29/09/2019 - 15:00 - 16:30 EO-11D - GT 11 - Fronteiras epistemológicas e teórico-metodológicas |
30754 - A ESTÉTICA DO OPRIMIDO DE AUGUSTO BOAL E O ENFRENTAMENTO A COLONIALIDADE/IMPERIALISMO EMANUELLA CAJADO JOCA - UFRN, MARIA TERESA NOBRE - UFRN
Introdução
Em 2019 completou-se dez anos de falecimento de Augusto Boal (1931-2009) e também da publicação de sua última obra A Estética do Oprimido: reflexões errantes sobre o pensamento do ponto de vista estético e não científico. Conquistando uma trajetória profícua desenvolveu uma teoria e método para o teatro que objetiva a estimulação para o enfrentamento das opressões.
Este texto tem como foco principal a ideia de Boal acerca da colonialidade/imperialismo como prática opressora, que subjuga povos com o objetivo de dominação dentre as quais a cultural. Nesse sentido, a metodologia do Teatro do Oprimido sistematizada pelo autor consiste em um “ensaio para a revolução” (Boal, 2009a) e é através da estética que Boal estimula ao enfretamento da homogeneização do imperialismo cultural.
A criação do brasileiro Boal com o Teatro do Oprimido é uma proposta atualmente praticada em vários lugares no mundo, ocupando espaços na educação, saúde e movimentos sociais. No Brasil, foi estimulado, também, nas políticas de saúde pelo projeto de formação em Teatro do Oprimido para trabalhadores da saúde, financiado pelo Ministério as Saúde entre os anos de 2004-2010. Justifica-se, portanto, trazer essas ideias fornadas na experiência brasileira, buscando fortalecer conhecimentos e práticas emancipadoras.
O objetivo é discutir como Augusto Boal coloca a questão da colonialidade/imperialismo e sua proposta de enfrentamento através da Estética do Oprimido.
Metodologia
Este estudo está inserido na pesquisa de doutoramento em psicologia da primeira autora, Os caminhos de um caminhante: o pensamento de Augusto Boal da poética a estética do oprimido, sob orientação da segunda autora. O percurso metodológico se faz por um aprofundamento bibliográfico nas fontes primárias. Destas são privilegiados os livros que versam sobre a teoria e método de Boal, mas também busca contemplar artigos e outros registros do autor em livros coletivos, revistas ou mesmo falas do autor veiculadas no site oficial do Instituto Augusto Boal (https://institutoaugustoboal.org/).
Resultados e discussão
Revolucionando a estrutura do teatro clássico todo moldado pelo pensamento eurocêntrico Boal (1991;1998) volta-se para a realidade na América Latina e cria outros modos de fazer movimento através da arte. Contestando a colonialização da arte ele faz uma Revolução copernicana ao contrário (Boal, 1984), proposição singular em que o sujeito da fala é o sujeito produtor da arte e de si.
A Estética do Oprimido proposta por Boal (2009b) tem como objetivo a produção cultural dos grupos e povos oprimidos, manipulados ou excluídos. Constituindo, assim, uma prática para o desenvolvimento humano. A autor coloca a tese de que a palavra, a imagem e o som são canais de opressão e devem ser usados pelos oprimidos como forma de rebeldia e ação, sendo assim, arte e estética instrumentos de resistência/libertação.
Boal (2009a) chama de pensamento único aquele que se coloca como o legítimo. Alerta acerca do imperialismo moderno e os carteis de bancos com incidência mundial do capital financeiro. Reflete que vivemos diante de relações econômicas internacionais predatórias. Boal (2009b, p.84), “Eu seria globalmente a favor da globalização se seu objetivo fosse a saúde, educação e a ciência. Mas o que se globaliza é a busca do lucro”. Diante desta ponderação conclui que a globalização impõe normas de comportamento, valores, ideologias e gosto estético, constituindo assim o que chama de imperialismo cultural. O que no discurso ao Fórum Social Mundial de 2009 chamou de ideologia colonialista que impõe a diplomacia da obediência da submissão.
Considerações Finais
É diante do cenário predatório da modernidade que Boal traz a perspectiva da arte para as lutas e enfrentamentos a esse modo de relações entre os seres humanos. É nesse sentido que exalta a produção dos oprimidos, a estimulação dos sentidos pela criação da Estética do Oprimido. Para Boal não existe uma estética, mas várias, conforme a multiplicidade dos grupos humanos. Pelas sociedades serem plurais com etnias, classes, religiões e nações diferentes confirma a existência e estéticas variadas. Argumenta que existe o analfabetismo estético, sendo as ideias das classes dominantes veiculadas pelos canais estéticos da Palavra, Imagem e do Som que eles dominam, diz, latifúndios dos opressores. Portanto, é necessário exercê-los para a expressividade dos povos historicamente oprimidos, estimulando processos de libertação.
Referências Bibliográficas
Boal, A. (2009a). O Teatro como Arte Marcial. Rio de Janeiro: Garamond.
Boal, A. (2009b). A Estética do Oprimido. Reflexões errantes sobre o pensamento do ponto de vista estético e não científico. Rio de Janeiro: Funarte/Garamond.
Boal, A. (1991). Teatro do Oprimido e outras Poéticas Políticas (6ª Ed.). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
Boal, A. (1998). Jogos para atores e não atores – edição revista e ampliada (14ª ed.). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
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