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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-11F - GT 11 - Territorialidades e conflitos ambientais

30181 - TERRITORIALIDADES, SAÚDE E AMBIENTE: CONEXÕES, SABERES E PRÁTICAS QUILOMBOLAS EM SERGIPE, BRASIL
ROBERTO DOS SANTOS LACERDA - UFS, GICÉLIA MENDES DA SILVA - UFS


Introdução - A complexidade inerente à dinâmica das relações dos seres humanos em sociedade e com o meio ambiente requer a ampliação das possibilidades de análise dessas relações.
As comunidades quilombolas têm como fundamento de constituição e definição a relação com o território. Para esses grupos, o território é a base da reprodução física, social, econômica e cultural da coletividade, e a territorialidade está relacionada a uma dimensão simbólica da identidade e a comunhão que o povo mantém com o seu território (SANTOS, 2007).
Quando pretendemos discutir territórios quilombolas e a interface entre saúde e ambiente, aparecem intimamente imbricados a percepção que a construção do território produz identidades e as identidades produzem territórios, sendo esse processo produto de ações coletivas, recíprocas, de sujeitos sociais. A territorialidade traduz o conjunto daquilo que se vive no cotidiano, como as relações de trabalho, família, a dimensão política, as relações econômicas e culturais, a forma como os grupos utilizam a terra, como se organizam no espaço e dão significado ao lugar (MERTENS et al., 2011). Nesse sentido, os saberes e práticas de cuidado em relação à saúde e ao meio ambiente também constroem a territorialidade de um povo.
Objetivo -Analisar como as territorialidades presentes nos saberes e práticas tradicionais de cuidado em saúde contribuem para a conservação ambiental em comunidades quilombolas.
Metodologia - Tratou-se de um estudo etnográfico, com análise orientada pelo método do Interacionismo Simbólico. Observação participante no período de junho de 2016 a julho de 2017, com registro em diários de campo, fotográfico, e entrevistas. Foram entrevistados nove agentes cuidadores quilombolas (duas rezadeiras, um rezador, uma ex-parteira, uma erveira, um erveiro, uma agente comunitária de saúde e dois líderes culturais), no quilombo Mocambo, município de Porto da Folha e no quilombo Sítio Alto localizada no município de Simão Dias.
Resultados e Discussão -Foram identificadas diversas práticas tradicionais de cuidados nas comunidades quilombolas prestadas por parteiras, a utilização de plantas medicinais pelos erveiros e as práticas de cuidado que têm na religiosidade seu fundamento principal e são prestadas pelas benzedeiras e rezadeiras. Outros saberes e práticas, comumente rotuladas como práticas artísticas, de agriculturas ou apenas “culturais”, foram apresentadas pelas comunidades como práticas de cuidados em saúde e meio ambiente. O samba de coco no Mocambo, e dança de roda em Sítio Alto, o banco de sementes crioulas e têm seus significados e performances fundamentados nas relações entre saúde e ambiente.
Na análise dos saberes e práticas encontramos três tipos de territorialidades que estão interligadas e estabelecem o elo entre saúde e ambiente no cotidiano das comunidades pesquisadas, sendo elas: Territorialidade da resistência - A resistência está presente nos discursos, nas práticas e nas estratégias de promoção da saúde e conservação ambiental nas comunidades. Segundo os cuidadores, a utilização desses saberes e práticas representa a contraposição ao histórico de desassistência à saúde bem como o elemento primordial de manutenção dos recursos naturais presentes nos territórios. Dona "J", líder comunitária do Sítio Alto, ao relatar a importância do banco de sementes crioulas para a comunidade, problematiza:
[...] Para a gente ter a segurança alimentar, a gente tem que ter a soberania para saber de onde vem, quem plantou, onde colocou, porque muitas vezes a gente está se matando pela própria boca. Na perspectiva da territorialidade do cuidado, cuidar “do outro”, portanto, também implica o cuidado para com o meio ambiente e os seres não humanos. Territorialidade da esperança - A questão ambiental ocupa lugar de destaque quando as comunidades pensam no futuro. "Meu sonho é conseguir uma área para preservar todas as reservas florestais que a gente já teve aqui, as árvores e as ervas, tanto frutífera como florestal".
Considerações Finais - Percebe-se que a complexidade do cuidado em saúde e ambiente nas comunidades quilombolas é fundamentada em valores e princípios civilizatórios e epistemológicos que posicionam seres humanos e não humanos em uma grande “roda da vida”. As territorialidades da resistência, do cuidado e da esperança abarcam um conjunto de saberes, práticas, símbolos, sonhos e projetos, tradicionais e de vanguarda, que apontam caminhos alternativos de análise das relações entre saúde e ambiente.
Referências
SANTOS, M. As diferentes abordagens do território e a apreensão do movimento e da (i)materialidade. Geosul, Florianópolis, v. 22, n. 43, p. 55-76, jan/jun, 2007.
MERTENS, F. et al. Redes sociais, capital social e governança ambiental no Território Portal da Amazônia. Acta Amazônica, v. 41, p. 481-492, 2011.

local do evento

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