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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 15:00 - 16:30
EO-11G - GT 11 - Territorialidades e conflitos ambientais

30549 - A DINÂMICA LOCAL DAS DROGAS E O OLHAR PÓS-COLONIAL
VITOR ROCHA DE ARAÚJO - USP


Apresentação/Introdução

A saúde pública/coletiva, as ciências humanas e sociais como um todo e o imaginário latino-americano continuam demasiado imbuídos nas narrativas eurocêntricas do Estado moderno e da racionalidade teleológica. Persiste a sensação de que nossos Estados “ainda não chegaram lá”. E, então, se eles não assumem certos “transtornos” ou “dilemas” da vida social, vemos isto como um problema, algo a ser consertado, ou estágio que ainda não alcançamos. Até porque nossos centros de referência continuam estadunidense-e-euro-cêntricos.
Diversos autores pós-coloniais, entretanto, trabalham com uma ideia não comparativa de construção histórica, afinal, quando diferenças são percebidas a partir de uma norma do que se é tradição/modernidade, elas acabam sendo tratadas como desviantes ou atrasadas. O argumento pós-colonial vai no sentido de dar poder às vivências subalternas e às nossas próprias construções sociais, políticas e epistemológicas, entendendo que há diferentes significados de modernidade e diferentes caminhos para ser moderno.

Objetivos

Parto da análise de como nossos territórios, estruturas e agentes respondem ao proibicionismo às drogas para 1) demonstrar nossas vias de modernidade e 2) explorar caminhos em direção a uma epistemologia pós-colonial que descentralize as referências eurocêntricas.

Resultados e discussão

A construção local do nosso mundo-histórico com relação à dinâmica das drogas é realizada, sobretudo, numa conjunção fronteiriça entre estruturas do status quo e agências das pessoas que usam drogas, entre ‘tradição’ e ‘modernidade’: pelas redes, pelos coletivos, pela resistência dos movimentos sociais, pela judicialização, pelas manifestações culturais, pela mídia hegemônica e pelos canais contra-hegemônicos, pelas trincheiras do Estado, pelas vias legais e ilegais. A forma com que as pessoas que usam drogas e os ativistas por outra política de drogas disputam a arena política dentro do Estado brasileiro, por entre a mídia hegemônica e a família burguesa, e os resultados decorrentes deste processo desembocam, precisamente, na construção de nossa modernidade.
Creio ser evidente, entre aqueles que defendem a dignidade humana, que o objetivo último com relação à dinâmica política e cultural das drogas deva ser a diminuição do sofrimento das pessoas, a des-normatização de uma cultura teleológica, colonialista e racista, a des-disciplinarização e des-aprisionamento dos corpos e das práticas, seja isto feito de forma coletiva pelos agentes ou em políticas públicas pelo Estado. Meu argumento é justamente fugir de uma conclusão que seja representada pelo “ou/ou”, isto é, considerar que apenas o Estado deva assumir construções políticas antiproibicionistas ou que os agentes devam fugir de quaisquer cooptações. Nossa construção de modernidade com relação à dinâmica das drogas é realizada, sobretudo, por esse vínculo entre estrutura e agência, que estão continuamente interligadas.

Metodologia

Neste trabalho, analiso a dinâmica local com relação às drogas, por meio de uma análise qualitativa e uma perspectiva pós-colonial. Entendo ser necessário uma abordagem que vá além das interpretações estadistas ou das concepções que idealizam a agência e que parta de uma epistemologia que não inferiorize as experiências do Sul-global.


Conclusões/Considerações Finais.

Penso que dois pontos são cruciais: 1) o reconhecimento das agências e vivências dos subalternos que, como tal, nunca podem ser relegadas, socialmente ou pela epistemologia (que frequentemente se foca nas tentativas de transformação do macro). Óbvio que estes territórios, práticas e performances podem estar sujeitos à repressão do Estado e a tantas disputas e restrições do macro, mas ainda assim suas potências geram mundos possíveis e persistem no mundo da vida quando não há garantias do macro. 2) a necessidade de revisarmos este condicionamento mental, cultural e epistemológico que insiste em colocar nossas experiências e territórios na posição de –sub, desviante e atrasada. Nossas experiências de modernidade são lugares férteis de imaginações dissidentes que, por sua vez, desafiam o modelo e a visão de mundo ocidentais e eurocêntricos. Creio que é necessário saber fluidificar nossas referências: quando questionamos os nossos nortes, quando os reposicionamos, é quando podemos vislumbrar caminhos que não faziam sentido até então e que podem se mostrar mais pungentes e adequados. Creio que como lidamos com nossos problemas, sob as condições e com as formas que lidamos, é o que faz estarmos criando as nossas alternativas ao modelo proibicionista às drogas e a nossa modernidade interconectada com outras tantas modernidades globais.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

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