territórios de Porto Seguro e Cabrália (município vizinho onde residem estudantes de dois subgrupos) desde o mapeamento dos problemas e necessidades de saúde à realização de práticas de promoção da saúde. Os estudantes utilizaram estratégias metodológicas, como levantamento de dados das secretarias municipais de saúde, entrevistas individuais, rodas de conversas e oficinas com estudantes, professores, comerciantes, profissionais de saúde, população de rua, profissionais do sexo para o reconhecimento dos territórios e produção de diagnósticos participativos dos problemas e necessidades de saúde. Em todas as etapas dos trabalhos, os estudantes foram incentivados a construírem propostas de práticas de educação em saúde que possibilitassem diálogos com os sujeitos e coletivos, valorizando seus saberes, suas necessidades e se afastando de modelos prescritivos e biomédicos. Os grupos produziram práticas orientadas para as seguintes temáticas/necessidades/grupos populacionais: 03 grupos desenvolveram suas práticas em escolas sobre temas relacionados a educação ambiental: o primeiro grupo desenvolveu um conjunto de jogos, rodas de conversas e oficinas sobre educação e meio ambiente em uma Escola no centro de Porto Seguro; o segundo desenvolveu um sistema de aquaponia a partir de tanques de peixes que já existentes na Escola Indígena de Coroa Vermelha; o terceiro resgatou uma gincana escolar, uma atividade tradicional da escola que havia sido suspensa, em torno da temática do lixo e da reciclagem, o quarto grupo desenvolveu uma capacitação para profissionais de saúde para o acolhimento das necessidades de atendimento dos profissionais do sexo e o quinto grupo desenvolveu um conjunto de práticas voltadas para a população de rua que culminou com uma ação social produzida em parceria com áreas da saúde, social e jurídica em uma praça em Porto Seguro. Em todas as experiências foi possível reconhecer o investimento e engajamentos dos estudantes que extrapolou o tempo das aulas, mas que envolveu o uso de redes sociais, ações em diferentes horários, mobilização e participação de colegas e professores de outros componentes curriculares, sensibilização para apoio logístico e financeiro de comerciantes locais entre outros. Os estudantes conseguiram produzir um conjunto de práticas de promoção da saúde que demonstram uma compreensão ampliada do processo saúde-doença-cuidado, valorização de saberes e práticas tradicionais, populares em diálogo com os conhecimentos científicos, as potencialidades de estratégias centradas nas necessidades dos sujeitos e coletivos e a importância da valorização de pluralidades metodológicas e epistêmicas no campo da Saúde Coletiva. É importante ressaltar que o fato dos estudantes atuarem em territórios próximos à sua realidade contribuiu tanto na identificação dos problemas e necessidades dos grupos eleitos para o desenvolvimento dos trabalhos, como também dos recursos disponíveis para o desenvolvimento de práticas sensíveis às suas realidades.
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