Clique para visualizar os Anais!



Certificados disponíveis. Clique para acessar a área de impressão!

Associe-se aqui!

Grupos Temáticos

29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-16C - GT 16 - Violências e Aborto

30830 - VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES RURAIS NA PERSPECTIVA DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE
KATIÊ PAULA CAUMO - UNOCHAPECÓ, LUCIMARE FERRAZ - UNOCHAPECÓ, REGINA YOSHIE MATSUE - UNIFSP


A violência contra a mulher é um fenômeno complexo e multifatorial, pautado em questões de gênero e hierarquia de poder, relacionada à condição de desigualdade da mulher em relação ao homem. Alguns autores destacam que a atenção às mulheres em situação de violência tem se organizado de maneira fracionada e pontual, além de que alguns serviços não estão preparados para atendê-las de maneira integral, principalmente quando se trata de mulheres rurais em situação de violência. Essas mulheres estão mais vulneráveis à violência, dado o contexto adverso e de exclusão que se intensifica justamente por estarem situadas em territórios distantes dos grandes centros e, dos recursos sociais, políticos e comunitários que poderiam promover maior proteção. Além disso, as hierarquias familiares e sociais no meio rural são sustentadas pela cultura do patriarcado, sistema que cria, justifica e legitima a opressão e exploração dessas mulheres. Com isso, a violência adquire formas complexas e múltiplas e se manifestam nas relações cotidianas, ao passo que as mesmas são naturalizadas e impressas na vida dessas mulheres. Em uma busca nas bibliotecas cientificas virtuais (SciELO e BVS), utilizando os descritores “violência”, “mulher”, “rural” e “saúde” verificou-se um número inexpressivo de publicações sobre a temática. Tendo em vista a escassez de estudos sobre o tema, esta pesquisa visa compreender como os profissionais da saúde lidam com casos de violência contra a mulher rural. Este estudo foi realizado a partir de uma etnografia, e é o recorte de uma pesquisa de mestrado do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Comunitária da Região de Chapecó/SC – Unochapecó. A etnografia não é somente definida pelas técnicas que emprega como observação participante e entrevistas, mas por um tipo particular de esforço intelectual que se descreve como uma descrição densa. O palco etnográfico para a realização desta pesquisa foi o Distrito Marechal Bormann do município de Chapecó, Santa Catarina. O trabalho de campo teve duração de seis meses compreendidos entre setembro de 2018 a março de 2019. Nesse período, por meio de um com convívio semanal com a equipe da estratégia da saúde da família – ESF houve uma imersão no campo de pesquisa através de conversas, observações, escutas atentas, e pela realização de entrevistas e grupos focais. Três etapas foram realizadas para esse processo: a primeira constitui-se de uma pré-análise dos dados. A segunda etapa configura-se pela leitura panorâmica das anotações feitas durante a coleta de dados. A terceira etapa foi o processo mais denso, constituído pelo esclarecimento das categorias que emergiram da análise do material. Selecionamos três categorias principais para análise: 1) “A violência contra a mulher não é problema da saúde” – A invisibilidade da violência contra a mulher no setor da saúde; 2) “Eu acho que essas mulheres gostam de apanhar” – A complexidade da violência contra a mulher; 3) “Eu já fui perseguida pelo marido dela” – A exposição dos profissionais frente à violência contra a mulher. Verificou-se que as práticas de saúde somente reconhecem a violência que resulta em agravo físico. Esses dados atestam e reforçam a condição velada e a ideia do olhar cristalizado sobre esses eventos no campo das práticas em saúde, principalmente quando se trata das situações de violência contra a mulher. Corroborando com essas informações os profissionais que participaram da pesquisa declaram: “A gente não consegue tratar mais que um hematoma nesses casos de violência”. “Nós até percebemos que elas estão em situação de violência, mas o setor da saúde trata a causa, os outros desdobramentos são com o CRAS” (médico). Com relação à segunda categoria, podemos perceber que as questões socioculturais não são levadas em consideração pelos profissionais, tal visão fortalece a individualização dos processos de saúde e de doença e a responsabilização da mulher em situação de violência por suas escolhas e oportunidades. Como foi possível observar isso na fala da agente comunitária: “Se elas não fazem nada pra sair dessa condição, o que a gente que é do setor da saúde vai fazer?” (ACS). Além disso, o setor de saúde tem sido apontado como um espaço particularmente exposto à violência por estar localizado em regiões periféricas, realizar visitas domiciliares, etc. Assim, a exposição à violência no trabalho nos serviços de atenção primária se torna um obstáculo para a consolidação da ESF e dos princípios do SUS. Conclui-se que é necessário possibilitar discussões sobre a violência contra a mulher no âmbito dos serviços da saúde e viabilizar alternativas de enfrentamentos em relação às mulheres rurais em situação de violência. Para isso, é preciso propiciar espaços para a reflexão sobre a atuação dos profissionais, além de fornecer capacitações sobre essa temática, e inserir nos currículos da área da saúde, temáticas transversais que ampliem a perspectiva sobre o cuidado em saúde.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

Campus I - Lot. Cidade Universitaria, João Pessoa - PB, 58051-900