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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-11F - GT 11 - Territorialidades e conflitos ambientais

30529 - AS RELAÇÕES ENTRE A SAÚDE E A EXPOSIÇÃO AOS RESÍDUOS SIDERÚRGICOS: O CONFLITO SOCIOAMBIENTAL NO VOLTA GRANDE IV A PARTIR DOS SEUS MORADORES
GILMARA DA COSTA SILVA - FIOCRUZ, SIMONE SANTOS SILVA OLIVEIRA - FIOCRUZ, MARIA ELISA SIQUEIRA BORGES - UFF


Introdução:
Este trabalho consiste no relato de uma pesquisa-intervenção com os moradores do conflito socioambiental no condomínio Volta Grande IV, Volta Redonda/RJ. Partimos dos referenciais da Saúde Coletiva, Saúde do Trabalhador e da Ergologia para a compreensão das relações entre a saúde e a exposição aos resíduos siderúrgicos a partir do ponto de vista dos moradores. Fizemos uso também das contribuições da Ecologia Política e da Ecologia dos Saberes.
Metodologia:
Utilizamos a lógica do Dispositivo Dinâmico de Três polos em rodas de conversa sobre “Saúde, Território e Trabalho” com os moradores. Realizamos ainda entrevistas qualitativas com alguns atores sociais , para a compreensão ampliada do conflito.
Resultados e discussão:
Como resultados obtivemos a troca de saberes e experiências a partir de dois grandes movimentos: 1) O território e as relações; 2) A saúde e os riscos: um sonho que virou pesadelo. Foi possível identificar uma ambivalência nos pontos de vista dos moradores, bem como um histórico de luta marcado pela influência de interesses diversos, o que ocasionou certo descrédito dos moradores com relação aos diversos atores e instituições envolvidas no caso.
Um grande problema enfrentado pelos moradores ao longo dos anos foi a presença dos interesses político-partidários em seu histórico de luta pela saúde e pelo direito de viver em um ambiente saudável. É nítido como os moradores são marcados pela desconfiança e pelo descrédito para com os atores sociais que se implicam na problemática do condomínio. Alguns chegam a acreditar que a contaminação se resume a interesses políticos e que é tudo “invenção” para algumas pessoas se beneficiarem com a causa. Outros, por sua vez, resolveram sair do condomínio, aumentando a rotatividade dos moradores.
Os moradores apresentam um misto de sentimentos e pontos de vista sobre a situação vivenciada. Apontam que gostam de morar no condomínio, por outro lado, sinalizam as imposições do meio como limitações de vida e geradoras de preocupações. Foi possível identificar certa naturalização da contaminação local e da poeira, tanto a encontrada no condomínio quanto a da poluição de uma forma geral. Foi possível observar que existe uma multiplicidade de opiniões em relação à contaminação e aos efeitos à saúde. A falta de informações ou as informações conflitantes que chegam até os moradores, ora por meio da empresa, ora por outras instituições, acabam confundindo ainda mais os moradores em relação a situação em que se encontram atualmente. Tal fato é característico de casos de Injustiça ambiental. Os moradores se deparam cotidianamente com os diferentes riscos que morar no condomínio envolve; e com as escolhas, entre a saúde, o trabalho, a perda financeira... – valores imensuráveis e mensuráveis presentes nos modos de andar a vida e em toda atividade humana.
Considerações finais:
O caso Volta Grande IV é mais um exemplo de como os processos de injustiça ambiental se desenvolvem e como os conflitos socioambientais são instalados. Um caso de omissão das instituições públicas e de violação de direitos com a “ajuda” do próprio Estado. Um caso ainda de vulnerabilização da população, com a falta de acesso às informações e esclarecimentos sobre os fatos, bem como com a exposição socialmente desproporcional dos riscos dos resíduos e com disputa desigual no uso do território em que se encontra o depósito. É um exemplo de como em uma sociedade pautada pelo lucro e pelo poder econômico, os valores de mercado são colocados à frente dos valores do bem comum, por exemplo, deixando exposta a saúde de populações em função do descarte barato dos resíduos siderúrgicos. Os moradores se confrontam cotidianamente com as restrições do uso do território, com a desvalorização econômica e simbólica dos seus imóveis, com os interesses político-partidários em ano de eleições, com a falta de informações contundentes sobre a situação do condomínio e as possíveis formas de habitar o território. E ainda, com a iminência de terem que se retirar de suas casas – se comprovado que o ambiente é impróprio para habitação – assim como com os conflitos relacionados ao fato de morarem em um condomínio contaminado pela grande empregadora da cidade, que é a CSN. O caso é ainda um exemplo de como o saber epidemiológico, científico e universal, pode encontrar limites em sua aplicabilidade, caso não esteja sensível ao que o local, o homem lento, coloca como variabilidades do território. É em vão colocar em cena um arsenal técnico-científico se o coletivo de moradores não se sente fortalecido e seguro para militar por sua saúde e outros direitos (meio ambiente saudável, moradia, emprego). O caso em tela é um convite às instituições, especialmente as de garantia de direitos, a se repensarem enquanto atores promotores de justiça social. Como produzir justiça social com os coletivos enfraquecidos? Como fortalecer os coletivos para que sejam protagonistas de suas lutas? Este é um desafio da atualidade.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

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