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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-11F - GT 11 - Territorialidades e conflitos ambientais

31087 - O ARTESANATO DA COMUNIDADE AMPLIADA DE PESQUISA AÇÃO DO LTM: DIÁLOGOS, MEDIAÇÕES E CO-LABORAÇÃO NA FAVELA
FATIMA PIVETTA - FIOCRUZ, MARIZE BASTOS DA CUNHA - FIOCRUZ, LENIRA ZANCAN - FIOCRUZ, FABIANA MELO SOUSA - FIOCRUZ


Partindo das experiências com as Comunidades Ampliadas de Pesquisa Ação do Laboratório Territorial de Manguinhos (LTM) da Fiocruz, nosso objetivo é contribuir para o debate acerca de metodologias co-laborativas, que visem uma Promoção Emancipatória da Saúde como um caminho para a desconstrução da linha abissal, tal como define Boaventura de Souza Santos.
O LTM constituiu-se como um programa de investigação e extensão, em 2003. Desde então vem atuando no campo conceitual e de práxis da Promoção da Saúde tendo as favelas do Rio de Janeiro como espaços de observação e reflexão para o desenvolvimento de metodologias que possibilitem uma maior compreensão dos processos saúde-doença e produção de conhecimentos emancipatórios através de Comunidades Ampliadas de Pesquisa Ação (CAP).
A CAP se constitui como um dispositivo de produção de conhecimento que reúne pesquisadores, moradores e organizações locais dos territórios em que atua. A noção de artesanato de Mills serve aqui para nomear aquilo que concebemos fundamental em nossas experiências com as CAP, em consonância com a compreensão freiriana de cultura: criação e recriação do mundo como resultado do trabalho de compreender e atuar no mundo.
No percurso do LTM temos experimentado, em diálogo cotidiano com a favela de Manguinhos, mas também com o Alemão e a Rocinha, diferentes conformações para as CAP. Em sintonia com os movimentos do território, vimos exercitando dinâmicas que favoreçam um circuito de produção, circulação e apropriação de conhecimento e informação, que contribuam para a autonomia e emancipação das pessoas e para as lutas políticas dos coletivos. Os movimentos do e no território foram moldando as estratégias de aproximação, refletindo nas diferentes mediações ao longo do tempo e configurando os principais atores participantes. Em Manguinhos, por exemplo, além de trazer a experiência dos moradores que militam no território para o cotidiano do LTM, atuamos em estreita colaboração com o Conselho Gestor Intersetorial de Manguinhos (CGI), no âmbito do Programa Teias Escola Manguinhos da Fiocruz, responsável pela Atenção Básica no território, bem como fazendo pontes das demandas dos moradores e seus coletivos com outras instituições, como a Defensoria Pública. A Comunidade Ampliada de Pesquisa Ação do LTM é tomada, neste sentido, como espaço de experimentação de caminhos de aproximação com o território para compreender suas dinâmicas e elaborar outros processos explicativos e compreensivos da realidade mais democraticamente construídos.
As composições, as dinâmicas operativas, as estratégias para produção de conhecimento, as linguagens e formas de sistematização em materiais político pedagógicos, foram sendo transformadas em resposta aos aprendizados coletivos acumulados. Configuram-se como formas de desconstrução da linha abissal e de visibilidade das experiências e práticas sociais e culturais existentes na dinâmica da favela, que acenam movimentos de resistência e enfrentamento ao desenraizamento, às respostas precárias e provisórias aos dilemas das favelas e a invisibilidade social de seus problemas e lutas, bem como dos dramas de seus moradores.
O domínio global da ciência moderna forjou outra maneira de produzir experiências “não comunicáveis”, para falar como Walter Benjamin, ao relegar ao silêncio e à invisibilidade outras formas de saberes e práticas. A ocultação e o descrédito desses saberes e práticas é o que Boaventura de Sousa Santos define como desperdício da experiência. A tarefa das Comunidades Ampliadas de Pesquisa Ação é, portanto, dar materialidade e qualificar as experiências invisibilizadas das favelas. As violências dos poderes das forças de segurança pública e dos circuitos marginais nas grandes cidades, como o Rio de Janeiro, se reflete sobremaneira nos territórios de favelas e nos colocam desafios enormes para a criação do “inédito viável”, como ensina Paulo Freire, o que para o LTM é o de continuar a ser um espaço de encontros, de diálogo e de resistência, e parte das redes de sustentação da participação na adversidade.
O silenciamento das populações de favelas e periferias é visível pela negação do seu pertencimento à cidade e pelo não reconhecimento da sua condição de cidadão e de sujeito da sua própria vida. Entretanto, o que não é visível é o sofrimento dessa condição de não reconhecimento e os impactos disso sobre a situação de saúde. Razão por que afirmamos serem as Comunidades Ampliadas de Pesquisa Ação dispositivos de produção compartilhada de conhecimento, que tem como uma das principais características ou funções serem espaços de emergência de invisibilidades. É na intimidade das oficinas das CAP que as experiências “não comunicáveis”, processos invisibilizados pelos modos hegemônicos de produção de conhecimento em saúde, emergem das falas e testemunhos dos moradores e orientam nosso olhar para a compreensão dos processos de determinação social da saúde nos espaços de favela.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

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