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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-11F - GT 11 - Territorialidades e conflitos ambientais

30231 - LUGAR DE MEMÓRIA E RESISTÊNCIA: JORNAL A SIRENE PARA NÃO ESQUECER
SERGIO PORTELLA - FIOCRUZ, SIMONE SANTOS OLIVEIRA - FIOCRUZ, NATHALIA FIGUEIREDO - UERJ / FIOCRUZ, MAYARA PORCINA DE OLIVEIRA - UERJ / FIOCRUZ


Introdução
Neste relato de pesquisa são apresentadas considerações sobre o Jornal A Sirene, produzido no território que inicialmente foi impactado pelo rompimento da Barragem de Fundão, em 5 de dezembro de 2015, Minas Gerais, definido por muitos especialistas e pelos movimentos sociais como Crime da Samarco. O Jornal A Sirene é publicado desde fevereiro de 2016 e conta até o momento da finalização deste trabalho com 39 publicações. Consideramos o jornal, um lugar de memória, na perspectiva do pensador francês Pierre Nora, que aponta uma luta entre história oficial e memória local desde a segunda metade do século XX. Pode também ser colocada dentro da moldura do pensamento de Boaventura Santos, quando destaca o tema da linha abissal Norte-Sul, manifesta na produção de conhecimentos assimétricos que justificam desigualdades, epistemicídios e injustiças cognitivas, na criação da figura dos ignorantes, caso dos atingidos. Nesse processo, considera-se que se formou uma comunidade imaginada, a de Mariana, no sentido que sugere Veena Das. Para a autora, esse conceito comunidade imaginada busca dar conta do fenômeno, resultante muitas vezes de eventos críticos, e que expõe populações incógnitas, a um embate com o Estado e corporações, e se imaginam outras ao lutarem pela identidade perdida e não menos capturada por discursos e ações de instituições, órgãos públicos e corporações. Nesse caldo de controvérsias, os trabalhos de pesquisadores e especialistas também contribuem para a formação dessa comunidade imaginada, junto com reportagens, pareceres jurídicos e um mundo de expressões sociotécnicas ligadas a ação de peritagem na disputa de produção de conhecimentos que tenham a marca do verdadeiro, como aponta Bruno Latour.
O jornal A Sirene surge então como uma forma de garantir protagonismo aos atingidos, aqueles que verdadeiramente viveram o desastre em seus diversos aspectos. Importante destacar também a utilização da plataforma virtual como forma de difusão de informações após o desastre, que tem a possibilidade de ir além do local, do nacional, alcançando uma proporção mundial.
Objetivo
Analisar os discursos veiculados pelo Jornal A Sirene buscando evidenciar a formação do lugar de memória desta comunidade imaginada e as controvérsias especialmente no que tange ao tema saúde.
Metodologia
Foram analisadas edições do Jornal A Sirene, no período de fevereiro de 2016 a dezembro de 2018. O jornal é produzido mensalmente pelos atingidos do desastre em colaboração com a Universidade Federal de Ouro Preto, e publicado todo dia cinco do mês, em formatos papel e digital no site oficial do jornal. Sobre como os atingidos relatam questões relacionadas à saúde, ao longo desses anos, registramos ao final do levantamento (trinta e quatro edições analisadas) 64 trechos relacionados de alguma forma a esse tema.
Resultados
O Jornal A Sirene, como proposta e como realização, se coloca no lugar de “pensar com”. Jornalistas (especialistas), movimentos sociais e a comunidade atingida diretamente pelo rompimento da barragem assinam juntos todas as respectivas reportagens. Só é publicado o conteúdo que fica acordado entre esses atores.
Ao longo de leituras, desde edição inaugural de fevereiro de 2016, é possível notar o esforço de elaborar uma escrita clara e acessível à população de um modo geral. Há uma preocupação de que seja efetivo o intercâmbio de informações formais, técnicas, sobre os direitos daquelas comunidades ao mesmo tempo que é proposto preservar as memórias das comunidades atingidas. Características de um lugar de memória, como aponta Nora.
A produção de memória se faz imperativa para os grupos locais, sempre deslocados para discussões mais globais com a perversa invisibilização de suas necessidades e sofrimentos, generalizados em discursos universalizantes. Uma sessão do jornal denominada Papo de Cumadre evidencia a necessidade de se manter viva inclusive uma forma de expressão e linguagem, que é comum na comunidade, apresentada na forma vernácular sem seguir as normas cultas da língua.
As controvérsias sócias técnicas, em sua maioria sem resposta, são denunciadas constantemente nas diversas edições do jornal, especialmente as relativas à saúde. Os responsáveis pelo crime evitam dar deliberação e decisão àqueles atingidos, e utilizam de estratégias para ganhar tempo, controlar o tempo e, por fim, capturá-lo como quando se cria a Fundação Renova para conduzir as ações de reparação. Muitas delas irreparáveis.
Considerações finais
Com relação a questão saúde, os atingidos evidenciam a importância do tema para toda a comunidade e destacam a estratégia da empresa Samarco de não reconhecer vínculos entre o desastre e os problemas de saúde, sejam físicos ou psicossociais, relatados constantemente pela população. Para os sirenistas, em seus editoriais e reportagens, fica claro que a Fundação Renova reescreve a história a favor da empresa e quer no seu limite capturar também a memória dos atingidos.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

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