28/09/2019 - 15:00 - 16:30 EO-11A - GT 11 - Trabalhos de Interesse Introdutório ao GT |
30814 - A EXPERIÊNCIA DO ENCONTRO DE SABERES ENTRE ACADEMIA E MOVIMENTOS SOCIAIS DO CAMPO E DAS CIDADES MARINA TARNOWSKI FASANELLO - NEEPES/ENSP/FIOCRUZ, MARCELO FIRPO PORTO - NEEPES/ENSP/FIOCRUZ, KELLY REGINA SANTOS DA SILVA - NEEPES/ENSP/FIOCRUZ, DIOGO FERREIRA DA ROCHA - NEEPES/ENSP/FIOCRUZ
Este relato tem como objetivo contribuir para o debate sobre como descolonizar e reinventar práticas emancipatórias no campo da saúde coletiva a partir da experiência do Encontro de lançamento do Núcleo Ecologias, Epistemologias e Promoção Emancipatória da Saúde - Neepes. Tem como proposta desenvolver conhecimentos interdisciplinares, metodologias colaborativas sensíveis articuladas com abordagens teórico-poéticas e diálogos interculturais que apoiem lutas por saúde, dignidade e direitos territoriais nas cidades, campos, florestas e águas. Apoia-se na saúde coletiva, ecologia política e nas epistemologias do Sul para integrar várias dimensões da justiça (social, sanitária, ambiental e cognitiva).
O Encontro aconteceu ao longo de três dias, entre 26 e 28 de novembro de 2018 na Fiocruz em espaços da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca e da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio. Sua proposta metodológica foi desenvolvida coletivamente nos meses que antecederam o evento buscando a horizontalidade e o diálogo de saberes que alimentam os princípios teórico-políticos do Neepes para levantar possibilidades de trabalhos futuros.
Tendo por base esse arcabouço, Neepes convidou representantes envolvidos em experimentos sociais e epistemológicos emergentes que pudessem contribuir ao desenvolvimento teórico-metodológico e na construção de práticas sociais mais democráticas e sustentáveis. Dessa forma, indígenas, quilombolas e camponeses aproximaram-se de movimentos sociais urbanos, articulando distintas epistemologias produzidas desde as lutas territoriais em diálogo com intelectuais engajados, propiciando reflexões conjuntas sobre resistências e alternativas tanto na academia como na sociedade.
No primeiro dia realizamos dois momentos de reflexão. Um sobre a Construção de Saberes Emancipatórios frente à Crises Ecológica e Democrática nos Campos e Cidades, a partir de três perspectivas: as lutas sociais por cidades inclusivas e democráticas; os conflitos ambientais, a violência e as lutas sociais no campo; e por fim, o papel do Estado na defesa da democracia e dos direitos coletivos. Em um segundo momento apresentamos trechos do documentário Fio da Meada do cineasta Silvio Tendler para pensar o papel da arte e da comunicação como estratégia de visibilidade das lutas e dos conhecimentos alternativos frente aos conflitos socio-ecológicos, reconhecendo que um desafio central das metodologias colaborativas seja a criação de subjetividades.
No segundo dia exercitamos dinâmicas colaborativas com possibilidades das diferentes vozes se expressarem através de linguagens diversas, divididos em quatro grupos segundo critérios de diversidade de espaços de produção do conhecimento, territórios e gênero.
O que une as lutas sociais dos campos e cidades? Essa foi a pergunta geradora comum a todos os GTs que foram divididos nos temas: (1) expressões do racismo no território; (2) ecologia de saberes; (3) soberania alimentar e promoção da saúde; (4) produção de vida em territórios marcados por violações. Para que houvesse uma interação entre saberes científicos e não científicos, realizamos dinâmicas de tradução intercultural, onde contamos com a condução de representantes de movimentos sociais e de pesquisadores engajados no campo e nas cidades. Elaboramos quatro passos para a realização dos trabalhos e apresentação final dos relatos: acolhida; dinamização das falas; construção e apresentação dos relatos. Também como estratégia de construção de conhecimento e de visibilidade, registramos as discussões em audiovisual, em parceria com a TV Tagarela da Rocinha.
No terceiro dia, os relatos dos quatro grupos foram apresentados em três linguagens a fim de garantir uma constelação maior de expressões: relato escrito; facilitação gráfica e poético-musical. No final da manhã, o cientista social Boaventura de Sousa Santos (CES/UC) fez comentários sobre as discussões e proposições do Encontro em diálogo com o referencial das epistemologias do Sul. Na parte da tarde, uma última mesa apresentou visões de lideranças de movimentos sociais sobre suas experiências e expectativas na construção de conhecimentos no contexto de suas lutas. Após uma rodada de debates e comentários finais por parte dos presentes, o Encontro foi encerrado com lançamento de livros e um lanche oferecido, que como toda alimentação servida no evento, foi elaborado a partir de alimentos agroecológicos ou vivos e de origem socioambientalmente justa.
Um dos resultados do Encontro foi sublinhar a potência do uso das diferentes linguagens na articulação entre os movimentos sociais e pesquisadores acadêmicos para construção de um diálogo mais horizontal e de uma proposição de uma ecologia de saberes. A ideia é avançar na construção de novas metodologias e narrativas para a criação de pensamentos e práticas emancipatórias com a emergência de uma razão quente e criativa, um corazonar (GUERRERO ARIAS, 2010), na junção entre conhecimento e ética, entre razão e afeto.
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