29/09/2019 - 15:00 - 16:30 EO-11G - GT 11 - Territorialidades e conflitos ambientais |
30878 - PESQUISA PARTICIPANTE E DESAFIOS EM TERRITÓRIOS VULNERÁVEIS: RELATO DE UM PERCURSO METODOLÓGICO LUCIANE MARIA PEZZATO - UNIFESP - BS, LIA THIEME OIKAWA ZANGIROLANI - UNIFESP-BS, KARINA RODRIGUES MATAVELLI ROSA - UNIFESP-BS, DANILO DE MIRANDA ANHAS - UNIFESP-BS, LAIS HELENA DUTRA - UNIFESP-BS, MAYARA VIANNA - UNIFESP-BS, CARLOS ROBERTO DE CASTRO-SILVA - UNIFESP-BS
A pesquisa participante propõe uma relação entre iguais na pesquisa, envolvendo os sujeitos numa experiência de compartilhamento de saberes e construção de redes, com aspiração de produzir transformações. O objetivo do trabalho é relatar o percurso metodológico de um grupo interdisciplinar de pesquisadores que implementaram dois projetos: CNPq - 407836/2016-0 - sobre participação social e subjetividade e, FAPESP - 2016-23973-2 - sobre a ética do cuidado e direitos humanos. Ambos de caráter qualitativo e abordagem referenciada na pesquisa participante, com trabalho de campo realizado simultaneamente em dois territórios na Baixada Santista-SP, no período de junho de 2017 a outubro de 2018. A interdisciplinaridade ficou expressa desde a composição do grupo inicial de pesquisadores. As questões norteadoras dos projetos emergiram da inserção diversificada e intensa dos pesquisadores, em quase uma década de atividades de ensino, extensão e pesquisa desenvolvidas nesses dois territórios, em consonância com o Projeto Político Pedagógico da UNIFESP-BS, na busca de sentidos e significados compartilhados sobre a compreensão da saúde e do cuidado em territórios de alta vulnerabilidade social. Ao longo da pesquisa buscou-se, estratégias e metodologias de investigação para ampliar as possibilidades de diálogo e apoiar processos de transformação social nos territórios, na perspectiva da produção ética do cuidado em saúde. O reconhecimento do território como espaço de relações de poder fortemente presentes foi o primeiro passo levantado como ponto comum entre as duas pesquisas. Nos dividimos em subgrupos para realizar as ações de forma planejada, com propósitos comuns, valorizando a especificidade de cada território e de cada equipe. Um dos territórios da pesquisa está localizado em região com comprovada contaminação química do solo, recursos hídricos e atmosféricos, com mais de 10 mil habitantes, atendidos pelo Estado, por meio de uma unidade básica de saúde com três equipes de saúde da família. No outro território a pesquisa foi referenciada em três unidades de saúde da família, em região marcada pela presença do tráfico e por novas ocupações em áreas de risco. Por se tratar de territórios pouco estruturados e com alta vulnerabilidade social, reforça a necessidade de considerarmos o território como categoria analítica do processo saúde-doença, interferindo nos modos de organizar as práticas de cuidado em saúde (Santos; Rigotto 2011). No trabalho de campo utilizamos: visitas aos territórios, participação de reuniões de equipe, oficinas temáticas, diários de campo, entrevistas semi-dirigidas e em profundidade. Estas ferramentas possibilitaram uma diversidade de achados que foram discutidos e analisados passo-a-passo, no sentido de articular o que foi produzido em cada campo ao planejamento das atividades seguintes, pois na pesquisa participante é fundamental a integração de saberes do que foi produzido coletivamente. O passo seguinte foi constituir um grupo de pesquisa com os profissionais das USF e lideranças comunitárias dos territórios. Todavia, surgiram desafios que nos fizeram repensar nossas implicações de como estamos estabelecendo e cuidando dos vínculos entre pesquisadores, profissionais, lideranças e territórios. Apesar da adesão acolhedora dos profissionais, notamos que colocavam-se num papel passivo no processo, pois o referencial positivista de pesquisa prevalecia. O que sugere uma responsabilidade ainda maior quanto à construção de novas formas de fazer pesquisa, para que seja apreendida como possibilidade de transformação da realidade por eles mesmos. A presença e comprometimento das lideranças não se deu do mesmo modo nos territórios, apontando diversidades de apropriação do lugar social que ocupam nas políticas de saúde locais. Neste sentido, a pesquisa aparece como um espaço político, promotor de encontros e de cuidado. Estes encontros e este cuidado são o lócus, do que na perspectiva da metodologia participante (Freire, 2006; Fals Borda, 2006), denominamos como a construção de um conhecimento coletivo, horizontal e democrático no intuito de transformação das realidades sociais. O aspecto “construir junto” apareceu em vários diários de campo porém, podemos nos indagar sobre os limites dessa construção coletiva e do quanto a instabilidade política e destruição de direitos de cidadania no país, que atingem diretamente o sistema de saúde na conjuntura atual, acaba por comprometer esse processo. A partir de diferentes narrativas que emergiram ao longo do processo, como uma pluralidade de vozes, experiências e saberes, a dimensão ético-política mostra-se um eixo importante de aprimoramento de pesquisas participativas, especialmente em territórios marcados pela vulnerabilidade social. A construção destas parcerias implicou em processos intensos de presença no território, os quais se sustentam pela confiança e amizade construídas no espaço público de trabalho e vida.
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