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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-16C - GT 16 - Violências e Aborto

29352 - O PROCESSO DECISÓRIO PELO ABORTO: EXPERIÊNCIAS DE MULHERES E HOMENS DE ESTRATOS SOCIAIS MÉDIOS NO NORDESTE BRASILEIRO
PALOMA SILVEIRA - ISC/UFBA, CECILIA MCCALLUM - ISC/UFBA, GREICE MENEZES - ISC/UFBA


Introdução
O aborto é tema constante na área de saúde, contudo, a temática da decisão é pouco explorada (MENEZES; AQUINO, 2009). As pesquisas, em geral, discutem os motivos que levaram ao aborto problematizando como estes estão relacionados ao momento de vida e se as mulheres compartilharam ou não a decisão com terceiros. Existe uma compreensão de que a decisão, ao ser tomada, é automaticamente realizada, refletindo a ideia da decisão como individual, já que estes estudos a apresentam como desconectada do itinerário abortivo, expressão que designa os caminhos percorridos para realizar o aborto. Mesmo em estudos sobre itinerários, tema também pouco explorado, esta separação permanece (DINIZ; MEDEIROS, 2012). Em geral, as pesquisas apontam que os itinerários variam segundo o contexto sociocultural e econômico, a idade à época do aborto e a rede de relações sociais. Em um contexto ilegal e de forte condenação moral como o brasileiro, onde existem distintos caminhos para a realização do aborto, não existe decisão separada do itinerário. A partir de uma análise das histórias de abortos mostramos que a separação entre decisão e itinerário não condiz com as experiências de abortos relatadas pelas pessoas entrevistadas. Propomos que, para compreender a decisão pelo aborto, é preciso entendê-la como um processo composto por distintos momentos: a suspeita/confirmação da gravidez, as reflexões sobre seu desfecho, a tomada de decisão, as estratégias acionadas para viabilizar esta decisão e efetivar o aborto. Esses momentos não são estanques, ou mesmo sucessivos, são fluidos e interconectados entre si e ao momento de vida em que ocorre a gravidez imprevista. Diferentes fatores os influenciam, fazendo com que a decisão pelo aborto esteja sujeita a mudanças até mesmo no dia da interrupção.
Objetivo
Analisar as experiências de aborto de mulheres e homens de estratos sociais médios do Nordeste brasileiro, focalizando a construção da decisão e o itinerário abortivo.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada em 2012. Foram entrevistadxs 20 mulheres e 7 homens, residentes nas grandes Salvador e Recife. A estratégia utilizada para acessar essas pessoas foi o acionamento da rede de relações da primeira autora. Ao longo da vida delas, 41 gestações foram interrompidas. No que se refere à análise, os dados foram submetidos à análise temática (GOMES, 2010). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, 029-12/CEP-ISC.
Resultados
"Eu, desde o início, eu não tive dúvidas, não vou levar a gravidez adiante, não vou mudar a minha vida, meus projetos, em função de uma gravidez que realmente eu não desejei, eu passei por muitas coisas para estar na universidade. Aí vem como fazer, o mais difícil foi encontrar essa clínica, demorou pra caramba, porque também não faria de qualquer forma, talvez até levasse a gravidez adiante, pois não encararia um processo em qualquer clínica". Esse trecho da entrevista de Flora exemplifica a proposta analítica defendida no estudo, mostrando como a construção da decisão é processual, circunstancial e relacional. Diferentes elementos entram em jogo no processo decisório pelo aborto, em que as pessoas realizam uma avaliação sobre suas vidas e o que a continuidade de uma gestação significaria naquele momento. Nos caminhos para viabilizar a decisão as pessoas se depararam com o contexto ilegal e a condenação moral. A clandestinidade impõe uma série de obstáculos, que são dirimidos pelas condições socioeconômicas e pelo capital social. Os homens são figuras essenciais nesse momento, oferecendo apoios emocional, financeiro etc. No momento da interrupção, outros elementos entram em cena, o saber/poder médico, expondo as mulheres a variadas situações e até nesse momento a decisão pode ser modificada. A continuidade da gravidez é sempre uma possibilidade, no processo decisório pelo aborto.
Considerações
A decisão pelo aborto não está apenas circunscrita ao indivíduo, sua realização está submetida às contingências do contexto sociocultural vivido. Realizar um aborto em um contexto ilegal significa entrar em um circuito clandestino cheio de desafios e obstáculos. A decisão, assim, não está apenas relacionada aos motivos que levaram ao aborto ou se teve a influência de terceiros. Para compreendê-la é preciso considerar como ocorreu todo o processo até chegar o momento em que se pode afirmar que existiu uma decisão, quando a interrupção da gravidez é realizada.
Referências
DINIZ, D; MEDEIROS, M. Itinerários e métodos do aborto ilegal em cinco capitais brasileiras. Ciência & Saúde Coletiva, v. 17, n. 7, 2012.
GOMES, R. Análise e interpretação de dados de pesquisa qualitativa. In: MINAYO, M. C. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2010.
MENEZES, G.M.S.; AQUINO, E.M. Pesquisa sobre o aborto no Brasil: avanços e desafios para o campo da saúde coletiva. Cadernos de Saúde Pública, n.25 (Sup. 2), 2009.

local do evento

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